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Por que temos tipos sanguíneos diferentes?

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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ktsimage/Envato
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Por que temos tipos sanguíneos diferentes? Esse fator é importante na hora de fazer transfusões e outros procedimentos médicos, mas pouco se sabe acerca do que faz a diferença existir. Isto é, não há uma certeza, mas os dados sugerem fortemente que uma doença seja o fator mais importante para essa diferenciação: a malária.

Temos quatro grupos principais de sangue: A, B, AB e O. Eles são definidos a partir do tipo de antígeno presente na superfície dos glóbulos vermelhos: o tipo A tem o antígeno A, o B tem o antígeno B, o AB tem ambos e o O não tem nenhum. E isso tem tudo a ver com a maneira com a qual a malária afeta o nosso corpo.

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Escapando de doenças

A malária é uma doença consideravelmente mortal: 627.000 pessoas faleceram em decorrência dela só em 2020. Os carreadores do parasita que causa a condição, ou seja, os glóbulos vermelhos infectados, se empilham nas veias pequenas do corpo, bloqueando a passagem de oxigênio, que é carregado até o cérebro.

Em 2007, um estudo publicado na revista PNAS descobriu que pessoas com sangue tipo O tem 66% menos chances de desenvolver malária severa do que pessoas com outros tipos sanguíneos. Isso ocorre, em partes, porque o parasita da malária faz os glóbulos vermelhos expressarem uma proteína chamada RIFIN, que age como uma cola e faz os glóbulos não infectados se amontoarem em volta dos infectados.

Embora a RIFIN se grude bem à superfície de glóbulos vermelhos no sangue tipo A, a ligação é fraca em glóbulos do sangue tipo O, segundo achados de um estudo de 2015 da Nature Medicine. E não é só isso: há 15 outros tipos de antígeno na superfície de glóbulos vermelhos, como os do grupo Duffy. Quem não os tem é resistente contra os dois principais parasitas da malária, o que é comum na África sub-saariana, mas essa negatividade é bem rara no restante do mundo.

Há bastante evidência de populações terem mais sangue tipo O em áreas propensas à malária, mas é menos clara a diferenciação entre os tipos sanguíneos A, AB e B. Embora pessoas com sangue O tenham chances maiores de desenvolver cólera, peste bubônica, tuberculose e caxumba e pessoas com sangue AB tenham mais chances de ter varíola e infecções por E. coli e salmonela, a associação não é forte o suficiente para explicar a diferença entre os tipos sanguíneos.

Também não é claro o porquê de algumas pessoas terem a proteína rhesus (Rh) na superfície dos glóbulos vermelhos, o que as torna Rh positivo: cerca de 15% dos caucasianos, 8% dos negros e 1% dos asiáticos não possuem a proteína, sendo Rh negativo (indicado por + ou - no tipo sanguíneo). Estas últimas tem risco da doença de rhesus, quando os anticorpos de uma pessoa grávida atacam os glóbulos vermelhos do bebê.

Fora esse detalhe, não há vantagens ou desvantagens no Rh negativo, então a conclusão é que o benefício tenha existido em um passado evolutivo e desapareceu nos tempos atuais, ou é uma condição puramente aleatória. Como apenas a malária indica vantagens em ter sangue do tipo O, o mistério continua intrigando cientistas — que, mesmo assim, não desanimam, com mais pesquisas sobre o tema em vista.

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Fonte: CDC, PNAS, Nature Microbiology, Nature Medicine, Malaria Atlas, Pubmed 1, 2