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Maio vermelho | Como a tecnologia pode ajudar na luta contra a hepatite?

Por| 20 de Maio de 2020 às 18h15

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Unsplash
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Em determinados meses, aproveita-se para focar na conscientização a respeito de uma doença específica. É o caso, por exemplo, do outubro rosa, em que a atenção é voltada ao câncer de mama, e do novembro azul, onde o foco da conscientização é o câncer de próstata. Assim como nesses respectivos meses, fizemos um especial do mês de maio, cuja campanha é a luta contra a hepatite. A ideia é entender como a tecnologia pode ajudar quando o assunto é combater a doença em questão, seja na detecção, no tratamento ou mesmo no acesso à informação.

De acordo com o panorama mais atual realizado pelo Ministério da Saúde, o Brasil registrou 40.198 casos novos de hepatites virais em 2017. O Boletim Epidemiológico 2018 do Ministério ainda informa que os casos da doença mais que dobraram em homens de 20 a 39 anos. De 1999 até 2017, 718.837 pessoas foram notificadas com hepatites virais. Os dados apontam que 1.083.000 pessoas tiveram contato com o vírus da hepatite, o que representa 0,71% da população. Assim, 60,7% delas, 657 mil, são elegíveis para tratamento, ou seja, têm vírus circulante no sangue. A maior concentração dos casos está na população com mais de 40 anos de idade.

Em relação à Hepatite A, os casos mais que dobraram em homens de 20 a 39 anos. São Paulo, por exemplo, registra crescimento expressivo: saiu de 155 em 2016 para 1.108 em 2017. Em grande parte, a doença é transmitida por via sexual em homens com idade 20 a 39 anos. Já em relação à Hepatite B, nos últimos 10 anos, foi apresentada pouca variação com leve tendência de queda nos últimos 4 anos. No entanto, a Hepatite B é a segunda causa de óbitos entre as hepatites virais: foram 477 em 2016, com direito a 13.482 casos registrados em 2017 e uma taxa de detecção de 6,5 casos por 100 mil habitantes.

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Mas antes de ligar a tecnologia à luta contra a doença, é preciso entender exatamente do que se trata a Hepatite, como uma pessoa contrai e, principalmente, qual o tratamento. Para isso, o Canaltech conversou com Paulo Bittencourt, médico especialista em Hepatologia, presidente atual do Instituto Brasileiro do Fígado (IBRAFIG) e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH) no biênio 2018-2019.

Questionado sobre o que é a hepatite e quais são os diferentes tipos, Paulo explica que trata-se de uma inflamação no fígado que se manifesta clinicamente por olhos amarelados (icterícia), urina cor de coca-cola (colúria), fraqueza e perda de apetite. Já os exames mostram elevação das enzimas do fígado (ALT e AST), com ou sem aumento da bilirrubina (uma substância amarelada encontrada na bile, que permanece no plasma sanguíneo até ser eliminada na urina. Quanto mais bilirrubina eliminada na urina, mais amarela ela se torna).

O hepatologista acrescenta que ela pode ser causada por vírus, álcool, alguns medicamentos e fitoterápicos, bem como por doenças autoimunes e metabólicas. As causas mais comuns são as virais, principalmente dos vírus A, B e C. "Alguns pacientes podem desenvolver formas graves com insuficiência hepática aguda grave caracterizada por icterícia, com evolução rápida para coma e coagulopatia requerendo muitas vezes transplante de fígado", explica o médico.

De acordo com o especialista, a Hepatite A e a Hepatite E são de transmissão fecal-oral através do consumo de água ou alimentos contaminados. A hepatite B pode ter transmissão vertical (da mãe para o bebê), sexual e parenteral (por uso de sangue e hemoderivados e compartilhamento de objetos perfuro-cortantes). Ele ainda explica que as hepatites B e C podem evoluir para cirrose e câncer de fígado. "A hepatite B é prevenível por vacinação, que atualmente é universal. Não existe vacina para hepatite C. Saneamento básico, consumo de água potável ou de alimentos bem lavados previne contra infecção pelo vírus A. Sexo seguro e hábito de evitar uso compartilhado de objetos perfuro-cortantes previne contra hepatites B e C", conta.

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Hepatite tem cura?

A Hepatite C tem cura com uso de medicamentos orais com poucos efeitos colaterais fornecidos pelo SUS, enquanto a Hepatite B tem controle com uso de drogas antivirais que inibem a replicação do vírus. "Temos no Brasil um pacto com a Organização Mundial de Saúde (OMS) para eliminar a hepatite C até 2030, além de reduzir a frequência de casos novos de hepatite B pela imunização universal", aponta o hepatologista.

