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Eficácia da CoronaVac diminui com a idade, e uma única dose não basta; entenda

Por| Editado por Luciana Zaramela | 25 de Maio de 2021 às 17h30

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alexstand/Envato
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Para entender como a vacina CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e pelo Instituto Butantan, funciona no mundo real, um grupo internacional de pesquisadores investigou sua eficácia em um estudo com 15,9 mil pessoas com 70 anos ou mais no Estado de São Paulo. As descobertas trazem importantes questões para a imunização contra o coronavírus SARS-CoV-2, como a queda da resposta conforme a idade, que cai consideravelmente menor após os 80 anos.

Publicado na plataforma medRxiv, o preprint — artigo científico ainda não revisado por pares — observou que a vacina CoronaVac tem uma efetividade de 42%, após 14 dias de aplicação da segunda dose em pessoas com idade média de 76 anos contra o coronavírus. Além disso, uma única dose do imunizante não confere imunidade.

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Menor eficácia da CoronaVac dependendo da idade

Só que esses dados de queda na eficácia da fórmula contra a COVID-19 podem variar bastante. Por exemplo, indivíduos entre 70 e 74 anos apresentaram uma proteção de 61,8%, no entanto, o número cai para 48,9% quando se observa aqueles entre 75 e 79 anos. Por fim, quem chegou ou passou dos 80 desenvolve apenas uma eficácia de 28% neste intervalo de duas semanas.

Mesmo que os dados pareçam surpreendentes, essa perda de efetividade já era esperada pelos pesquisadores. “O sistema imune não é ótimo com idades avançadas, presença de outras doenças, ou seja, comorbidades e outros aspectos, num processo que chamamos de imunosenescência”, explica o epidemiologista Otávio Ranzani, principal autor do artigo, para o Jornal da USP.  “Isso ocorre para outras vacinas também”, complementa.

Vacina CoronaVac contra a variante de Manaus do coronavírus

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Vale lembrar que “a pesquisa avaliou a efetividade da vacina CoronaVac contra infecções sintomáticas pelo SARS-CoV-2 na população com 70 anos ou mais do Estado de São Paulo, em um contexto onde a maioria das infecções é pela variante P.1 [cepa de Manaus], ou seja, verificou se a vacina protege com infecções sintomáticas na vida real”, comentou Ranzani. É importante observar também que a fórmula foi desenvolvida a partir do coronavírus original, identificado pela primeira vez na China.

Para o estudo, foram avaliados dados coletados entre 17 de janeiro e 29 de abril. “Identificamos casos de COVID-19 confirmados pelo teste RT-PCR que tinham doença sintomática com casos de pessoas testadas que deram negativo para a doença, usando dados dos sistemas de vigilância nacional e o banco de dados de vacinação estadual”, detalha o epidemiologista.

Tanto os casos positivos quanto os negativos foram comparados por idade, sexo, raça, município, condição anterior e data do teste de RT-PCR. Com essas questões, foi possível estimar a eficácia para cada grupo. No total, foram selecionados 15.900 indivíduos avaliados — o que equivale a 7.950 pares —, com média de idade de 76 anos, em todo o estudo.

Segundo Ranzani, “a efetividade global cai com a idade, sendo maior nas pessoas abaixo de 75 anos e menor após 80 anos. Em uma análise exploratória, encontramos que a efetividade atinge 50% após 28 dias da segunda dose na população com 70 anos ou mais”.

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Primeira dose da CoronaVac não tem eficácia

Além disso, o estudo não conseguiu identificar efeito protetor na primeira dose da CoronaVac, o que é um achado importante para os gestores de saúde pública. “É preciso que os programas garantam a segunda dose da CoronaVac, no tempo recomendado, para todos”, defende o epidemiologista. “Os programas devem planejar uma otimização na vacinação dos idosos a partir de 80 anos e frágeis, seja com reforço ou troca de tipo de vacina, porém isso precisa ser estudado ainda”, destaca. Atualmente, a dificuldade na importação do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) fez com que pessoas tivessem problemas para receber a segunda dose da fórmula.

"Esses achados ressaltam a necessidade de manter intervenções não farmacêuticas quando a vacinação em massa com CoronaVac é usada como parte de uma resposta epidêmica", destacam os autores do estudo, no artigo. Neste cenário, é fundamental o uso de máscaras e o distanciamento social, ou seja, é preciso respeitar todas as medidas de proteção contra a transmissão do coronavírus.

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Agora, "mais pesquisas são necessárias sobre como otimizar a vacinação de pessoas muito idosas (≥ 80 anos), considerando os diferentes tipos de vacinas ou esquemas de dosagem por idade", alertam os autores da investigação. É possível, por exemplo, que seja instituída uma terceira dose para manter a proteção ativa contra o coronavírus ou ainda mesclar um outro imunizante, procurando ampliar a resposta.

No estudo, estiveram envolvidos pesquisadores das seguintes instituições ou instituições: Universidade de São Paulo (USP); Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); Universidade de Brasília (UnB); Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS); Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS); Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Avaliação em Tecnologias em Saúde (INCT-IATS); Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo; Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS); Instituto de Saúde Global de Barcelona (Espanha); Universidade da Flórida; Universidade de Yale; e Universidade de Stanford (Estados Unidos).

Para acessar o preprint completo, publicado no site medRxiv, clique aqui.

Fonte: Jornal da USP