Estresse na adolescência aumenta risco de doenças psiquiátricas na vida adulta
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
A ciência já conecta alguns problemas durante a adolescência, como o estresse excessivo, com o risco aumento de doenças psiquiátricas e de problemas comportamentais na fase adulta. No entanto, o mecanismo por trás dessa relação é pouco conhecido. Para entender o porquê, cientistas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) realizaram experimentos com ratos.
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Em estudo publicado na revista científica Translational Psychiatry, os autores explicam que, no cérebro de roedores jovens e cronicamente estressados, é possível observar alterações na expressão de genes relacionados ao metabolismo energético.
Em especial, a região mais afetada pelo estresse na adolescência é o córtex pré-frontal. Na maturidade, esta porção do cérebro é associada ao maior controle cognitivo sobre as emoções, podendo não acontecer tão bem com os adultos que foram adolescentes estressados.
Neuroplasticidade na adolescência
A descoberta feita com os roedores pode ser desdobrada preliminarmente para os humanos. “Assim como em humanos, o cérebro do rato adolescente é extremamente plástico, e tal plasticidade é observada tanto em nível molecular quanto comportamental”, afirma Thamyris Santos Silva, pesquisadora da universidade e primeira autora do trabalho, para a Agência Fapesp.
Nesse contexto, “mudanças em perfis de expressão de genes específicos, em diferentes áreas do cérebro, levam a alterações de conectividade celular, o que se amplifica sistemicamente, levando a alterações de comportamento persistentes na idade adulta, que são relacionadas a transtornos psiquiátricos”, acrescenta Thamyris.
Impacto do estresse
Em ratos cronicamente estressados na adolescência, o córtex pré-frontal apresentou menores níveis de expressão de genes-chave na função respiratória das mitocôndrias — estas organelas são as principais produtoras de energia química para a atividade dos neurônios.
No experimento, as cobaias foram mantidas em situações estressantes por 10 dias consecutivos. Em seguida, passaram por inúmeros testes. “Observamos que, nessa fase da vida, os animais estressados apresentaram, de forma mais pronunciada, um perfil comportamental ruim, com ansiedade e diminuição na sociabilidade e na função cognitiva”, explica Felipe Villela Gomes, professor da universidade e coordenador do estudo.
Durante as análises, os pesquisadores sequenciaram amostras de RNA mensageiro (mRNA), que é uma forma de medir quais os genes estavam em atividade no cérebro. Assim, descobriram que, entre os 10 genes mais afetados pelo estresse, a maioria tinha conexão com o estresse oxidativo e a função mitocondrial, o que pode deixar sequelas na vida adulta de ratos e, muito possivelmente, humanos.
Vale lembrar que o estresse crônico não é indesejado apenas na adolescência. Segundo outro estudo, esta condição pode ser um dos fatores responsáveis por aumentar o risco da doença de Alzheimer na velhice.
Fonte: Translational Psychiatry e Agência Fapesp