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Genoma revela origem e espalhamento da malária

Por| Editado por Luciana Zaramela | 17 de Junho de 2024 às 19h13

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jcomp/Freepik
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Cientistas do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária conseguiram, através de um inovador método de análise dos dentes, descobrir como a malária se espalhou pelo mundo — e como continua a afligir populações até os dias de hoje. 

Normalmente, seria difícil identificar infecções antigas pela doença, transmitida pelo mosquito-prego (Anopheles), já que esqueletos não preservam traços e referências em textos históricos são complicadas de se decifrar.

Estudos com DNA, no entanto, indicam que os dentes conseguem preservar traços de doenças no sangue de um indivíduo no momento da morte, permitindo a identificação da malária nos antigos. Com isso, uma equipe de cientistas de 80 instituições e 21 países diferentes reconstruiu o genoma do patógeno Plasmodium e sua jornada ao longo de 5.500 anos de história e 36 infectados do passado.

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A malária pelo mundo

Uma das questões mais debatidas sobre a malária é sua viagem e adaptação nas Américas, onde teve de aprender a sobreviver no clima temperado, se tornando a variante Plasmodium vivax. Teria ela vindo com a migração há milhares de anos, pelo estreito de Bering, ou com a colonização europeia?

Ao analisar o DNA de um indivíduo infectado encontrado no alto dos Andes peruanos, em Laguna de los Cóndores, descobriu-se que ele tinha uma cepa de P. vivax muito semelhante à europeia, dando evidências fortes de que os colonizadores trouxeram, de fato, a doença.

Ligações genéticas entre a variedade e as populações modernas do patógeno, nos peruanos de 400 a 500 anos depois, mostram que a doença continua afligindo a região atualmente.

Na Europa, o estudo revelou o papel das atividades militares no espalhamento da doença. Foram estudados os restos mortais da população de Mechelen, na Bélgica, onde o cemitério da catedral de St. Rombout dividiu espaço com o primeiro hospital militar permanente do início da idade moderna europeia (1567 a 1715 d.C.).

A população geral teve alguns casos identificados de P. vivax antes da construção do hospital militar, mas, após ele, surgiram casos de uma cepa mais virulenta da malária, a P. falciparum.

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A maioria dos casos surgiu em pessoas do sexo masculino vindas de fora da região, e durante a operação do hospital militar, provavelmente soldados recrutados na Itália, Espanha e outros países mediterrâneos para a Guerra dos 80 Anos.

Isso quer dizer que os movimentos das tropas em larga escala tiveram um papel importante no espalhamento da doença, o que ecoa na infecção pelo parasita atualmente em locais onde a malária já está erradicada por conta da globalização — ou seja, pela viagem de infectados a esses locais. 

Por fim, também foi descoberto o primeiro caso de infecção pela cepa P. falciparum no mundo — e, para a surpresa dos cientistas, ele ocorreu no Himalaia, em Chokhopani, em cerca de 800 a.C. O local remoto, a 2.800 acima do nível do mar, fica bem longe do habitat do mosquito-prego e do parasita da malária. Como a doença teria chegado lá?

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O sujeito infectado era do sexo masculino e tinha adaptações genéticas para altitudes extremas, o que indica ter sido um local. Evidências arqueológicas, no entanto, mostram que as populações do Himalaia se envolviam ativamente em comércio de longa distância, viajando pelo vale do Rio Kali Gandaki até o subcontinente indiano.

É provável que o doente tenha viajado até a região índico-nepalesa do Terai, mais baixa e úmida, onde o mosquito habita até os dias de hoje — e voltou para ser enterrado em Chokhopani. A maneira como a doença se espalhou no passado revela os modos como se espalha atualmente, e estudar essas infecções históricas pode revelar à ciência formas de proteger populações vulneráveis.

A malária afetou o genoma humano profundamente, e doenças como a anemia falciforme podem estar presentes até hoje como adaptação para resistir ao patógeno. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença causa até 600 mil mortes por ano, através de 250 milhões de infecções anuais.

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Fonte: Nature, Instituto Max Planck