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O que é Síndrome de Burnout? O lado obscuro da tecnologia

Por| Editado por Luciana Zaramela | 30 de Outubro de 2019 às 17h40

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Pixabay
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Você sabe o que é Síndrome de Burnout? Basicamente, trata-se de um distúrbio psíquico caracterizado pelo estado de tensão emocional e estresse provocados por condições de trabalho desgastantes. Esse cansaço excessivo é associado a uma forte perda de interesse e engajamento nas atividades de trabalho, e a percepção grande de esforço é somada a uma gama de sentimentos negativos, como frustração, depressão ou a ausência de significado associado ao trabalho. 

Com a ascensão da tecnologia, tanto a vida pessoal quanto a profissional ficaram sujeitas a muitas facilidades. Por outro lado, pode representar um perigoso sinônimo de pressão emocional e sobrecarga.

O que é Síndrome de Burnout, segundo especialistas

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Ana Carolina Souza, neurocientista da UFRJ e sócia da Nêmesis — empresa que oferece assessoria e educação corporativa na área de Neurociência Organizacional — descreve a síndrome de burnout como uma desconexão entre aspectos importantes como o volume de trabalho, a percepção de controle do indivíduo sobre a situação, seu reconhecimento e as relações com as pessoas (inclusive os gestores).

Ana afirma que, como toda resposta de estresse, essa síndrome tem características complexas, então acaba sendo importante um acompanhamento profissional na hora de fazer um diagnóstico.

A neurocientista destaca alguns sintomas muito comuns, como a sensação de esgotamento físico e mental, a perda de interesse nas atividades de trabalho, sentimentos negativos associados ao ambiente de trabalho, a falta de motivação para ir trabalhar (muitas vezes associada ao absenteísmo), maior irritabilidade, depressão, ansiedade, baixa autoestima, dificuldade de concentração, pessimismo, dentre outros.

"Alguns sintomas também podem ser físicos, como dores de cabeça constantes, enxaqueca, fadiga, palpitação, pressão alta, tensão muscular, insônia, problemas gastrintestinais, gripes e resfriados recorrentes", explica a profissional.
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Segundo a neurocientista, tão importante quanto o entendimento dos sintomas associados ao quadro em si é o conhecimento de quais são as condições que favorecem o Burnout, principalmente por parte das empresas e dos gestores.

O início dos sintomas pode se dar por um acúmulo de tarefas, um excesso de responsabilidades e um nível de exigência/pressão exagerado, associado à uma alta demanda de trabalho. Esse cenário tende a favorecer a sensação de impotência e inclusive a falta de perspectiva, que junto com a sobrecarga de trabalho permitem o quadro de Burnout.

Por sua vez, para Livia Marques, psicóloga organizacional e clínica, com foco em Terapia Cognitiva Comportamental, o autocuidado é a palavra-chave na hora de prevenir a doença.

“Identificar seus limites é de extrema importância nesses momentos. Pois em alguns casos a síndrome de burnout ainda pode ter um gatilho agravante: o assédio moral e/ou sexual. O que pode ser prejudicial é a falta de limites do psicológico e do físico. Com isso, sim, é necessário ter cautela. E quando perceber que passou do limite, é bom parar e analisar a situação em que se encontra. Que tipo de adoecimento a pessoa vive na circunstância”.
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Síndrome de Burnout x Tecnologia

De acordo com Wagner Siqueira, conselheiro federal do Conselho Regional de Administração do Rio de Janeiro (CRA-RJ) e diretor-geral da Universidade Corporativa do Administrador, o meio digital vem piorando a síndrome de burnout, pois profissionais que estão muito comprometidos com a tecnologia tendem cada vez mais a fazer um trabalho solitário e individual.

O administrador defende que o ser humano necessita da interação social, e que profissionais da área da tecnologia tendem a ter um agravamento de suas situações em termos de Burnout, justamente porque são os mais propensos a não interagir com outras pessoas.

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“Relações humanas fugazes e descartáveis não conseguem construir um clima de confiança e lealdade, de compromisso mútuo, de engajamento e de solidariedade colaborativa. É no cotidiano da execução das tarefas que as relações informais entre pessoas solidificam os laços da confiança recíproca. O culto ao curto prazo praticado pelas organizações impede o amadurecimento de laços sociais que sustentem a construção de um ambiente de trabalho propício a efetiva participação”, observa o administrador.

A psicóloga clínica Livia Marques compartilha do mesmo ponto de vista: “O uso sem limites e moderação da tecnologia pode agravar qualquer caso. Pois nas redes não se aceita uma vida que não seja feliz e bela, seja ela no âmbito pessoal, profissional ou amoroso. Isso gera mais cobrança e comparações — que são prejudiciais”.

“A tecnologia certamente traz muitos benefícios para o nosso dia-a-dia, porém é preciso aprender a utilizá-la de forma estratégica. A diversidade de canais de comunicação disponíveis hoje pode levar a uma sensação de sobrecarga sobre o colaborador. Isso pode gerar dificuldade de alinhamento de prioridades, excesso de cobrança, erros de comunicação, dentre outros problemas”, complementa Ana Carolina.

