Brasil já enfrenta segunda onda da COVID-19, alerta pesquisador da USP
Por Fidel Forato |
Com aumento de casos da COVID-19 no Brasil, após um período de queda, cientistas e autoridades de saúde apontavam para uma possível segunda onda do novo coronavírus (SARS-CoV-2) por aqui. Agora, dados levantados pelo Portal COVID-19 Brasil confirmam esse cenário, segundo o pesquisador Domingos Alves, do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto.
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"O Brasil já está na segunda onda da COVID-19", defende o pesquisador para a BBC. Desde o início da epidemia no país, há cerca de oito meses, Alves acompanha os dados da infecção e é um dos responsáveis pelas análises estatísticas do Portal. Com base nessa avaliação, é que se torna possível afirmar que o Brasil vive uma nova onda de contágios por coronavírus, como a Europa e os Estados Unidos.
Taxa de transmissão acima de 1 no Brasil
Sua avaliação de que o Brasil está vivendo, assim como os Estados Unidos e a Europa, uma nova onda de contágios se baseia na evolução da taxa de transmissão do coronavírus — também conhecido como Rt ou taxa R — no país. Com base no aumento de novos casos, essa taxa é calculada e permite estimar quantas pessoas saudáveis são contaminados por um doente. Por exemplo, se o índice é superior a 1, a doença está se expandindo. Quando está abaixo, o contágio está se retraindo.
Segundo o Observatório de Síndromes Respiratórias da Universidade Federal da Paraíba, a Rt brasileira da COVID-19 era calculada em 1,12, na segunda-feira (16). De forma simplificada, cada 100 pessoas contaminadas transmitem o coronavírus para outras 112. Em seguida, esses 112 novos doentes vão contaminar mais 125 pessoas e, dessa forma, a epidemia vai se espalhando exponencialmente.
Na mesma data, a Rt estava acima de 1 em 20 brasileiros (Acre, Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins) e no Distrito Federal. No entanto, a situação sera mais crítica no Paraná, onde a taxa chegou a 1,62.
Além disso, o pesquisador Alves também analisou a média móvel da Rt, que é calculada com base nos 14 dias anteriores. "É importante a gente olhar a média móvel porque isso indica que não se trata apenas de uma flutuação do índice, mas que há uma tendência concreta de alta ou queda", explica Alves.
Ainda na segunda-feira, o Rt móvel do país era calculado em 1,06. Na mesma data, a média móvel da Rt estava acima de 1 em 16 estados brasileiros (Acre, Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina e São Paulo). Novamente, o maior índice foi estimado no Paraná (1,34).
Infelizmente, a média móvel da Rt brasileiro está acima de 1 desde o dia 11 de novembro. Ou seja, há quase uma semana. Vale lembrar que esse índice não ultrapassava esse patamar desde o dia 10 de agosto. Por isso, é possível afirmar que a pandemia voltou a crescer no Brasil.
Além dessa pesquisa brasileira, o monitoramento do Imperial College de Londres, no Reino Unido, divulgado nesta terça-feira (17) sobre o Brasil também aponta para o Rt maior que 1. De acordo com os dados levantados, essa taxa é estimada em 1,1 no país. Nesse cenário, a epidemia também volta a crescer.
Segunda onda diferente da Europa
Na pandemia de COVID-19, tanto a Europa quanto os Estados Unidos passam por uma segunda onda da infecção e os números de casos têm se intensificado nas últimas semanas. "Nossa segunda onda vai ser mais parecida com a dos EUA do que com a da Europa, porque a Europa conseguiu controlar de verdade a transmissão, que voltou com força depois do verão, quando as pessoas foram viajar e trouxeram novas cepas do vírus para casa", detalha Alves.
Conforme avalia o pesquisador da USP, nem os EUA e nem o Brasil alcançaram um real controle da pandemia. Como resultado, é possível observar uma sobreposição entre as duas ondas. "Nunca conseguimos controlar a transmissão comunitária", explica Alves. Para o controle da COVID-19, as autoridades de saúde precisão contornar a questão da subnotificação.
"Desde meados de setembro, o problema da subnotificação vem se agravando, porque estão sendo feitos menos testes, e, entre os que são realizados, são cada vez menos os de PCR, que são mais precisos, e mais testes rápidos, que dão muito falso negativo", defende Alves. Dessa forma, os números mais reais da COVID-19 serão traduzidos em aumento de internações por causa da infecção nos hospitais. A aposta para evitar a necessidade de medidas drásticas e o comprometimento dos sistemas de saúde (público ou privado) deve ser a testagem em massa e o rastreamento das pessoas com quem os infectados entraram em contato.
Fonte: BBC