Implante cerebral faz homem com paralisia voltar a andar
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela | •
As novas interfaces cérebro-máquina têm possibilitado feitos, até então, inimagináveis. Nesta semana, cientistas do Lausanne University Hospital (Chuv), na Suíça, compartilharam o caso de um homem com paralisia nas pernas que recuperou a capacidade de andar, guiado pelos pensamentos.
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Para ser mais preciso, Gert-Jan Oskam, de 40 anos, perdeu os movimentos das pernas após sofrer um acidente de bicicleta, em 2011. Em busca de procedimentos que pudessem reverter a sua paralisia, o paciente adentrou no programa de pesquisa suíço, apelidado de “ponte digital”.
Homem com paralisia conseguiu andar novamente
Para voltar a andar usando os seus pensamentos, a equipe médica implantou um dispositivo com eletrodos em seu cérebro, capaz de detectar sua atividade neuronal quando ele pensa em movimentar as pernas. Este é o start para todo o aparato tecnológico.
A leitura desses dados, produzidos pelo pensamento, são processadas por um algoritmo com Inteligência Artificial (IA) e transformados em pulsos. Estes são enviados para um outro dispositivo com eletrodos, instalado em sua coluna. Os comandos, então, ativam os nervos da medula espinhal (coluna) relacionados com o movimento, fazendo-o andar.
Na verdade, Oskam já consegue até subir escadas, segundo artigo publicado na revista científica Nature. A questão é que os passos ainda não são tão naturais como estamos acostumados e o uso de suportes para o movimento, como andadores, muletas ou corrimãos, ainda é fundamental.
Conexão sem fio entre o cérebro e a medula espinhal
O interessante é que toda a troca de informações do cérebro com a medula precisa ocorrer sem uma conexão física direta, já que os canais naturais (nervos) foram rompidos no acidente, há mais de 10 anos.
Por isso, “desenvolvemos uma ponte digital sem fio entre o cérebro e a medula espinhal usando a tecnologia Brain-Computer Interface (BCI) que transforma pensamento em ação", pontua Grégoire Courtine, professor de Neurociências na Chuv e um dos autores do estudo, em comunicado.
Futuro da pesquisa sobre o poder da mente
Talvez, mais interessante que retomar os movimentos durante o experimento, é o fato de que as sessões de treinamento podem ser encaradas, pelo menos preliminarmente, como uma fisioterapia. Após 40 sessões, o paciente desenvolveu (ou recuperou) algumas habilidades sensoriais e motoras, que permanecem mesmo após a ponte digital ser desligada. A hipótese é que as conexões nervosas foram parcialmente restauradas.
No futuro, a equipe de pesquisadores suíços tem alguns objetivos em relação a essa nova interface cérebro-máquina, movida pelo poder da mente. A primeira é estender os avanços e as sessões de testes para pessoas que perderam, também em acidentes, os movimentos dos braços e das mãos. Por enquanto, a tecnologia só foi testada em pessoas que têm paralisia nas pernas.
Em outro momento, a ideia é estender os protocolos do projeto ponte digital para quem perdeu os movimentos por outras causas, fora os acidentes. Em tese, as descobertas podem ajudar na reabilitação de indivíduos que enfrentaram um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e, em decorrência disso, perderam parte da mobilidade.