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Nova variante do coronavírus se mostra resistente a vacinas (em laboratório)

Por| Editado por Luciana Zaramela | 27 de Outubro de 2021 às 17h20

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Wirestock/Freepik
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Para evitar uma nova onda da covid-19, governos e cientistas monitoram constantemente as mutações do coronavírus SARS-CoV-2. Descoberta pela primeira vez na Tanzânia, em fevereiro, a variante A.30 — que ainda não foi classificada com uma letra do alfabeto grego — foi relatada também em Angola e na Suécia. Estudos iniciais sugerem que a cepa pode escapar dos anticorpos induzidas pelas vacinas.

Publicado na revista científica Nature Molecular and Cellular Immunology, um estudo alemão identificou que a variante A.30 pode apresentar uma ameaça para as proteções desencadeadas pelos imunizantes em uso. Isso porque a cepa carrega múltiplas mutações na proteína S (spike) da membrana viral.

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É através dessa proteína que o vírus invade as células humanas saudáveis. Por outro lado, é este o ponto alvo das vacinas usadas contra a covid-19, em todo o mundo. Caso mutações significativas se acumulem no local e mudem a sua estrutura, os anticorpos podem ter efeitos reduzidos.

Segundo os cientistas da Universidade de Göttingen, "três mutações [da variante] estão localizadas dentro do RBD, que se liga ao receptor celular ACE2 e constitui o principal alvo dos anticorpos neutralizantes [produzidos pelas vacinas]". Inclusive, farmacêuticas já se prepararam para cenário em que as vacinas atuais perderão a eficácia, o que ainda não ocorreu.

Nova variante ainda não entrou no radar da OMS

Atualmente, existem poucos casos sequenciados da variante A.30 disponíveis nos bancos mundiais de sequências do vírus da covid-19. Dessa forma, poucas pesquisas foram conduzidas para entender o comportamento e a estrutura da nova variante. As sequências conhecidas foram coletadas na Suécia e em Angola, por exemplo.

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Por causa disso, a variante A.30 ainda não entrou no radar da Organização Mundial da Saúde (OMS) e nem recebeu uma letra do alfabeto grego para facilitar a sua comunicação. Uma das possíveis justificativas é a sua baixa prevalência, já que as investigações priorizam cepas responsáveis pelo menos por surtos locais.

Como foram feitos os testes com a variante da Tanzânia?

Para estudar a variante A.30, os pesquisadores da Alemanha usaram diferentes tipos de células humanas e verificaram como estas poderiam ser impactadas pela nova cepa. Em seguida, observaram as reações dos anticorpos neutralizantes, induzidos por vacinas, quando entram em contato com o vírus. Os anticorpos usados foram coletados de pessoas que receberam a vacina Covishield (AstraZeneca/Oxford) e a ComiRNAty (Pfizer/BioNTech).

Em comparação com as variantes Beta (B.1.351) e a Eta (B.1.525), a A.30 conseguiu invadir as células saudáveis de forma melhorada, como células de rim, fígado e pulmão. No estudo in vitro, ela também demonstrou ser resistente a uma terapia de anticorpo monoclonal (anticorpos sintéticos), o bamlanivimabe. Por outro lado, ela se revelou vulnerável a uma terapia combinada de anticorpos monoclonais, que une bamlanivimabe com etesevimabe.

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Quando testada contra anticorpos induzidos pela vacina das vacinas da Pfizer/BioNTech e da AstraZeneca/Oxford, a variante A.30 foi mais resistente do que as outras variantes testadas, o que sugere uma eficácia reduzida das vacinas. Vale destacar, no entanto, que o experimento foi conduzido in vitro e o mesmo resultado pode não se repetir em estudos clínicos, ou seja, no organismo humano.

A partir dos resultados, a recomendação dos cientistas é que a variante A.30 deve ser monitorada próximos meses e os países que a identificarem devem priorizar medidas preventivas que interrompam qualquer surto.

Questão da distribuição das vacinas

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Além da vigilância ativa, é preciso ampliar a vacinação global contra a covid-19, já que menos casos significam menores possibilidades de mutação viral. Nesse sentido, esforços globais devem ser direcionados para os países de menor renda, onde o volume de vacinas ainda é insuficiente.

Segundo dados da plataforma Our World in Data, cerca 5,5% da população dos países africanos está com o esquema vacinal completo. No caso da Tanzânia, apenas 1,4% da população está completamente protegido contra a covid-19, o que aponta que o país está propício a enfrentar uma nova onda de casos.

Para conferir o estudo completo sobre a nova variante do coronavírus, publicada na revista científica Nature Molecular and Cellular Immunology, clique aqui.

Fonte: IFL Science e Our World in Data