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Ficou doente? Entenda por que o Google não deve ser o seu consultório médico

Por| 01 de Junho de 2020 às 13h57

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Ficou doente? Entenda por que o Google não deve ser o seu consultório médico
Ficou doente? Entenda por que o Google não deve ser o seu consultório médico

Você já teve algum sintoma, jogou no Google e se surpreendeu com os resultados apontando as possibilidades voltadas a ele? O fator "exagerado" retornado pelo famoso mecanismo de busca em relação às doenças já chegou a virar até meme. E é exatamente disso que vamos falar nessa matéria. Acontece que confiar plena e exclusivamente nos resultados do Google sem consultar um médico (e principalmente se automedicar sem a orientação de um profissional) pode ser verdadeiramente perigoso.

Sabia que o vício pela busca de sintomas online inclusive já tem até nome? Cyberchondriac (cibercondríaco, em tradução livre). Pesquisadores da Universidade de Waterloo, no Canadá, chegaram a fazer um estúdo sobre o assunto, e concluíram que essas pesquisas sobre sintomas e doenças podem fazer com que a pessoa se sinta pior, e ainda menos informada. Isso porque, de acordo com esse estudo, é possível ser vítima de uma espécie de efeito placebo, só que ao contrário. Os resultados da pesquisa também podem confundir e proporcionar suposições errôneas.

"Quando as pessoas pesquisam informações on-line, a maioria está buscando informações sobre um problema de saúde ou tratamento médico. Enquanto a maioria dos internautas são pesquisadores confiantes e acreditam que estão encontrando informações precisas, é provável que muitos usem um mecanismo de pesquisa para obter informações sobre saúde e acabem tomando decisões incorretas que impactem negativamente sua saúde", consta no estudo da Universidade de Waterloo. "Os mecanismos de pesquisa podem ser tendenciosos, indicando incorretamente que determinados tratamentos ajudam quando não é o caso. Se as pessoas encontrarem e acreditarem em informações incorretas sobre tratamentos médicos, há potencial para esse público sair prejudicado", acrescentam os pesquisadores.

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Além disso, há quem tire conclusões sobre seu estado de saúde sem sequer abrir os artigos apontados pelo mecanismo de busca. O usuário apenas lê os títulos da primeira página e faz conclusões precipitadas em relação aos sintomas e o que eles podem significar.

Tendo isso em mente, a equipe do Canaltech conversou com Rafael Mendonça Rey dos Santos, médico de família e professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). "Algumas vezes, a internet é ótima em difundir conhecimento. É um instrumento que democratiza as informações e as torna acessíveis para qualquer um que souber procurar. O problema é que, muitas vezes, as informações vêm 'duras', não-lapidadas, sem filtro qualquer e podem ser fator de estresse e preocupação desnecessários", aponta Rafael.

Os perigos de confiar sua saúde ao Google

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De acordo com o professor universitário, sintomas isolados muitas vezes são inespecíficos, então se os interpretarmos isoladamente, podemos tanto deixar de valorizar um diagnóstico grave e tomar a conduta necessária quando supervalorizar uma hipótese improvável e gerarmos preocupação, ansiedade e até desesperos desnecessários.

O médico utiliza o seguinte exemplo: sintomas como aumento discreto na temperatura e tosse podem fazer parte de uma gama de diagnósticos bastante vasta, como COVID-19, resfriado comum, pneumonia e até tuberculose e câncer de pulmão. "A diferenciação de sintomas genéricos em situações mais específicas vai depender de alguma expertise e da capacidade de lidar com outras informações que devem ser pesquisadas em conjunto com o paciente".

Questionado a respeito do perigo em tomar medicamentos ou ainda dar início a tratamentos sem a aprovação de um médico, Rafael afirma que a prescrição de medicamentos deve ser feita com base em características individuais de cada paciente, considerando outros medicamentos em uso no momento, perfil de efeitos adversos e riscos do uso de cada medicamento, enfermidades presentes, etc. "Muitas vezes, tomar essa decisão sem ter conhecimento suficiente para entender os riscos, indicações e contraindicações pode ter consequências graves, algumas vezes até fatais".

No entanto, a relação entre a tecnologia e a medicina tem ganhado cada vez mais credibilidade, quando se trata de atendimentos que não são feitos presencialmente, como videoconferências, aplicativos voltados a conversas com médicos, etc. Inclusive, fizemos aqui no Canaltech uma matéria especial para que você consiga diferenciar os termos telemedicina, teleatendimento e teleassistência.

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"Médicos que já conhecem seus pacientes e já os examinaram podem tomar ótimas decisões a distância e, inclusive, prescreverem medicamentos. Se não conheço direito meu paciente ou tento tratar alguma doença em que o exame físico seja imprescindível, provavelmente a decisão do medicamento pode não ser a melhor. No entanto, médicos normalmente conseguem diferenciar bem as situações que precisam de atendimento presencial das que podem ser resolvidas a distância", explica Rafael.

