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Ivermectina causa infertilidade? Saiba tudo sobre o estudo que viralizou

Por| Editado por Luciana Zaramela | 09 de Setembro de 2021 às 18h30

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Luciana Zaramela/Canaltech
Luciana Zaramela/Canaltech

Já bastante conhecida e utilizada no Brasil nas tentativas de tratamento contra COVID-19, mesmo sem evidências que sustentem seu uso, a ivermectina segue o mesmo caminho nos Estados Unidos, alavancada pela onda da variante Delta do coronavírus SARS-CoV-2.

O cenário fez com que um estudo de 2011, conduzido por pesquisadores nigerianos e publicado na revista científica Archives of Applied Science Research, voltasse à tona. Nele, os cientistas concluíram que o medicamento alterava a mobilidade de espermatozoides e poderia causar infertilidade em 85% dos usuários.

No entanto, ao mesmo tempo em que as manchetes destacavam o risco de tornar os usuários de ivermectina inférteis, a comunidade científica fazia críticas ao estudo.

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O que diz o estudo?

A pesquisa acompanha um grupo de 385 pacientes diagnosticados com oncocercíase, também conhecida como cegueira dos rios, causada por um parasita, o que os credenciaria para o tratamento com a ivermectina, conhecida pela ação antiparasitária.

Apenas 37 dos participantes, com idades variando entre 28 e 57 anos, demonstraram uma contagem de esperma dentro do esperado. Não houve comparação com um grupo de controle.

Bandeiras vermelhas por toda parte

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O primeiro alerta está no próprio periódico. A Archives of Applied Science Research, revista publicada pela instituição Scholars Research Library, diz ter um sistema de revisão por pares, mas traz uma série de pontos suspeitos.

Quando contatada pela agência de checagem de fatos Snopes, a instituição não respondeu. Seu perfil no Twitter foi banido por violar termos da plataforma. A página da web também contém vários erros de digitação e a publicação ainda cobra uma taxa de até 1.000 euros pelo processamento dos artigos enviados pelos cientistas.

As suspeitas apontam para uma revista de qualidade duvidosa e até mesmo predatória, que deixa de lado a revisão para publicar qualquer artigo desde que os autores paguem por isso.

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Além disso, o próprio estudo levanta algumas suspeitas. O Snopes aponta que o artigo não traz uma seção de limitações, que são relevantes para que a comunidade científica entenda o contexto do trabalho e o seu escopo, além de permitir replicar o experimento para validar as conclusões; também não há uma menção de que a causa da infertilidade poderia ser a doença, e não pelo medicamento. Erros de digitação também permeiam o texto, o que não aconteceria em uma revista científica séria, com editores especializados.

Para completar, como aponta o IFL Science, a ivermectina não é uma droga nova. Seus efeitos colaterais mais comuns, dentro de uma dosagem convencional em tratamentos para os quais ela é recomendada, são conhecidos, e a infertilidade não é um deles, como informa a FDA (Administração Federal de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos). Desde a publicação do artigo, em 2011, não houve outros estudos que sustentassem a descoberta.

O estudo completo pode ser conferido neste link.

Fonte: Snopes, IFL Science