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Entenda a diferença entre Telemedicina, teleatendimento e teleassistência

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Com a pandemia de COVID-19, o famigerado coronavírus, o método mais eficaz atualmente para conter a proliferação do vírus tem sido se isolar em casa. Com isso, muitos dos nossos costumes tem sido adaptados para evitar o máximo de contato, e até a medicina passou por esse processo, levando a um contexto em que nunca se ouviu falar tanto de telemedicina, teleassistência ou teleatendimento.

A procura pelo atendimento a distância, seja por telefone ou internet, cresceu consideravelmente durante a quarentena. Não apenas para tirar dúvidas relacionadas ao coronavírus, mas também para acompanhamento de pacientes com outras doenças, gestantes e até auxiliar outros profissionais de saúde, principalmente depois que o presidente Jair Bolsonaro sancionou uma lei permitindo o uso da telemedicina durante o período da pandemia. A modalidade, que já tinha uma permissão provisória do Conselho Federal de Medicina (CFM), tem sido uma aliada para ajudar pacientes na quarentena. A versão mais abrangente (e permitida) era usada de forma recorrente antes da crise por algumas operadoras de saúde.

Mas por ter acontecido tudo muito rápido, muitas pessoas ainda não estão familiarizadas com o que quer dizer sobre a telemedicina, até onde ela vai, e se há diferença entre esse termo e o teleatendimento e a teleassistência. Para entender melhor esses conceitos, conversamos com Luísa Cusnir, COO da Nutrition to Business (N2B), startup focada em nutrição que com o teleatendimento liberado, está mudando toda interface e disponibilizando atendimento de forma totalmente online, e com Adriano Fontana, CEO e cofundador da BoaConsulta que chegou a desenvolver um aplicativo para agendamento e realização de consultas com profissionais da rede particular.

Até o Conselho Federal de Medicina (CFM) passar a reconhecer e regulamentar o uso, a telemedicina era restrita no Brasil, pela Resolução CFM nº 1.643/2002, que só a permitia em casos específicos e emergenciais, mas justamente por causa da crise da COVID-19, uma resolução temporária permite três novos moldes para o funcionamento da telemedicina: a teleorientação, em que os médicos podem orientar pacientes remotamente; o telemonitoramento, que consiste no monitoramento de pacientes com suspeita ou casos leves da COVID-19, de forma virtual. Um exemplo é o acompanhamento da frequência respiratória de um paciente, por exemplo. Além disso, foi oficializada a teleinterconsulta, ou seja, a troca de informações e opiniões entre médicos de maneira remota, o que ajuda a fazer diagnósticos.

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Telemedicina

De acordo com Adriano Fontana, CEO e cofundador da BoaConsulta, a telemedicina é a modalidade que abrange uma série de processos realizados a distância, como teleconsulta, teleassistência, telediagnóstico, entre outras.

"O impacto do coronavírus é em telemedicina como um todo, mais especificamente na teleconsulta ou teleatendimento, pois no Brasil esta modalidade foi liberada pelo CFM apenas após o início da pandemia e tem tido grande adesão. Mesmo em países onde já era permitida a teleconsulta, pesquisas registram aumento de demanda acima de 300%", observa.

Para a telemedicina funcionar, segundo Adriano, o processo como um todo deve ser transparente, desde as informações disponíveis aos pacientes sobre os prestadores que irão atendê-los até o registro de tais atendimentos no prontuário eletrônico ou histórico dos pacientes. "Nós, enquanto empresa que provê tecnologia para as duas pontas, informamos sobre quais as possibilidades do teleatendimento para ambos. Quando claros os objetivos e os limites, menos problemas serão enfrentados e mais confiança a plataforma vai gerar", aponta. "Como toda tecnologia nova, leva sempre um tempo para que sejam absorvidas suas finalidades por completo. Apesar da pandemia abreviar este processo pela necessidade imediata, ele ainda existe".

Teleassistência

Adriano aponta, por sua vez, que a teleassistência tem a função de viabilizar o atendimento rápido em emergências ou acompanhamento de situações de risco. "Ocorre quando pacientes são monitorados por um profissional de saúde que se comunica com outros profissionais a distância. Este serviço tem grande adesão em outros países e já é praticado no Brasil", afirma.

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"A teleassistência, tem sido usada pelo governo de alguns estados e algumas empresas privadas para monitorar pacientes de grupos de risco que apresentam sintomas leves ou tenham tido contato com pessoas infectadas pelo COVID-19. O objetivo aqui é garantir que estejam passando bem pelo período de contágio sem que tenham de ir a hospitais desnecessariamente", Adriano ainda acrescenta.

