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Gripe Espanhola: as ondas da pandemia e como ficaram os pulmões dos doentes

Por| Editado por Luciana Zaramela | 01 de Junho de 2021 às 15h00

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 Robina Weermeijer / Unsplash
Robina Weermeijer / Unsplash

Muito além da COVID-19, a espécie humana já enfrentou algumas pandemias ao longo de sua história, como a Peste Negra e a Praga de Justiniano. Agora, uma equipe internacional de cientistas identificou que o vírus responsável pela Gripe Espanhola — conhecida internacionalmente como a gripe de 1918 e causada pelo influenzavirus H1N1 mutado — sofreu inúmeras mutações, na época. Eles também identificaram que o problema atual das variantes do coronavírus SARS-CoV-2 também existia com este outro agente infeccioso, segundo amostras preservadas de pulmões infectados.

A descoberta sobre as variantes do vírus da Gripe Espanhola pode explicar o porquê das ondas posteriores da pandemia de gripe de 1918 terem sido piores que as primeiras. Mesmo que os resultados não sejam 100% aplicáveis ao contexto da COVID-19, eles indicam o que esperar da atual pandemia e explicam por que a segunda onda foi mais severa para alguns países, como no Brasil.

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"Aquelas [infecções virais da Gripe Espanhola] na segunda onda parecem estar melhor adaptadas aos humanos", explicou Sébastien Calvignac Spencer, biólogo e pesquisador do Instituto Robert Koch (RKI), em Berlim. "Assim como hoje, nós nos perguntamos se as novas variações se comportaram de maneira diferente ou não do original", completou um dos autores do preprint — artigo científico sem revisão por pares — sobre a descoberta, publicado na plataforma bioRxiv.

Pesquisa sobre a Gripe Espanhola investiga pulmões da época

Para entender como as variantes afetaram os rumos da Gripe Espanhola, os pesquisadores investigaram seis pulmões humanos encontrados durante os anos de 1918 e 1919. Os tecidos foram conservados em formol pelos últimos 100 anos em arquivos de patologia de universidades na Alemanha e na Áustria. Desses pulmões preservados, a equipe descobriu que três foram infectados pelo vírus da gripe de 1918, sendo que dois eram de soldados que morreram em Berlim e um de uma jovem que faleceu em Munique.

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Segundo o estudo, os dois soldados morreram vítimas da primeira onda da Gripe Espanhola, a mais branda e menos mortal delas. Para chegar a esta conclusão, os cientistas extraíram o RNA viral dessas amostras e reconstruíram cerca de 60% a 90% do genoma viral. Não havia diferenças genéticas significativas entre eles. Agora, a forma do vírus que infectou a jovem falecida em Munique provavelmente era de uma onda posterior da pandemia. Isso devido às suas variações.

Para completar o estudo, também foram incluídas amostras de genomas do vírus obtidos nos Estados Unidos, no Alasca e em Nova Iorque. Ambas também datavam da segunda onda da Gripe Espanhola. Dessa forma, foi possível realizar estudos em laboratório com réplicas sintetizadas de partes do vírus e aprender como diferentes cepas podem ter infectado e se replicado dentro das células humanas.

Como as mutações afetaram o vírus da gripe?

As descobertas sugerem que o vírus da Gripe Espanhola sofreu mutação para se tornar mais eficaz entre a primeira e as últimas ondas, evoluindo para superar as defesas celulares contra a infecção. Segundo Spencer, as mutações que surgiram entre a primeira e a segunda ondas podem ter "aperfeiçoado" o vírus para se espalhar entre humanos.

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Neste caso, o agente infeccioso teria se distanciado mais do seu principal hospedeiro até então, as aves. Além disso, a mutação em uma proteína pode ter favorecido essa interação com as células saudáveis humanas. Segundo estimativas, a infecção pode ter levado ao óbito entre 50 milhões e 100 milhões de pessoas durante as suas três principais ondas.

Se compararmos a descoberta com a pandemia da COVID-19, é possível observar um processo de evolução viral semelhante, explica o biólogo. "É interessante fazer paralelos — por exemplo, o fato de haver várias ondas sucessivas é um padrão intrigante", completa Spencer.

Para acessar o estudo completo sobre as variantes do vírus da Gripe Espanhola, publicado na plataforma bioRxiv, clique aqui.

Fonte: Live Science