Homens e COVID: o que a taxa de testosterona tem a ver com casos graves?
Por Fidel Forato | Editado por Luciana Zaramela | 28 de Maio de 2021 às 09h30
Na pandemia da COVID-19, médicos e pesquisidores ainda investigam muitas questões sobre o comportamento do coronavírus SARS-CoV-2 no organismo humano. Diante desse cenário, um recente estudo norte-americano verificou que existe uma relação entre homens com níveis baixos de testosterona e uma maior probabilidade de desenvolver um quadro mais grave da doença.
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Publicado na plataforma JAMA Network Open, o preprint — artigo sem revisão pelos pares — identificou que, em casos graves da COVID-19, a tendência é que os homens internados apresentem menores índices de testosterona e que este hormônio contínua a cair conforme o quadro da infecção viral avança.
Inclusive, a taxa do hormônio pode ser um indicador do nível da inflamação causada pela doença e da possibilidade de óbito. No entanto, não foi definido se os níveis caem em decorrência do coronavírus ou se a menor concentração favorece o agravamento da doença.
Estudo avaliou concentração de testosterona e a COVID-19
Para investigar a relação entre a testosterona e a gravidade da COVID-19, o grupo de pesquisadores coletou amostras de sangue de 90 homens e 62 mulheres que foram atendidos no Hospital Barnes-Jewish, em Saint Louis, nos EUA. Estas pessoas tiveram diagnóstico confirmado para a infecção do coronavírus e tinham a idade média de 63 anos.
Dos 152 pacientes, 143 foram internados no hospital e, assim, os médicos puderam acompanhar melhor a evolução da doença. Além da primeira coleta, foram retiradas amostras de sangue daqueles que estiveram hospitalizados em outros quatro momentos: o terceiro, o sétimo, o décimo quarto e vigésimo oitavo dia de internação. Assim, foi possível estabelecer uma linha evolutiva da concentração de testosterona nos pacientes.
Nas mulheres, o estudo não conseguiu estabelecer nenhuma ligação entre a gravidade da COVID-19 e os níveis dos hormônios analisados, como estrogênio e testosterona. Agora, nos homens, os níveis de testosterona podiam apontar para a gravidade da doença.
Relação entre testosterona e gravidade da infecção
Segundo a pesquisa, os homens internados em estado grave tinham um nível médio de testosterona de 52 ng/dl, enquanto aqueles com doença menos grave tinham uma média de 151 ng/dl de testosterona. Para entender, 250 ng/dl do hormônio já é considerada uma porcentagem baixa para homens adultos.
Já no terceiro dia de hospitalização, o nível médio de testosterona de quem estava internado com a COVID-19 grave caiu para 19 ng/dl. Na conclusão do estudo, 37 dos pacientes acompanhados faleceram em decorrência da doença, sendo que 25 eram homens. Além disso, a queda no nível de testosterona foi relacionada a níveis mais altos de inflamação no organismo.
Na vida real, "homens com COVID-19 que não estavam gravemente doentes no início, mas apresentam baixos níveis de testosterona, provavelmente precisarão de cuidados intensivos ou de intubação nos próximos dois ou três dias", afirmou o pesquisador Sandeep Dhindsa, endocrinologista da Universidade de Saint Louis e principal autor do artigo. "Os níveis mais baixos de testosterona parecem prever quais pacientes provavelmente ficarão muito doentes nos próximos dias", completou o médico sobre a descoberta.
Para acessar o preprint sobre a testosterona e a gravidade de casos da COVID-19 em homens, publicado na plataforma JAMA Network Open, clique aqui.
Fonte: Live Science