Além disso, a psicóloga também aponta que a praticidade da tecnologia, associada a uma pressão cada vez maior por tempo, também faz com que muitas vezes críticas e feedbacks sejam passados através de mensagens, o que pode gerar sentimentos negativos exagerados por parte de quem recebe a mensagem e, ainda, a percepção de maior distanciamento e frieza por parte dos gestores ou mesmo da empresa.

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Nessa mesma linha, a profissional acrescenta que a tecnologia é importante por permitir cada vez mais autonomia, mas ao mesmo tempo, quando não sabemos organizar as atividades profissionais, também pode gerar a sensação de que estamos trabalhando 24 horas por dia, ou mesmo favorecer culturas que consideram que as pessoas devem estar disponíveis e acessíveis para o trabalho constantemente, uma vez que podem responder e-mails e mensagens facilmente do seu celular.

“Isso traz um excesso de carga horária, mesmo quando a pessoa está fora do escritório, o que associado às cobranças e pressão pode piorar ou favorecer um quadro de Burnout”, explica.

A consultora de marketing Claudia Campos foi diagnosticada com a Síndrome de Burnout em março de 2017, enquanto trabalhava em uma multinacional. Claudia conta que, por trabalhar com a área de marketing, sempre foi ligada às novas tecnologias e inclusive às informações, mas nesse período, não conseguia chegar perto de um notebook ou celular.

“O excesso de informações trazia crises de pânico. Redes sociais, aplicativos de mensagens e demais meios de comunicação aceleravam ainda mais uma mente já esgotada e isso era desesperador”, relata.
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Como as empresas lidam (ou deveriam lidar)?

O controle do estresse e o exercício saudável da liderança são aspectos fundamentais para ajudar a evitar que tais quadros ocorram, já que uma vez instaurado, o Burnout traz prejuízos importantes para saúde do indivíduo e impacta diretamente a produtividade das equipes, segundo a psicóloga Ana Carolina. Ela ainda ressalta que, para evitar que isso ocorra, é saudável que os gestores tenham conhecimento do fenômeno e estejam constantemente atentos aos seus colaboradores como uma forma de prevenção.

Ao perceber que algum dos colaboradores pode estar sob grande pressão, sobrecarregado, ou desenvolvendo uma possível frustração associada ao trabalho, é importante buscar formas de reverter o cenário e assim evitar um desgaste maior, e possível desenvolvimento de Burnout.

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“Nesse contexto, o exercício da empatia pode ser uma forma muito eficiente de leitura dos colaboradores, permitindo uma maior sensibilidade na hora de direcionar suas atividades e dar retorno sobre seu desempenho. A empatia é uma habilidade fundamental para uma comunicação e liderança mais eficientes e existem diferentes formas de exercitar a empatia, uma delas seria dar atenção às pessoas”, pontua.

“As empresas tendem a negar e não reconhecer essa realidade, justificando ou estigmatizando essas doenças psicológicas gravíssimas que afetam o ser humano no mundo moderno”, observa Wagner. E o caso de Claudia só enfatiza como as empresas não se preocupam com os funcionários como deveriam:

“A empresa foi meu grande algoz, infelizmente! O quadro foi desenvolvido devido a um ambiente insalubre, repleto de machismo e assédio moral. No entanto, quando tudo aconteceu, não tive nenhum respaldo e me tornei um “problema” do qual precisavam “livrar-se”. É nesse momento que nos tornamos apenas um número que traz, ou não, retorno financeiro para a empresa. Depois de 16 anos de êxito e premiações, virei a pior funcionária e um peso financeiro”, conta a consultora.

Claudia ainda acrescenta que, quando a empresa percebeu que ela não teria condições de voltar ao trabalho num prazo que fosse conveniente, suspendeu seu salário, e afirmou não ser uma doença trabalhista. “Ao reclamar, me mandaram embora. Naquele momento eu pude sentir na pele o quão desumano é passar pelo preconceito e por essa difamação pessoal e profissional. Foi então que eu tive ideias suicidas, pois não tinha resguardo devido para o meu tratamento”.

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A recuperação de Claudia aconteceu depois de dois anos turbulentos. “Só em 2019 eu consegui voltar à vida. No início do ano comecei a me dedicar ao terceiro setor e aos poucos retomei minha confiança no mundo profissional, voltei a ter mais propósito naquilo que faço. Se estou curada? É uma pergunta complexa, mas posso afirmar que nunca mais serei a mesma. Os traumas ficam e a forma de ver o mundo é diferente”, diz a consultora.

Ela acredita que uma das grandes lições que teve em meio a tudo isso é que todos devem ficar atentos aos próprios sinais, que muitas vezes são físicos, cercados por diversas mudanças de humor, e recomenda — por experiência própria — que, antes de qualquer sintoma mais grave, o ideal é já procurar ajuda profissional e orientação. “Saiba que você não está sozinho(a) e pode encontrar ajuda. Pesquise sobre todos os seus sintomas, cada um pode se apresentar de uma forma. E identificar alguns pode ajudar a procurar novos caminhos. Cerque-se de seus direitos trabalhistas. A culpa não é da vítima!”, finaliza.