Publicidade
Economize: canal oficial do CT Ofertas no WhatsApp Entrar

Paciente de Genebra é o sexto a ser curado do HIV

Por| Editado por Luciana Zaramela | 20 de Julho de 2023 às 12h35

Link copiado!

National Cancer Institute/Unsplash
National Cancer Institute/Unsplash

Pela sexta vez no mundo, um paciente é “curado” da infecção pelo HIV (vírus da imunodeficiência humana), segundo cientistas do Instituto Pasteur, na França, e do Hospital de Genebra, na Suíça. O homem convivia com o vírus da Aids desde os anos 1990, mas passou, em 2018, por um transplante de medula óssea e de células-tronco para tratar um quadro de leucemia (câncer no sangue). Este foi o procedimento que teria feito a doença sexualmente transmissível entrar em remissão e permitir que o indivíduo não precise mais tomar antirretrovirais.

Embora seja usado o termo cura para se referir ao paciente de Genebra, a expressão não é tão precisa. O homem está há mais de 20 meses sem tomar nenhum remédio para o controle do HIV, enquanto segue indetectável. É um caso oficial de remissão a longo prazo. Ainda é possível que, oportunamente, a infecção retorne, mas também há uma possibilidade disso nunca mais acontecer.

Casos como o da cura do HIV são bastante raros na literatura médica, mesmo que já se tenham passado 40 anos da descoberta da doença, nos anos 1980. Por ano, o vírus da Aids ainda mata cerca de 600 mil pessoas. Em regiões do continente africano, os pacientes com a infecção enfrentam um dilema extra: uma epidemia mortal causada por fungos que atacam o cérebro.

Continua após a publicidade

Entenda como o paciente foi curado do HIV

O caso de cura do HIV no paciente de Genebra ainda não foi publicado oficialmente em nenhuma revista científica, mas será apresentado, pela primeira vez, na próxima segunda-feira (24), durante a 26ª Conferência Internacional de AIDS, que acontece na Austrália.

Adiantando a participação no evento, os cientistas responsáveis pelo caso, Alexandra Calmy e Asier Sáez- Cirión, compartilharam alguns detalhes do tratamento extremamente raro e que, no momento, não pode ser replicado em larga escala — esta ainda não é a cura universal do HIV.

Continua após a publicidade

Conforme detalham, o paciente foi diagnosticado com uma forma agressiva de leucemia em 2018, quando passou por quimioterapia. Para se curar do câncer, ainda foi necessário recorrer a um transplante de medula óssea.

Desde o primeiro mês, as análises revelaram que as células sanguíneas do paciente eram inteiramente derivadas das células-tronco transplantadas. Também não era mais possível detectar o HIV nas amostras de sangue. Até que, no final de novembro de 2021, ele parou por completo o tratamento contra o vírus da Aids. Neste instante, foi considerado em remissão para o câncer e para o HIV.

Na história do paciente de Genebra, há um fato surpreendente que o distingue dos outros cinco pacientes já curados ao longo da história: a medula óssea foi doada de uma paciente que não carregava a mutação específica do gene CCR5, que confere resistência natural ao HIV. Este detalhe faz o caso ser ainda mais surpreendente, como veremos a seguir.

Casos históricos de cura do HIV

Continua após a publicidade

Até então, eram conhecidos pela ciência os cinco seguintes casos de cura pelo HIV:

Em comum, todos passaram por um transplante de medula óssea, durante o tratamento do câncer. Outra similaridade é que todos os doadores carregavam uma rara mutação genética, a CCR5-delta 32, que impede o HIV de entrar nas células do sistema imunológico. Na população, quem tem essa mutação, é imune ao vírus.

O interessante é que, no caso mais recente, a doação de medula óssea veio de alguém que não tinha a mutação no gene CCR5. Neste ponto, é surpreendente o fato do paciente de Genebra ter se curado da infecção.

Continua após a publicidade

“A duração da indetectabilidade [do HIV] após a interrupção do tratamento — ​​20 meses — não tem precedentes em pessoas que receberam um transplante de medula com essa ausência de mutação”, afirma Sáez-Cirión, em nota, sobre o ineditismo. O fato ainda deve ser melhor estudado, já que pode representar uma nova forma de cura.

Estamos perto da cura universal do HIV?

Hoje, o transplante de medula óssea não pode ser prescrito como uma terapia em massa para controlar os casos de HIV. Isso porque o procedimento é de alto risco e, por um período, a pessoa fica ainda mais suscetível a qualquer infecção. Também há risco de rejeição do transplante.

Continua após a publicidade

"Embora este protocolo não seja aplicável em larga escala devido à sua agressividade, este novo caso fornece insights inesperados sobre os mecanismos de eliminação e controle dos reservatórios virais, que vão desempenhar um papel fundamental na elaboração de tratamentos para o HIV", comenta Sáez-Cirión.

"Através desta situação única, estamos explorando novos caminhos na esperança de que a remissão ou mesmo a cura do HIV, no futuro, não seja mais uma ocorrência única”, completa Calmy.

Fonte: Instituto Pasteur e Hospital de Genebra