Fim da guerra? China zera casos locais de coronavírus nesta quinta (19)
Por Fidel Forato |

País considerado o primeiro epicentro da COVID-19, a China não registrou, hoje (19), novas infecções locais pela primeira vez desde o início da pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2). Em outras palavras, para os habitantes do país, os casos foram controlados, o que é um importante sinal de esperança nesses tempos sombrios. É também um marco para a nação, que é alvo de xenofobia e enfrenta inúmeras críticas pelo modo como lidou com os primeiros casos da infecção.
Inclusive, uma das maiores críticas internacionais veio após o silenciamento do primeiro médico, em dezembro do ano passado, que alertou sobre os riscos antes que a situação ficasse fora de controle. Esse comportamento, segundo críticos, permitiu que o vírus se espalhasse pela cidade de Wuhan, no centro da China, e forçou o governo a impor restrições drásticas a viagens, além de quarentena para centenas de milhões de pessoas.
"É como se a guerra tivesse terminado", afirma Stefan Kirkeby, um americano que esteve "preso" obrigatoriamente na China pelo fechamento das fronteiras frente ao surto de COVID-19. "Ainda não podemos deixar Hubei, mas a liberdade local das pessoas foi restaurada", comenta.
Atualmente, o novo epicentro da COVID-19 é a Europa, ao lado do Irã, o terceiro país em números gerais de casos de infecções pelo novo coronavírus.
COVID-19 em números
Segundo dados da Universidade Johns Hopkins, o novo coronavírus já matou 3.238 pessoas na China até agora, o que representa cerca de um terço do número global de vítimas — outro terço das mortes se concentra na Itália, que registra 3.130 óbitos. Ainda ontem (18), oito pessoas morreram, todas em Hubei, província cuja capital é Wuhan. Em Hubei, mais de 50 milhões de pessoas foram submetidas a uma rígida quarentena desde o final de janeiro, e a taxa de mortalidade de casos da província, de 4,6%, foi várias vezes maior que a do restante do país.
Mesmo com os bons resultados, a China não está fora de perigo. Isso porque ainda há infecções na região, ou seja, não é zero o número de novos casos. Autoridades de saúde locais afirmaram que, só hoje (19), 34 novos casos foram confirmados, só que entre viajantes — não habitantes da região —, apontando o quão difícil será para a China (ou qualquer país) livrar-se da COVID-19 completamente.
Na nação asiática, muitas províncias e cidades se fecharam para viajantes de outros lugares e assim a pandemia foi controlada. Agora, o medo é que o vírus ressurja assim que essas barreiras forem liberadas e as pessoas voltem a cruzar o país novamente.
Segunda onda?
"Está muito claro que as ações adotadas na China quase acabaram com sua primeira onda de infecções", afirma Ben Cowling, chefe da divisão de epidemiologia e bioestatística da Escola de Saúde Pública da Universidade de Hong Kong. "A questão é o que acontecerá se houver uma segunda onda, porque o tipo de medidas que a China implementou não é necessariamente sustentável a longo prazo", alerta o pesquisador.
Por isso mesmo, máscaras faciais, medidas de distanciamento social, lavagem frequente das mãos e verificações de temperatura nas entradas de edifícios e restaurantes se tornaram o novo padrão. Assim, nas últimas semanas, as autoridades de todo o país permitiram que partes da economia voltassem à rotina.
Em cidades como Pequim e Xangai, restaurantes e lojas reabrem. Empresas e fábricas também são instruídas a reabrirem gradualmente. A maioria das escolas permanece fechada, e os alunos continuam a aprender pela educação remota, onde participam, inclusive, de cerimônias virtuais diárias para hastearem a bandeira — marca cultural do império. Todas as atividades cerimoniais das escolas permanecem vivas, através de um link para transmissão ao vivo.
Em Wuhan, os centros de quarentena que foram criados para manter pacientes infectados com sintomas leves foram fechados. Até mesmo as áreas rurais da China baixaram a guarda. Em pelo menos uma vila na província de Shaanxi, no centro da China, barreiras improvisadas foram desmontadas, segundo relatos de moradores locais.
Fonte: The New York Times