Diante do avanço do coronavírus no Brasil e suas possíveis consequências com as pessoas que têm mais de 60 anos e integram o grupo mais vulnerável da doença, uma plataforma de teleassistência chamada TeleHelp tem os serviços voltados justamente a esse público com objetivo de evitar a circulação de pessoas, inclusive a circulação de clientes saudáveis em hospitais com vários doentes sem necessidade, e diminuir, assim, o risco de transmissão. O serviço funciona através de um aparelho instalado na residência e que, com um único toque, solicita ajuda no caso de uma emergência, para tirar dúvidas médicas ou até mesmo para solicitar auxílio em tarefas ou serviços residenciais.

Teleatendimento

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Enquanto isso, teleatendimento ou teleconsulta é qualquer tipo de atendimento realizado por áudio e/ou vídeo entre profissionais de saúde, segundo Adriano. "Quando, por exemplo, um clínico geral procura especialistas para auxílio, ou [a conversa se dá] diretamente entre pacientes e profissionais da saúde — situação que o CFM liberou durante o período da pandemia", observa.

Adriano afirma que a teleconsulta pode ser útil em grande parte dos atendimentos, de menor complexidade, mas a consulta de rotina jamais deixará de existir. São modalidades complementares e não excludentes, e que inclusive para muitas especialidades, como a odontologia, por exemplo, seria impossível de imaginar apenas com atendimento remoto.

"Apesar da modalidade de teleconsulta diretamente entre paciente e prestador ter sido liberada pelo CFM durante o período da pandemia, entendemos que se tornará algo cada vez mais recorrente, pois otimiza recursos do sistema de saúde e oferece mais agilidade no atendimento", explica o fundador da BoaConsulta. "O teleatendimento pode ser usado em grande parte dos casos, poupa tempo e reduz custos aos prestadores e pacientes, além de permitir que a população acesse o sistema de saúde com conveniência e segurança. Ao reduzir o número de pessoas que transitam em hospitais e clínicas, os recursos destas instituições permanecem focados em situações de maior complexidade", acrescenta.

Algumas empresas estão focadas em ajudar nessa fase de pandemia, como é o caso da healthtech Dandelin, focada no agendamento de consultas médicas, cujo app irá incluir um selo em sua interface de médicos indicados para atendimento caso o paciente tenha sintomas. Os médicos, infectologistas, clínicos gerais e otorrinolaringologistas, que se colocarem a disposição para atender, estarão com esse selo ao lado do nome, e os pacientes de grupos de risco que se consultarem com os médicos sinalizados no aplicativo não terão sua mensalidade cobrada. O Dandelin permite que pacientes procurem médicos por localização, especialidade, agenda, entre outros requisitos. O aplicativo hoje concentra suas atividades em São Paulo e na Grande São Paulo.

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É o futuro?

Luisa Cusnir aponta que dizer que faz parte do futuro da medicina, mas que considerar como o futuro da medicina propriamente dito é um pouco forte. “Com o avanço das tecnologias e a quebra de algumas barreiras, vamos ver mais inteligência artificial, mais automatização, mais eficiência em cada processo. Quando surgiu o termômetro [digital], os médicos da época não gostaram, acharam que isso tiraria a autonomia de fazerem um diagnóstico completo... hoje em dia é uma ferramenta indispensável. Entendemos que a telemedicina será, da mesma forma, uma ferramenta indispensável capaz de aumentar o acesso da população inteira a excelentes profissionais”.

Questionada se vai chegar um momento em que vai ser só telemedicina e se a consulta de rotina, na medicina presencial, pode deixar de existir, Luisa diz que acha pouco provável. “É possível que a maior parte das consultas seja realizada por teleatendimento, mas não todas. Alguns exames precisam do presencial e algumas pessoas preferem esse contato direto, não vejo todas as consultas ginecológicas sendo feitas por teleatendimento, mas um pré-natal poderia ter mais de 70% das consultas nessa modalidade”, acredita.

Sobre o possível risco de confiar na telemedicina e os pontos negativos da modalidade, Luisa opina: “Existe algum atendimento sem risco? Há risco em tudo, inclusive em consulta presencial e exames de laboratório. A telemedicina vem para suprir áreas em que os riscos são menores (como a nutrição), vem para resolver problemas simples que às vezes lotam pronto-socorros, como uma gastrite aguda, para auxiliar profissionais em outros Estados que podem não ter o mesmo acesso que em São Paulo (por exemplo), como um intensivista no Piauí. Não para tratar um atropelamento. O teleatendimento é a democratização do acesso do paciente a profissionais. E do profissional da saúde aos pacientes, no país inteiro”.