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Especial | Profissionais da saúde são os grandes heróis da pandemia

Por| 07 de Abril de 2020 às 18h01

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Especial | Profissionais da saúde são os grandes heróis da pandemia
Especial | Profissionais da saúde são os grandes heróis da pandemia

Nesta terça-feira (7), comemora-se o Dia Mundial da Saúde. Trata-se de um dia de conscientização sobre a saúde, comemorado todos os anos sob o patrocínio da Organização Mundial da Saúde, bem como de outras organizações relacionadas. No entanto, não poderia haver data mais delicada e necessária para falar de saúde, um assunto que tem tomado conta do mundo inteiro.

Quem diria que 2020 seria um ano tão conturbado, com direito a essa reviravolta que foi o novo coronavírus (causador da COVID-19)? E em meio a tanto caos, não sobra espaço para reconhecer e enaltecer o trabalho das pessoas que estão na linha de frente contra essa doença, ajudando a população com todas as forças, colocando a própria saúde em risco para salvar outras vidas. Por isso, neste especial, homenageamos os profissionais da área, que têm sido verdadeiros heróis nessa pandemia.

Vale contextualizar, inclusive, um caso que ilustra muito bem o que estamos querendo trazer aqui: no último sábado (4), a técnica de enfermagem Adelita Ribeiro da Silva, de 38 anos, morreu vítima do coronavírus. Funcionária do laboratório do Hospital do Coração de Goiânia (GO), Adelita fez uma campanha, juntamente com os seus colegas, para que as pessoas ficassem em casa.

A foto viralizou nas redes sociais, principalmente depois do ocorrido. Frente a isso, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), fez uma postagem em seu perfil no Instagram lamentando a morte da profissional da saúde e exaltando o heroísmo de quem enfrenta a COVID-19.

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Vale lembrar também que, em fevereiro, morreu o oftalmologista chinês Li Wenliang, que foi repreendido pela polícia do país depois de ter feito um alerta sobre o novo coronavírus em dezembro do ano passado. Sua morte foi causada pelo próprio vírus em questão. O caso gerou comoção e revolta na população chinesa, principalmente nas redes sociais.

Acontece que em dezembro, quando o surto começou em Wuhan, cidade com 11 milhões de habitantes, o oftalmologista enviou uma mensagem aos colegas em que alertava para o surgimento de um novo coronavírus na cidade. Com isso, a polícia chinesa o obrigou a assinar um documento no qual denunciava o aviso como um boato “infundado e ilegal” e, no dia 30 de dezembro, Wenliang foi convocado pela polícia e repreendido por espalhar rumores. A morte de Li Wenliang desencadeou revolta nas redes sociais chinesas, e o oftalmologista passou a ser considerado um herói pela população.

Na linha de frente

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Desde a descoberta, ou desde a fase inicial do surto de coronavírus, profissionais de saúde estão literalmente dando suas vidas para salvar outras pessoas, se isolando de suas famílias, dedicando uma atenção extrema. Para entender melhor como tem sido o impacto do coronavírus na vida desses profissionais da saúde, conversamos com a alergista e imunologista Larissa Araújo Ribeiro.

Larissa trabalha no pronto atendimento e dá dois plantões de 12 horas por semana em um hospital de Araxá, município de Minas Gerais. "Com esse possível contato com o vírus, tenho as minhas preocupações, intensifico as minhas precauções, mas não estou isolada", revela. A médica mora com o marido e com o filho de nove meses. "Nosso núcleo familiar está isolado. Não estamos encontrando avós e pais, por seguir a orientação do isolamento, e por sermos possíveis carreadores do vírus. Trabalhando na linha de frente, eu posso contrair esse vírus mesmo sem saber. Posso levar para a minha casa", observa.

Quanto ao impacto do coronavírus em sua rotina, a alergista e imunologista afirma: "A minha vida nesses últimos 30 dias se resume em preocupação pelo que está por vir, força por estar na linha de frente e não poder fraquejar e fé em que tudo ficará bem e sairemos melhores dessa árdua luta".

A especialista também reconhece que os profissionais de saúde inevitavelmente colocam a saúde alheia antes da própria. "Isso do profissional da saúde se achar imune a tudo, achar que não tem leva o perigo com ele... a gente tem um pouco disso. Não sei se é até um fato necessário da nossa profissão, de quem está na linha de frente. De achar que as pessoas precisam tanto da gente, que a gente não vai adoecer, que não vai acontecer nada. Então acredito que a gente coloca a saúde dos outros antes da nossa e talvez por isso agora seja tão importante enfatizar ainda mais a necessidade dos equipamentos de proteção individual. Estamos tendo muito treinamento atualmente, muito curso", conta a profissional.

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Ela revela que é realmente necessário olhar um pouco para si antes daquela urgência, e se proteger, até porque se o profissional da saúde estiver infectado, é menos um para ajudar nessa batalha.

E a saúde mental desses profissionais?

