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Com variantes em jogo, fabricantes se preparam para turbinar fórmulas de vacinas

Por| Editado por Luciana Zaramela | 26 de Outubro de 2021 às 17h26

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Felipecaparros/Envato Elements
Felipecaparros/Envato Elements

Como qualquer vírus, o SARS-CoV-2 está em constante evolução. Mais recententemente, a sublinhagem Delta Plus (A AY.4.2) desencadeou um novo surto da covid-19 na Rússia, onde a cobertura vacinal ainda está baixa. Outros países já notificaram casos desta cepa, mas, aparentemente, as vacinas disponíveis hoje em dia permanecem eficientes. No entanto, será que um dia os imunizantes perderão a capacidade protetora por causa de novas mutações e modificações genéticas do coronavírus?

Até o momento, os indicativos apontam que as variantes podem ser combatidas pelas vacinas disponíveis, mesmo que, em alguns casos, a eficácia seja um pouco reduzida. Vale lembrar que todos os imunizantes em uso —  inclusive os adotados nas doses de reforço —  foram produzidos a partir da cepa original do coronavírus, descoberta em Wuhan, na China. 

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“Não há realmente a necessidade, neste momento, de fazer uma nova vacina que seja mais eficaz, porque parece que as antigas funcionam muito bem [contra] a variante Delta”, já disse a pesquisadora Kathryn Edwards, da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos. Por ora, esse é o consenso dominante entre os cientistas e as farmacêuticas.

Plano B: cenário de risco da covid-19

Em junho, o presidente-executivo da Pfizer, Albert Bourla, prometeu que, caso surgisse a necessidade de uma nova vacina contra a covid-19, os pesquisadores responsáveis poderiam prepará-la em 100 dias. Este seria um tempo recorde para o desenvolvimento de imunizantes e é somente possível pela facilidade de edição das vacinas de mRNA (RNA mensageiro). Nestes casos, os cientistas precisariam gerar uma nova sequência genética que protegeria contra a cepa emergente. Tal sequência precisa ser encapsulada em uma substância gordurosa, como uma membrana lipídica.

Em seguida, outras tecnologias de vacinas, como as de vetor viral, poderão ser lançadas, já que levam mais tempo no processo de fabricação. Isso porque são geradas inserindo a sequência genética chave em um vírus vetor inofensivo — na maioria dos casos, um adenovírus. Em seguida, é preciso cultivar esse adenovírus editado em grandes quantidades, purificar e depois envasar o imunizante.

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Agora, o que poderia ser essa necessidade? Muito provavelmente, a identificação de uma cepa do coronavírus que escape das proteções fornecidas pelas vacinas disponíveis. Por exemplo, isso seria possível com uma mutação significativa da proteína S (spike) da membrana viral, já que está é a base da maioria dos imunizantes. Sem este identificador, as fórmulas se tornariam ineficazes. 

Neste caso, o provável alarme para que o Plano B do combate à covid-19 entrasse em vigor seria tocado nos próprios hospitais. “Se começarmos a ver muitas pessoas que já foram vacinadas indo para o hospital, então temos um problema”, explica Matthew Hepburn, consultor da casa Branca. "Mas, agora, não estamos nem perto disso", adianta.

Ensaios clínicos com as variantes estão em andamento

Para se adiantar quanto a possíveis emergências da pandemia e melhorar a compreensão do vírus, as farmacêuticas já trabalham em diferentes ensaios clínicos contra as variantes conhecidas do coronavírus. Nesses casos, a ideia é combinar algumas variantes e desenvolver fórmulas "turbinadas". Afinal, elas foram feitas com outras cepas diferentes daquela encontra inicialmente em Wuhan.

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Por exemplo, a Pfizer e a BioNTech testam uma fórmula específica da vacina, desenvolvida para combater a variante Beta (B.1.351), em 930 voluntários. Além disso, em agosto, as empresas começaram um teste de uma vacina multivalente que tem como alvo tanto a variante Delta (B.1.671.2) quanto a Alfa (B.1.1.7). Em paralelo, a Moderna e a AstraZeneca também estão recrutando participantes para testar novas vacinas contra variantes específicas do coronavírus.

“Não estamos fazendo isso porque precisamos de uma nova vacina para essas cepas”, explicou  Philip Dormitzer, vice-presidente e diretor científico da Pfizer. De acordo com o porta-voz da farmacêutica, “queremos praticar todos os aspectos da execução de uma mudança de cepa — a pesquisa pré-clínica, a fabricação, os testes clínicos e as submissões regulatórias — porque, se virmos uma variante que realmente escape da imunidade da vacina, estaremos prontos".

Como fazer os testes?

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Para os pesquisadores, será um desafio determinar a verdadeira eficácia das vacinas contra as novas variantes. Isso porque, em muitos países, a vacinação contra a covid-19 avançou de tal forma que pode ser difícil encontrar voluntários que ainda não tenham recebido imunizante algum —  e que também estejam dispostos a se inscrever em um ensaio experimental.

Além disso, não seria ético o recrutamento de grupos de placebo para ensaios clínicos randomizados. Afinal, vacinas eficazes já estão disponíveis, mesmo que não de forma igualitária para todos os países. “Se não vamos fazer ensaios clínicos randomizados para eficácia, uma alternativa seria fazer estudos de imunogenicidade, além de estudos de eficácia do mundo real robustos e bem elaborados”, comenta Hepburn.

Para as vacinas de segunda geração, o Instituto Butantan adota este método nos testes clínicos da ButanVac. A ideia é comparar os resultados obtidos com a nova fórmula com os resultados conhecidos de outros imunizantes. “Vamos estudar as pessoas que vão receber, qual a resposta imunológica que essas pessoas desenvolvem e comparar isso com a resposta de outras vacinas já descritas", explicou o diretor do Butantan, Dimas Covas.

Foco na vacinação global

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Caso uma nova onda chegue na pandemia da covid-19 é bastante possível que as farmacêuticas e institutos de pesquisas estejam preparados para combater o desafio. Enquanto isso, o objetivo deve ser ampliar a vacinação global contra a covid-19, já que menos casos significam menores possibilidades de mutação viral.

Nesse sentido, esforços globais devem ser direcionados para os países de menor renda, onde o volume de vacinas ainda é insuficiente. Segundo dados da plataforma Our World in Data, apenas 5,5% da população dos países africanos está com o esquema vacinal completo.

No extremo oposto, alguns países, como os EUA, devem criar ou melhorar políticas públicas para estimular a vacinação local. Nesses casos, o problema não é falta de vacinas, mas o desinteresse e movimentos que buscam desacreditar a importância dessa proteção. Entre os norte-americanos, a porcentagem de pessoas com o esquema vacinal completo é de 56,7%, mas o número avança de maneira muito lenta.

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Fonte: Nature e Our World in Data