Paulo revela que, para isso acontecer, é de suma importância que toda a população seja conscientizada sobre como se prevenir contra infecção pelo VHB e VHC. Isso inclui esclarecimentos sobre quando fazer rastreamento de cada uma destas doenças, e, principalmente, elucidar a importância do seu tratamento para reduzir sua morbimortalidade. Segundo o especialista, a mortalidade global atribuída a hepatites virais, preponderantemente por VHB e VHC, foi recentemente estimada em 1.340.000 óbitos/ano, sendo considerada atualmente como a 7ª principal causa de mortalidade global. E no Brasil, somente a cirrose por VHC foi considerada a 15ª principal causa de morte no país.

Tecnologia

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Mas aí chegamos à verdadeira questão dessa matéria: a tecnologia tem ajudado de alguma forma a detectar/tratar a hepatite? Segundo o especialista em hepatologia... sim! Acontece que a tecnologia, com o advento dos testes rápidos point-of-care (POC), revolucionou o diagnóstico das infecções pelos vírus das hepatites B (VHB) e C (VHC), permitindo rastreamento populacional das hepatites. Este deve ser feito para hepatite C em toda população brasileira com idade superior a 40 anos.

Paulo também ressalta que existem tecnologias para empregar amostras de saliva para testagem, além da tradicional amostra de sangue coletado na ponta de dedo, o que facilita a confirmação diagnóstica da infecção pelo VHC.

"É importante ressaltar que a linha de cuidado de hepatite C no Brasil é inteiramente custeada pelo SUS. Várias plataformas do Ministério da Saúde e sociedades de especialidade, como a Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH) também oferecem informações para a população e capacitação online para hepatites virais para profissionais de saúde, visando ampliação de acesso ao diagnóstico e tratamento a populações tradicionalmente desprivilegiadas — tais como pessoas privadas de liberdade ou em situação de rua, ribeirinhos e quilombolas", conta o especialista.

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Enquanto isso, métodos não invasivos laboratoriais ou por imagem POC também foram desenvolvidos para estadiamento de fibrose e diagnóstico de cirrose, substituindo a biópsia hepática e simplificando o manejo diagnóstico da maioria das pessoas com hepatites virais.

A USP tem sido uma das aliadas do Brasil na luta contra a hepatite, por exemplo. Em 2018, o pesquisador João Paulo de Campos da Costa, da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, criou um dispositivo eletrônico mais rápido, exato e barato, que revela em poucos minutos se a pessoa está com a doença. Nesse caso, para que o equipamento detecte se a pessoa contém esse anticorpo, a partir do sangue extraído são realizados procedimentos em laboratório até que uma gota do composto final seja pingada sobre um pequeno sensor eletroquímico que contém uma proteína do VHC.

De acordo com o pesquisador, em entrevista ao Jornal da USP, o equipamento tem mil vezes mais sensibilidade para detectar o anti-VHC se comparado aos modelos de exames convencionais que, algumas vezes, não são capazes de identificar pequenas quantidades de anticorpos. O dispositivo, que custou cerca de R$ 430, exibe o diagnóstico em, no máximo, dez minutos.

Redes sociais e conscientização

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É possível dizer ainda, que, com a ascensão das redes sociais, as pessoas têm se informado mais a respeito da hepatite. O próprio hepatologista afirma que as redes permitiram a democratização do conhecimento sobre prevenção, diagnóstico e tratamento das hepatites virais. "Na Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH), nossas mídias (tudosobrefigado), mantidas pelo Instituto Brasileiro do Fígado (IBRAFIG) permitiram acesso a todo o conteúdo necessário para melhor compreensão das hepatites virais em linguagem leiga e objetiva, com uma interatividade em tempo real que foi particularmente importante como meio de comunicação durante a pandemia da COVID-19, que restringiu o acesso tradicional das pessoas com doenças de fígado aos ambulatórios de hepatologia".

E é justamente por meio das redes sociais que as pessoas acabam se engajando em campanhas como essa do maio vermelho, em que a ideia é justamente trazer mais informações sobre o assunto.

Outro ponto importante em que a tecnologia se entrelaça com a medicina é justamente a telemedicina, no caso, que tem se tornado verdadeiramente mais popular nos tempos atuais (inclusive, aqui no Canaltech temos um especial sobre a diferença entre teleatendimento, telemedicia e teleassistência). Sendo assim, Paulo aponta que em tempos de pandemia a telemedicina tem sido crucial para acompanhamento das pessoas com doenças do fígado, principalmente daqueles indivíduos transplantados ou com cirrose em lista de espera para o transplante.

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Fonte: Com informações do Ministério da Saúde e Jornal da USP