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Incógnita: crianças transmitem ou não o coronavírus?

Por| 08 de Maio de 2020 às 19h30

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Reuters
Reuters

Quando se trata de coronavírus, quarentena, isolamento social... uma questão que se estabelece é a abertura ou o fechamento das escolas. Acontece que a relação com o coronavírus e o público infantil ainda é bem incerta, e a ciência tem tentado desvendar isso de uma vez por todas, já que as crianças representam uma pequena fração dos casos confirmados de COVID-19, considerando que menos de 2% das infecções relatadas na China, Itália e Estados Unidos ocorreram em menores de 18 anos.

Mas os pesquisadores estão divididos sobre se as crianças têm menos probabilidade do que os adultos de serem infectadas e espalharem o vírus. Alguns dizem que as crianças estão em menor risco e não são responsáveis ​​pela maior parte da transmissão e os dados dão suporte à abertura de escolas, como no caso da Alemanha e Dinamarca, em que as crianças já retornaram às aulas, enquanto alunos de algumas áreas da Austrália e da França devem voltar gradualmente nas próximas semanas.

Em contrapartida, outros cientistas argumentam contra o retorno das salas de aula. Eles dizem que a incidência de infecção em crianças é menor do que em adultos, em parte porque eles não foram tão expostos ao vírus, especialmente com muitas escolas fechadas, e também porque as crianças não estão sendo testadas com tanta frequência quanto os adultos, uma vez que tendem a apresentar sintomas leves ou inexistentes.

Em alguns países, a reabertura de escolas pode levar o número de novas infecções a níveis perigosos, alertaram epidemiologistas. Cientistas chegaram a analisar dados de duas cidades da China — Wuhan, onde o vírus surgiu pela primeira vez, e Xangai — e descobriram que as crianças eram cerca de um terço mais suscetíveis à infecção por coronavírus do que os adultos. Mas, quando as escolas foram abertas, descobriram também que as crianças tinham cerca de três vezes mais contatos que os adultos e três vezes mais oportunidades de serem infectadas. Com base nesses dados, os pesquisadores estimaram que o fechamento de escolas não é suficiente por si só para interromper um surto, mas pode reduzir o aumento em cerca de 40 a 60% e retardar o curso da epidemia.

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Um outro estudo, realizado por um grupo de pesquisadores alemães, testou crianças e adultos e descobriu que as crianças que testam positivo têm carga viral semelhante à dos adultos — às vezes até mais — e, portanto, presumivelmente, são igualmente infecciosas. A equipe também analisou um grupo de 47 crianças infectadas entre 1 e 11 anos de idade. Quinze delas foram hospitalizadas, mas as demais estavam livres de sintomas. As crianças que eram assintomáticas tinham cargas virais tão altas ou mais altas que as crianças ou adultos sintomáticos.

Abrir as escolas ou mantê-las fechadas?

No entanto, alguns outros especialistas observaram que manter as escolas fechadas indefinidamente não é apenas impraticável, mas pode causar danos permanentes às crianças. Jennifer Nuzzo, epidemiologista da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, disse que a decisão de reabrir escolas não pode ser tomada com base apenas na tentativa de impedir a transmissão, e apontou como necessário ter uma visão holística do impacto do fechamento da escola nas crianças e nas famílias.

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De acordo com ela, o ensino a distância pode fornecer temporariamente às crianças uma rotina, mas acrescentar mais alguns meses a isso poderia prejudicá-las permanentemente, principalmente as que já estão com dificuldades para aprender ou absorver conteúdos. Enquanto isso, um estudo na Holanda, realizado pelo próprio governo holandês, concluiu que pacientes com menos de 20 anos desempenham um papel muito menor na disseminação do que adultos e idosos.

Todos os especialistas concordam em uma coisa: que os governos deveriam manter discussões ativas sobre como é a reabertura de escolas. Os alunos podem se programar para ir à escola em dias diferentes para reduzir o número de pessoas no prédio ao mesmo tempo, por exemplo; mesas poderiam ser colocadas a um metro e meio, e as escolas poderiam evitar que os alunos se reunissem em grandes grupos. Eles também apontam que professores com condições de saúde subjacentes ou em idade avançada devem optar por sair e receber empregos alternativos fora da sala de aula, se possível.

Crianças respondem melhor ao coronavírus?

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Os pesquisadores concordam, ainda, que as crianças tendem a lidar melhor com a COVID-19 do que os adultos. Uma teoria que explica por que a maioria das crianças apresenta sintomas mais leves é que os pulmões dos pequenos podem conter menos receptores ACE-2 maduros, proteínas que o vírus SARS-CoV-2 usa para entrar nas células. Mas para confirmar isso, os pesquisadores precisariam estudar amostras de tecidos de crianças, que são muito difíceis de obter.

Outros sugerem que as crianças são expostas mais rotineiramente a outros coronavírus, como aqueles que causam o resfriado comum, que os protege de doenças graves, possam ter uma resposta imune mais apropriada à infecção — forte o suficiente para combater o vírus, mas não tão forte que cause grandes danos aos seus órgãos. Pacientes de todas as idades com doenças graves tendem a ter níveis mais altos de citocinas, dizem esses pesquisadores, mas fica a questão: "Eles estão mais doentes porque têm níveis mais altos de citocinas, ou têm níveis mais altos de citocinas porque estão mais doentes?".

Transmissibilidade

Quanto ao potencial de transmissão de crianças para adultos, ainda não há, cientificamente, um consenso. Apenas evidências clínicas. De acordo com os estudos mais recentes avaliando essa questão, as crianças podem, sim, funcionar como vetores e passar o vírus a seus parentes e adultos próximos. Especialistas sugerem que os casos poderiam impactar significativamente as curvas epidemiológicas nos EUA caso as escolas reabrissem em breve. Mas, como tudo nesse cenário pandêmico é absolutamente novo, ainda é cedo para afirmar se crianças transmitem ou não a doença, ou se têm participação significativa como vetores do vírus.

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A recomendação da OMS á para que, mesmo que menos afetadas, as crianças se mantenham distantes dos idosos — ou evitem ao máximo ter contato com eles.

Fonte: The New York Times, Nature, Science, OMS