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Jovens na UTI: entenda os riscos do coronavírus para esse grupo

Por| 07 de Abril de 2020 às 16h57

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Mario Tama/Getty
Mario Tama/Getty

O quanto jovens adultos estão preocupados com o novo coronavírus (SARS-CoV-2)? Em média, muito pouco, principalmente por acreditarem que os maiores afetados pela pandemia da COVID-19 serão os idosos e pacientes com doenças pré-existentes. No entanto, não há risco zero para esse vírus, ou seja, os mais novos também podem se infectar, serem internados e, infelizmente, falecerem.

Como Michael J. Ryan, diretor-executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS), alerta: “Temos que ter muito cuidado com a ideia de que esse vírus só mata pessoas idosas. É verdade que os jovens são menos propensos a desenvolver uma doença grave, mas também há um número significativo de jovens que morreram”. Outro grupo pouco lembrado, mas também afetado é o das crianças.

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“Acredito que todo mundo deveria prestar atenção a isso [a COVID-19]”, explica Stephen Morse, professor de epidemiologia na Escola Mailman de Saúde Pública, na Universidade Columbia. “Os idosos não serão os únicos afetados. Pessoas com idades a partir dos 20 anos estarão entre os internados. Elas precisam ser cuidadosas, mesmo que acreditem ser jovens e saudáveis”, completa o professor.

Menos riscos?

É claro que sim, as pessoas idosas são as que correm mais riscos com o novo coronavírus. Isso está comprovado nas estatísticas da Itália, por exemplo. Em um artigo publicado na revista The Lancet, é descrito que a média de idade dos pacientes que morreram era de 81 anos e mais de dois terços tinham diabetes, doenças cardiovasculares, câncer ou eram ex-fumantes. Além disso, 14,1% tinham mais de 90 anos; 42,2%, entre 80 e 89 anos; 32,4%, entre 70 e 79; 8,4%, entre 60 e 69, e 2,8%, entre 50 e 59 anos.

Ainda na Itália, na faixa entre 30 e 50 anos, a taxa de mortalidade da COVID-19 é de apenas 0,1%, sendo que a grande maioria é de pessoas com patologias, ou seja, com doenças pré-existentes. Agora, o que poderia levar ao óbito uma pessoa jovem e saudável? São algumas respostas: exposição a uma grande carga viral, predisposição genética ou alguma fraqueza no sistema imunológico e patologias desconhecidas.

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De acordo com o virologista Juan Ayllón para o El País, “se muitas pessoas são infectadas, mesmo que você tenha baixa probabilidade, é como o primeiro prêmio da loteria; é a vez de alguém. Os fatores de risco associados ainda não são bem conhecidos. Temos muito claro que a idade é um fator de risco muito importante, assim como a fragilidade de uma pessoa, que é difícil de definir, mas que abrange muitos fatores”.

Gripe também pode matar

Como bem explica Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, “pessoas jovens e saudáveis também morrem ​​ocasionalmente de gripe”. Na China, um significativo número de médicos faleceram vítimas da COVID-19, nesses casos a justificativa deve ser uma exposição intensa a uma alta carga viral. Já que ao intubar um paciente, por exemplo, o profissional da saúde se expõe a uma alta dose de patogêneses, vindas do sistema respiratório.

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Outro ponto é que muitas pessoas se enxergam como 100% saudáveis, mas de fato não são. “Isso poderia se referir a alguma deficiência imunológica hereditária da qual nem sequer temos conhecimento em uma idade específica. Ou poderia ser devido a outras comorbidades como asma, anemia de células falciformes ou outras”, argumenta o doutor Rodney Rohde, da Universidade do Texas.

Uma terceira justificativa que poderia explicar a morte de jovens, aparentemente saudáveis, ​​são predisposições genéticas dos doentes. “Há muita coisa que não se conhece sobre o vírus e essas predisposições podem interagir com sua biologia, favorecendo-o de alguma maneira e outras vezes nos protegendo”, pontua o virologista.

Situação nos EUA

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Os dados do sistema de saúde americano podem mudar essa percepção de que jovens adultos são uma espécie rara de super-herói frente ao novo coronavírus. Isso porque, em relatório divulgado no último mês pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos 508 pacientes até então internados, 38% eram mais jovens do que a maioria, tendo entre 20 e 54 anos.

Além disso, quase metade dos 121 pacientes que foram hospitalizados em unidades tratamento intensivo, as UTIs, eram de adultos com menos de 65 anos, de acordo com o CDC. Nesse mesmo relatório, 20% dos pacientes hospitalizados e 12% dos pacientes na UTI tinham idades entre 20 e 44 anos.

Casos holandês e francês

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De acordo com Diederik Gommers, presidente da Associação Holandesa de Terapia Intensiva, a hipótese mais provável para explicar uma porcentagem atípica (quase 50% dos internados até duas semanas atrás) é a de um contágio durante o Carnaval, no final de fevereiro, considerando que é a população mais jovem o principal grupo de frequentadores dessa festa.

As autoridades de saúde francesas também alertam para os casos sérios entre os menores de 65 anos, que estão aumentando. Pode haver casos graves entre adultos ou jovens adultos, mesmo que sejam mais raros óbitos na faixa dos 30 anos.

Os motivos de óbitos entre os mais jovens, quando não há comorbidade, ainda trazem muitas questões para a ciência e são sinais de que ainda devemos aprender mais sobre o novo coronavírus.

Fonte: El País e The New York Times