Pesquisadores fazem transfusão de sangue entre espécies com sucesso
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |

Buscando aumentar as reservas dos bancos de sangue, pesquisadores da Universidade de Tecnologia do Sul da China desenvolvem um novo método que permite transfusões sanguíneas entre espécies. Durante os testes com a pioneira xenotransfusão, roedores receberam o sangue humano, onde as células foram revestidas (ou "camufladas") com minúsculas "peças" de silício. Esta estratégia do campo da nanotecnologia impediu a rejeição do sangue doado e efeitos colaterais.
"A tecnologia de modificação sanguínea projetada neste estudo é simples, confiável e facilmente escalável, com excelente biocompatibilidade e tem o potencial de desencadear uma revolução nas aplicações clínicas futuras", apostam os autores, no estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
A pesquisa aproxima a ciência da criação do desejado "sangue universal". Quando for seguro, este produto poderá ser usado por qualquer indivíduo em caso de necessidade, independentemente das características das células sanguíneas do doador, algo que deve salvar milhões de vidas.
Transfusão de sangue entre espécies
Segundo os autores, os glóbulos vermelhos (hemácias) encapados pelas nanopartículas atuam da mesma forma que os glóbulos vermelhos do próprio animal. Isso porque o revestimento cobre as proteínas da superfície dessas células, que são usadas para o organismo reconhecer os tipos sanguíneos. Sem a identificação, as células são aceitas e não há rejeição.
Nos testes com roedores, o sangue doado escapou da resposta imune e conseguiu transportar de forma adequada oxigênio, cumprindo a sua principal função. Outro ponto interessante é que as células sanguíneas melhoradas também podem ser armazenadas por longos períodos, como um estoque para emergências.
"O método apresentado oferece uma abordagem direta, eficiente e econômica para o desenvolvimento de sangue universal", defende a equipe de pesquisa
Desafios na doação de sangue
A escassez de sangue para transfusões é um problema comum em muitos países. Isso porque, além de encontrar doadores interessados, é preciso respeitar inúmeros protocolos para aumentar a segurança em relação ao sangue doado. Por exemplo, pessoas que fizeram tatuagens precisam ficar pelo menos 6 meses sem doar. Quem pesa menos de 50 kg ou quem já teve hepatite não pode doar.
Nesse cenário, é comum que bancos de sangue operem, às vezes, em níveis críticos, especialmente quando não é época de campanha de doação. Olhando para os estoques da Fundação Pró-Sangue, um dos maiores hemocentros da cidade de São Paulo, os estoques estão críticos para os tipos O+, O- e B-.
A situação pode impactar o tratamento de pacientes e apenas ressalta a importância de novos estudos, como a promissora pesquisa chinesa sobre transfusão entre espécies diferentes, através da nanotecnologia.
"A transfusão [de sangue] por xenotransfusão pode garantir a utilização direta de recursos sanguíneos entre espécies e aliviar muito a situação em que há recursos sanguíneos insuficientes", complementam os pesquisadores chineses. No entanto, ainda há um longo caminho para a validação da tecnologia para o inverso ser testado: transfusão de sangue de roedores para humanos.
Fonte: PNAS, Pró-Sangue