O que sabemos sobre a nova variante do coronavírus descoberta em Manaus
Por Fidel Forato |
Nos últimos dias, pesquisadores estão alertando para uma nova variante do coronavírus SARS-CoV-2, descoberta na capital do Amazonas, Manaus, que, segundo estudo da Universidade de São Paulo (USP), tem mais potencial de transmissão e reinfecção. Nesta semana, o Ministério da Saúde brasileiro já notificou outros países sobre a cepa do vírus da COVID-19 com mutações, denominada de B.1.1.28.
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Este é o protocolo padrão da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a identificação de novas cepas do coronavírus, como a de Manaus. No aviso brasileiro, os 196 países signatários do Regulamento Sanitário Internacional (RSI) foram notificados sobre a descoberta. "Seu objetivo [do RSI] é ajudar a comunidade internacional a prevenir e responder a graves riscos de saúde pública que têm o potencial de atravessar fronteiras e ameaçar pessoas em todo o mundo", declarou o ministério, em nota.
Inclusive, essa descoberta é motivo de preocupação internacional. A partir desta sexta-feira (15), o Reino Unido proibiu a entrada de pessoas vindas do Brasil e de outros 14 países para impedir a transmissão da nova variante do coronavírus. A decisão foi comentada pelo secretário de Transportes britânico, Grant Shapps, nas redes sociais.
Além dos problemas internacionais causados pela variante, o estado do Amazonas enfrenta o colapso do sistema de saúde em decorrência da segunda onda da COVID-19. Na quinta-feira (14), hospitais não tinham mais estoque de oxigênio para o tratamento de pacientes internados com a COVID-19. A situação não tem, necessariamente, ligação com a mutação.
Variante do coronavírus em Manaus é mais perigosa?
A nova linhagem foi identificada, em dezembro do ano passado, após quatro viajantes contaminados desembarcarem em aeroporto no Japão, vindos de Manaus. Após análises nacionais, pesquisadores da USP apontam que a variante carrega uma série de mutações genéticas com potencial de aumentar tanto a transmissão quanto a reinfecção pela COVID-19.
Segundo preprint — artigo ainda não revisado por outros pesquisadores — publicado no site Virological.Org, os pesquisadores também verificaram que essa cepa estava presente em 42% dos pacientes contaminados com o coronavírus e testados na capital amazonense. “A nova linhagem, denominada P.1, foi identificada em 13 das 31 das amostras positivas para o teste de RT-PCR coletadas entre 15 e 23 de dezembro de 2020, ou seja, em 42% dos pacientes testados”, explica Ingra Morales Claro, pesquisadora do IMT e da FMUSP, uma das autoras do artigo.
Por si só, mutações em vírus são frequentes e não são, necessariamente, perigosas. "Sabemos que o SARS-CoV-2 tem uma média de duas a três mutações por mês. Portanto, desde o primeiro caso identificado em Wuhan, na China, no final de 2019, o genoma do vírus apresenta-se diferente após quase um ano dessa identificação”, comenta a pesquisadora para o Jornal da USP.
No entanto, “a nova linhagem, descendente da linhagem B.1.1.28, contém uma composição única de mutações definidoras de linhagem, incluindo várias mutações de importância biológica conhecida, como E484K, K417T e N501Y”, explica a autora do artigo. Vale lembrar que a última mutação citada (N501Y) também foi identificada nas novas variantes do Reino Unido e da África do Sul. Ambas já foram definidas com maior potencial de infecção.
Também existe uma hipótese de que essa variante de Manaus possa aumentar as chances de reinfecção, já que a capital do Amazonas foi severamente afetada pela primeira onda da COVID-19 e a situação volta a se agravar neste segundo momento. “É essencial investigar rapidamente se há um aumento na taxa de reinfecção em pessoas previamente expostas”, aponta Claro.
Nesse cenário, o Ministério da Saúde confirmou, nesta sexta-feira (15), um caso de reinfecção pela nova variante do coronavírus no estado do Amazonas. Identificado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o caso de reinfecção é de uma mulher, de 29 anos, que até o momento apresenta sintomas leves da COVID-19.
Quanto ao estudo da USP sobre a mutação, ele foi resultado de um estudo feito por pesquisadores do Centro Brasil-Reino Unido de Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (grupo Cadde), que conta com a participação do Instituto de Medicina Tropical (IMT) e da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
Para conferir o artigo completo sobre a análise, publicado no site Virological.Org, clique aqui.
Fonte: Folha de S. Paulo, G1 e Jornal da USP