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Infecção fúngica no cérebro causa epidemia mortal na África

Por  • Editado por Luciana Zaramela |  • 

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cookelma/envato
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O Reino Fungi está espalhado por quase todo o planeta e, na maioria das vezes, nem é notado — não se esqueça: o mofo é um tipo popular de fungo, comum nas residências. De forma igualmente silenciosa, os fungos são responsáveis por uma epidemia mortal em andamento na África subsaariana, que ataca os cérebros e provoca casos de meningite.

“A África sofre de uma epidemia silenciosa, mas cara, de infecções fúngicas", explica Rachael Dangarembizi, pesquisadora de neuroinfecções na Universidade da Cidade do Cabo (UCT), na África do Sul, em artigo para a plataforma The Conversation.

"O surgimento de infecções fúngicas mortais na região é impulsionado principalmente por uma alta carga de infecções por HIV, falta de acesso a cuidados de saúde de qualidade e indisponibilidade de medicamentos antifúngicos eficazes”, acrescenta a especialista.

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Vale apontar que Dangarembizi publicou recentemente, na revista Parasite Immunology, uma revisão sistemática sobre a situação epidemiológica dos fungos que afetam o cérebro no continente africano.

Quando o corpo falha em controlar os fungos

Na esmagadora maioria das vezes, os fungos não causam doenças em humanos. Isso porque a temperatura corporal humana tende a inativar a maioria desses agentes infecciosos. Em paralelo, o sistema imunológico humano consegue controlar essas infecções fúngicas antes que se espalhem.

No entanto, pessoas imunocomprometidas correm um risco maior de desenvolver doenças fúngicas graves. Em outras palavras, a probabilidade de complicações cresce em indivíduos que têm o sistema imune disfuncional, como aqueles que passaram por transplantes, que tratam um câncer ou que convivem com o HIV. Este último é extremamente crítico considerando a população africana, já que “a África é responsável por 67% da carga global de HIV”, pontua Dangarembizi.

Quais fungos provocam epidemias mortais?

Analisando o cenário africano, alguns fungos que podem atacar o cérebro e provocar a meningite criptocócica se destacam, como o Cryptococcus neoformans. Este é comumente encontrado no solo e em excrementos de pássaros, e a infecção se dá com a inalação dos esporos fúngicos. A doença se inicia nos pulmões, mas, caso chegue ao tecido cerebral, tende a se tornar fatal.

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“A meningite criptocócica é uma das principais causas de meningite em adultos na África subsaariana e está associada a quase 20% de todas as mortes relacionadas à Aids [infecção do HIV não controlada]”, detalha a pesquisadora sobre a epidemia. Neste ponto, um dos desafios é o alto custo da medicação, estimada em pelo menos 1,4 mil dólares (6,7 mil reais) por paciente.

Outro exemplo de doença fúngica oportunista relacionada ao HIV é a pneumonia provocada pelo fungo Pneumocystis jirovecii. Quando contaminada, a pessoa pode transmiti-lo facilmente para outros indivíduos com problemas no sistema imunológico. Por isso, “essa pneumonia ocorre em 15% a 20% dos pacientes com HIV que apresentam problemas respiratórios”, comenta Dangarembizi. Novamente, o tratamento é custoso demais para a maior parcela dos doentes.

Ameaça de fungos que atacam o cérebro no mundo

Embora a emergência fúngica seja mais forte em algumas regiões do continente africano, não é exclusiva de lá. Hoje, os fungos são responsáveis por cerca de 1,5 milhão de mortes anuais, com índices que tendem a subir. A pandemia da covid-19 parece ter piorado o cenário global.

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Em paralelo, o surgimento de cepas fúngicas resistentes a medicamentos é outro desafio que precisa ser enfrentado. Da mesma forma que ocorre com os antibióticos e as superbactérias, são necessários novos medicamentos para o combate dos fungos.

Por exemplo, no Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) relatou o primeiro caso de meningoencefalite causada pela espécie de fungo Penicillium chrysogenum no ano passado. A infecção que acometeu o cérebro do adolescente foi fatal, segundo os pesquisadores. Entre os motivos, estaria o fato de ele não ter respondido aos tratamentos padrões com antifúngicos, o que só reforça a emergência de saúde pública mesmo que o nosso país esteja a um oceano de distância da África.

Fonte: Parasite ImmunologyThe Conversation