Além de tudo isso, tem uma questão muito importante, que é a saúde mental. Um estudo da UFRGS tem sugerido treinamento de profissionais de saúde para lidar com estresse, trauma e depressão. O autor principal do estudo, Felipe Ornell, psicólogo clínico e doutorando do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas do Departamento de Psiquiatria e Ciências do Comportamento da UFRGS, recomenda a necessidade de implantação de equipes multidisciplinares, abertura de canais de informação, disponibilidade de conteúdo psicoeducacional, treinamento dos profissionais de saúde para gerenciamento do estresse, trauma, depressão e comportamento de risco, além, claro, de incentivo à pesquisa científica e acesso a serviços estruturados de saúde mental.

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“Não existem protocolos ou diretrizes universais de práticas de apoio psicossocial aplicáveis para todas as emergências e desastres. Possivelmente isso é decorrente dos protocolos serem heterogêneos, desenvolvidos para eventos que acometeram moradores de áreas geográficas mais ou menos específicas, e por isso marcados por particularidades. O que não é o caso de uma pandemia”, explica.

Além dessas pessoas que estão na linha de frente da batalha contra o vírus, outros profissionais também fazem a sua parte, como os cientistas e pesquisadores que trabalham incansavelmente em busca de remédios e vacinas.

Ciência, pesquisa, informação

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Outro olhar que podemos ter sobre esses heróis da pandemia é diante de quem não está necessariamente na linha de frente, mas que coloca seu conhecimento em busca de respostas e avanços. O Canaltech conversou com Natália Pasternak, presidente do Instituto Questão Ciência (IQC) e bióloga formada pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), PhD com pós-doutorado em Microbiologia, na área de Genética Molecular de Bactérias pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP).

Natália revela que sua equipe está trabalhando muito mais do que antes, em cima de um tema único, que é algo que geralmente não faz em seu trabalho de comunicação de ciência, dedicando muitas horas por dia. "Eu trabalho com desinformação, com fake news, pseudo ciência, e alegações têm sido feitas com uma frequência muito maior do que geralmente consigo lidar. Então a negação da ciência tem tornado o meu trabalho muito mais intenso. A gente tem dormido muito pouco, tem trabalhado até às três ou quatro da manhã para dar conta de rebater todas as alegações de curas milagrosas, de que não precisa de isolamento, usar máscara ou não usar máscara. As pessoas estão muito confusas", conta.

Sobre as notícias da pandemia, ela ainda completa: "Não estou frente a frente com o vírus, então não preciso entrar em isolamento da minha família, mas estou frente a frente com a desinformação sobre o vírus, então isso me tira bastante do convívio familiar simplesmente por excesso de trabalho. Meu trabalho é mais com comunicação de ciência".

Por ter questões de saúde que a impedem de estar na linha de frente, Natália viu no combate às falsas informações uma forma de aplicar seu conhecimento e ajudar as pessoas. "Eu não posso estar no laboratório, como muitos colegas que estão auxiliando nos testes diagnósticos e trabalhando direto com o vírus por causa de algumas questões de saúde que me impedem, então estou tentando fazer a minha parte aqui, cuidando de toda a parte de informação sobre ciência para que chegue na população", acrescenta a bióloga.

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Natália também traz à tona a exaustão, o desespero de não poder ver seu pai, e acha que essa mudança de relações sociais é muito estranha para se adaptar. "Ter a família em casa o tempo todo, cuidar da casa, trabalhar e arranjar um tempo saudável para ficar com a família ao mesmo tempo, tudo isso está numa fase de adaptação muito complicada. As dificuldades ainda vão dar muita dor de cabeça para a gente", observa a profissional. "Por um lado, os pais estão ficando mais com seus filhos, espero que a gente possa tirar algo de bom disso, mas ficar enclausurado não é bom nem para as crianças, nem para a gente. Eu não gosto de romantizar isso que está acontecendo".

Apesar de estar relacionada diretamente com a ciência, e não tão diretamente com o atendimento, Natália reconhece o heroísmo presente nessa profissão, nos médicos, enfemeiros, etc. "Os profissionais de saúde que eu conheço colocam a saúde deles por último, se preocupam mais com os outros, e é claro que por mais que eles saibam que eles têm que estar saudáveis para poder cuidar dos pacientes, eles acabam não se alimentando, não se cuidando, não dormindo, porque eles sabem que no momento é isso que eles têm que fazer", opina.

A bióloga acredita que esses profissionais atualmente devem estar sob intensa pressão, tanto deles mesmos, do sistema de saúde, de saber que estão sobrecarregados, dos familiares, dos pacientes. "Temos que dar todo o apoio possível nessa hora, principalmente nós que somos cientistas e nós que trabalhamos com informação, para que a informação de qualidade chegue também nos profissionais de saúde, para que eles possam ter uma prática médica tranquila, informada, de saber que estão fazendo o melhor pelo paciente, porque se chegar uma informação desencontrada (como um medicamento que pode, um que não pode, um que está sendo usado em determinado lugar), imagina como fica a cabeça do profissional de saúde", observa. "Então acho que é um momento dos cientistas darem uma tranquilidade para que os profissionais de saúde possam trabalhar em paz", acrescenta.

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Fonte: Com informações do Jornal de Brasília e da  Agência Bori