Estudo explica por que um casal não é afetado da mesma maneira pela covid-19
Por Fidel Forato | Editado por Luciana Zaramela | 01 de Outubro de 2021 às 12h35
Desde o surgimento do coronavírus SARS-CoV-2, uma questão que sempre intrigou os cientistas foi o porquê de pessoas em um mesmo relacionamento responderem de forma diferente à covid-19. Mais especificamente, um pode ficar gravemente doente, enquanto o outro passará assintomático ou nem se infectar. Para responder a essa questão, cientistas da Universidade de São Paulo (USP) estudaram casais brasileiros que foram expostos ao agente infeccioso.
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Publicado na revista científica Frontiers in Immunology, o estudo analisou amostras de sangue de 86 casais discordantes, em que apenas um paceiro contraiu a covid-19. De acordo com os autores, as pessoas mais resistentes ao coronavírus têm uma concentração maior de genes que contribuem para a ativação mais eficiente de um tipo determinado de glóbulo branco, as células Natural Killer (NK).
Estas células NK constituem a primeira linha de defesa do nosso organismo e são parte do sistema imunológico inato, ou seja, não dependem de experiência anterior para atacar agentes infecciosos, como o coronavírus SARS-CoV-2. Inclusive, em crianças, a concentração delas é naturalmente maior e essa é uma das justificativas para os mais novos adoecerem menos em decorrência da covid-19.
Entenda o estudo
Na pesquisa brasileira, os cientistas se concentraram nos genes conhecidos como MICA e MICB, que pertencem ao complexo MHC, localizado no cromossomo 6. Quando ocorre uma infecção, a expressão dos genes MICA e MICB é alterada. Eles interagem, diretamente, com os receptores das NKs e são responsáveis pela ativação desses glóbulos brancos. Eventualmente, podem impedir que uma infecção se instale no organismo saudável.
De acordo com os autores, quem foi infectado pelo coronavírus, teve as moléculas MICA aumentadas, enquanto as MICB estavam diminuídas. Agora, para aqueles que eram resistentes à covid-19, as MICB estavam aumentadas. Em outras palavras, o comportamento desses genes foi inverso.
Para explicar essa diferença, a principal hipótese é que as moléculas MICA aumentadas estejam clivadas (cortadas) na superfície celular infectada e passem para sua forma solúvel. Essa mudança pode inibir o receptor e diminuir a atividade das células NK. Segundo os pesquisadores, esse processo facilitaria o desenvolvimento da doença. Por sua vez, a diminuição do MICB reduziria a resposta imunológica, contribuindo para a gravidade da doença.
"Podemos pensar, futuramente, se seria possível aumentar a expressão do MICB com a ingestão de alguma droga, por exemplo, e ajudar as células de defesa a combaterem a infecção", explicou a professora Mayana Zatz, diretora do Centro de Estudos sobre o Genoma Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL) da USP e coordenadora da pesquisa.
Para acessar o estudo completo sobre as diferentes respostas imunológicas de um casal em caso da covid-19, publicado na revista científica Frontiers in Immunology, clique aqui.
Fonte: O Globo e Jornal da USP