Segundo o especialista, muitas vezes, o atendimento pode ser para algum esclarecimento, ou acompanhamento após atendimento presencial, ou ainda para orientação inicial para alguma situação que necessite deste tipo de intervenção. "Nesses casos, a tecnologia pode ser uma grande aliada do profissional médico e um auxílio muito valioso em garantir acesso ao atendimento por parte do paciente. Como muitas das coisas na nossa vida, o teleatendimento, desde que bem utilizado, é ótimo. Mal utilizado, pode causar danos graves", afirma.

O que o próprio Google tem feito?

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Conversamos com a equipe do Google, que nos levantou algumas ações que o motor de buscas tem feito visando aprimorar os resultados de busca para que fiquem mais precisos: "As pessoas acessam o Google diariamente procurando informações em que possam confiar. Nunca foi tão importante para o Google ajudar as pessoas a descobrir e consumir informações de qualidade. Também é essencial para nossa missão como empresa organizar as informações do mundo e torná-las acessíveis a todos".

Desde 2016, em parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein, o Google mantém uma série de quadros com informações a respeito de centenas das doenças mais buscadas pelos usuários em todo o mundo. Os quadros contêm ilustrações, dados básicos sobre cada doença, sintomas mais comuns e formas de contágio. De acordo com eles, tudo é devidamente curado e revisado por dezenas de médicos. Com essa parceria, o Google é capaz de oferecer um ponto de partida com mais de 1.000 verbetes.

O projeto foi desenvolvido no Brasil, no Centro de Engenharia na América Latina, que fica em Belo Horizonte. "Nosso objetivo é ajudar as pessoas a navegar e explorar entre as doenças relacionadas aos seus sintomas, e levar mais rapidamente ao que elas realmente estão procurando; ir mais a fundo no conteúdo ou já procurar um médico".

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A empresa conta que leva o fenômeno da desinformação muito a sério e, desde que começou, trabalha para combater aqueles que procuram manipular o sistema ou inundar os resultados da pesquisa com material de baixa qualidade e enganoso. "Investimos bilhões e desenvolvemos tecnologia de ponta para proteger nossos usuários contra spam, malware ou 'fazendas de conteúdo'. Nossos esforços para lidar com notícias enganosas são uma continuação desse compromisso".

E foi pensando nisso que o Google fez algumas ações, como mudanças no algoritmo para destacar na Busca conteúdo original de reportagens e furos jornalísticos e assegurar que eles apareçam por mais tempo, redução do fluxo de tráfego e dinheiro para sites e/ou criadores de conteúdo mal-intencionados, fornecimento de formas dos usuários alertarem (botão de feedback, por exemplo) e também selo de verificação de fatos para ajudar a identificar notícias falsas e financiamento de pesquisas e parcerias para ajudar a lidar com a desinformação, como o Projeto Comprova.

Além disso, em junho, o Google.org anunciou o investimento R$ 4 milhões na ONG Instituto Palavra Aberta para o desenvolvimento do EducaMidia, um programa de educação midiática que tem como missão preparar as novas gerações para o combate à desinformação. No início deste ano, lançaram também o Projeto Credibilidade, o capítulo brasileiro do Trust Project, que anunciou seis organizações de notícias comprometidas em apresentar indicadores confiáveis.

Em quem confiar?

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De acordo com Rafael, as fake news em saúde costumam ser um pouco diferente das outras áreas. Normalmente, fake news são originadas por pessoas que têm um interesse em criar desinformação. Na saúde, no entanto, a maior parte das notícias falaciosas são provenientes de fontes bem-intencionadas, porém sem propriedade o suficiente para divulgar as informações veiculadas. São entidades ou pessoas que acreditam estar fazendo o bem, mas divulgam informações que não passaram por crivo da ciência, ou seja, que até podem ser verdadeiras, mas não são comprovadas ou são realmente falsas e perigosas, mas o veiculante desconhece esses perigos ou verdades.

"Seguir este tipo de orientação pode levar, por exemplo, pessoas a pararem seus tratamentos e sofrerem consequências graves por isso. Ou, levar pessoas a ingerirem alguma substância (medicamento, erva, suplemento, etc.) que não trará o resultado desejado no tratamento ou trará alguma interação com medicamentos já em uso, ou efeito colateral indesejado ou que não poderia ser utilizada devido a alguma condição do paciente", explica o especialista.

No entanto, o professor da PUC ressalta a existência de canais de saúde bastante sérios na mídia que podem trazer informações muito úteis e contribuir para melhora na saúde das pessoas. "Por outro lado, há uma infinidade de informações mentirosas, incompletas, geradoras de medo e ansiedade e que causam um desserviço à saúde como um todo da população", relata, e emenda: "Dicas para informações pouco confiáveis podem ser quando o diagnóstico é 'muito certo', 'com certeza', 'sem dúvida', ou qualquer expressão demagoga. Canais confiáveis estão guarnecidos por informações científicas ou são representantes de sociedades científicas. As comunidades científicas ou sociedades de especialidades são ótimas fontes", sugere o médico.

Fonte: Com informações da Universidade de Waterloo