Essência de vape faz mal para o coração, segundo estudo
Por Nathan Vieira • Editado por Luciana Zaramela | •
Em 2019, muito se discutiu a respeito dos vapes, com direito a estudos apontando malefícios. No entanto, mesmo um ano depois, as discussões e os estudos ainda não tiveram um fim. Dessa vez, um estudo pré-clínico realizado por pesquisadores da University of South Florida Health (USF Health) apresentou informações não a respeito do vape em si, mas sim da essência, popularmente conhecida como juice, apontando os malefícios que ela traz para o coração.
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O estudo indicou que a nicotina e outros produtos químicos liberados para vaporização, embora geralmente menos tóxicos do que os cigarros convencionais, podem causar danos aos pulmões e ao coração. Por enquanto, os pesquisadores não chegaram a uma conclusão sobre o que acontece depois que as moléculas são inaladas, entram na corrente sanguínea e atingem o coração, mas eles relataram uma série de experimentos que avaliam a toxicidade dos juices em células cardíacas e em camundongos.
Segundo o pesquisador principal do estudo, Sami Noujaim, professor de Farmacologia molecular e fisiologia na USF Health, os sistemas eletrônicos de liberação de nicotina com sabores não são isentos de danos. "Nossas descobertas nas células e nos camundongos indicam que a vaporização interfere no funcionamento normal do coração e pode potencialmente levar a distúrbios do ritmo cardíaco", declarou durante uma entrevista ao veículo norte-americano EurekAlert.
O laboratório do Dr. Noujaim está entre os primeiros a investigar os efeitos que produtos químicos aromatizantes adicionados aos famigerados juices têm no coração, chegando a receber uma bolsa de US$ 2,2 milhões (o equivalente a R$ 11,3 milhões) do Instituto Nacional de Ciências de Saúde Ambiental do NIH para realizar essa pesquisa.
Os pesquisadores testaram a toxicidade de três sabores diferentes: tutti-frutti, canela e baunilha. Todos os três foram tóxicos para as células cardíacas expostas ao vapor. Fizeram também um experimento com as células cardíacas, expondo a três vapores distintos: o primeiro, que tinha apenas solvente, interferiu na atividade elétrica e na taxa de batimento das células cardíacas. O segundo, que tinha nicotina adicionada ao solvente, aumentou os efeitos tóxicos nessas células. Já o terceiro, composto de nicotina, solvente e juice de baunilha (o sabor previamente identificado como o mais tóxico) aumentou ainda mais os danos às células que batem espontaneamente.
Quanto aos camundongos, foram expostos a 60 baforadas com o juice de baunilha cinco dias por semana, durante 10 semanas. A variabilidade da frequência cardíaca (VFC) diminuiu em comparação com outros camundongos. A análise mostrou que a vaporização interferiu com a VFC normal nos camundongos ao interromper o controle do sistema nervoso autônomo da frequência cardíaca. Os camundongos expostos à vaporização foram mais propensos a um distúrbio anormal e perigoso do ritmo cardíaco conhecido como taquicardia ventricular em comparação com os camundongos que não foram expostos.
No entanto, ainda não se sabe se as descobertas dos camundongos serão traduzidas para as pessoas. Segundo o Dr. Noujaim, mais estudos pré-clínicos e humanos são necessários para determinar os efeitos das essências de vape a longo prazo.
"Nossa pesquisa é importante porque a regulamentação da indústria de vaporização é um trabalho em andamento", disse Noujaim. "A FDA [Food and Drug Administration, órgão regulatório dos EUA] precisa de informações da comunidade científica sobre todos os possíveis riscos da vaporização para regular com eficácia os vapes e proteger a saúde pública. Continuaremos a examinar como a vaporização pode afetar adversamente a saúde cardíaca", dissertou.
Fonte: EurekAlert!