Publicidade

Bebês e crianças também podem morrer por causa do novo coronavírus, diz estudo

Por| 20 de Março de 2020 às 15h12

Link copiado!

China Daily/Reuters
China Daily/Reuters

Com o avanço da pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2), aumentaram os cuidados com os idosos e adultos diabéticos e hipertensos, que representam o maior grupo de risco. As crianças têm ficado de fora da maioria dos alertas, justamente porque elas estão na faixa de menor percentual de infecção até agora. Mas um novo estudo revela que, embora boa parte dos pequeninos desenvolva sintomas leves ou moderados, uma pequena parcela de bebês e crianças em idade pré-escolar podem ficar gravemente doentes.

Um artigo científico aprovado pela revista Pediatrics analisou, a partir do dia 8 de fevereiro, mais de 2 mil crianças e adolescentes doentes em toda a China, onde a pandemia começou. Pouco mais de um terço desses casos foram confirmados com testes de laboratório. O restante foi classificado como suspeito, com base nos sintomas, nas radiografias do tórax, em exames de sangue e se a criança havia sido exposta a pessoas com o novo coronavírus.

Cerca de metade dos pacientes analisados apresentou quadros leves com febre, fadiga, tosse, congestão e possivelmente náusea ou diarreia. Mais de um terço, aproximadamente 39%, ficou moderadamente doente, com sintomas adicionais, incluindo pneumonia ou problemas pulmonares, revelados pela tomografia computadorizada, mas sem falta de ar evidente. Outros 4% não apresentavam sinais da COVID-19.

Continua após a publicidade

Entretanto, 125 crianças, ou quase 6%, desenvolveram aspectos muito graves e um menino de 14 anos morreu, de acordo com Shilu Tong, autor sênior do estudo e diretor do departamento de epidemiologia clínica e bioestatística no Centro Médico Infantil de Xangai. Treze foram consideradas "críticas", à beira da insuficiência respiratória ou de órgãos. As outras foram classificadas como "graves" porque apresentavam problemas respiratórios.

Isso tudo fornece um retrato mais claro de como os pacientes mais jovens são afetados pelo vírus, conhecimento que, segundo especialistas, pode ajudar a influenciar políticas, como fechamento de escolas, preparação para hospitais e implantação de um eventual tratamento e vacinas.

Detalhes sobre a pesquisa ligam o alerta sobre os pequenos

"Efetivamente, o que isso nos diz é que os hospitais devem se preparar para alguns pacientes pediátricos porque não podemos descartar completamente as crianças", disse Srinivas Murthy, professor associado de pediatria da Universidade da Colúmbia Britânica, que não estava envolvido no estudo. 

Continua após a publicidade

“A principal conclusão é que as crianças são infectadas a taxas comparáveis ​​às dos adultos, com severidade muito menor, mas, mesmo nelas, há um certo espectro de doenças e algumas delas requerem terapia mais agressiva”, complementou Murthy. Mais de 60% das 125 crianças que ficaram gravemente doentes tinham 5 anos ou menos, informou o estudo. Quarenta delas tinham menos de 12 meses de idade.

Tong explicou que as crianças mais novas eram mais suscetíveis à infecção porque seus sistemas respiratórios e outras funções corporais estão em rápido desenvolvimento. Andrea Cruz, professora associada de pediatria da Faculdade de Medicina Baylor e coautora do levantamento, destacou que crianças em idade pré-escolar e bebês provavelmente ficam mais doentes por causa de sua "imaturidade do sistema imunológico". "Eles não foram expostos a um vírus antes e, portanto, não conseguem montar uma resposta imunológica eficaz", complementou.

Assim, os cientistas agora tentam determinar por que tantas crianças parecem ser relativamente resistentes ao novo coronavírus, um padrão que também caracterizou em surtos anteriores, como nas crises do SARS e da MERS. Casos recentes com pequenos na Itália, Cingapura e Coreia do Sul apresentam quadros semelhantes.

Continua após a publicidade

Formação do corpo e poluição podem ser determinantes

Uma teoria que vem ganhando mais importância é que o receptor ou a proteína nas células humanas às quais as partículas virais se ligam, chamado receptor ACE2, não aparece com destaque em crianças pequenas ou pode ser diferente. Isso pode dificultar para os vírus se conectarem e penetrarem nas células para se replicar. 

Outra hipótese é que a maioria das crianças têm pulmões mais saudáveis do que os adultos. Os mais velhos provavelmente foram mais expostos à poluição ao longo da vida. Por isso, idosos com quadros graves de COVID-19 tendem a ter condições de saúde piores ou sistemas imunológicos enfraquecidos.

Também é possível, dizem os especialistas, que o sistema imunológico das crianças não acelere para atacar o vírus tanto quanto o de adultos. Os médicos descobriram que alguns dos graves danos que os mais velhos infectados sofreram foram causados ​​não apenas pelo próprio vírus, mas por uma resposta imunológica agressiva que cria inflamação destrutiva nos órgãos do corpo.

Continua após a publicidade

Perguntas que precisam de respostas rápidas

O novo estudo, apesar de amplo, deixa muitas perguntas sem resposta. Por exemplo, os pesquisadores descobriram que mais casos graves e críticos ocorreram em crianças com suspeita, em vez das confirmadas, aumentando a possibilidade de que outras infecções causassem danos em seus organismos.

Também não está claro se os Estados Unidos podem esperar o número relativamente pequeno de casos de crianças relatados na China, onde foi feito esse levantamento, ou se devem observar com mais atenção nessa faixa de idade. "A pirâmide etária na China é realmente diferente dos EUA, eles têm muito menos filhos do que nós", disse Andrea, que, assim como outros especialistas, acredita que um grande número de pessoas com COVID-19 leve ou assintomática não foi registrado porque os testes simplesmente não foram realizados.

Continua após a publicidade

"Tivemos muitos testes insuficientes em crianças porque o foco está nos adultos. É provável que tenhamos subestimado o ônus da doença em crianças", acredita Murthy. As respostas sobre essas questões podem reverberar muito além da população pediátrica. O estudo da fisiologia das pessoas menos afetadas pode ser determinante no desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e de uma vacina.

Fonte: The New York Times