Edição genética com a técnica CRISPR aumenta risco de câncer, alerta estudo
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Para ser usada de forma rotineira e segura, a técnica de edição genética CRISPR deve ser melhor estudada, segundo uma equipe de pesquisadores israelenses. Embora o método seja eficaz, a ciência não compreende, hoje, todos os seus impactos no organismo e, em tese, a estabilidade dos genes pode ser comprometida. Em última caso, isso pode provocar o surgimento de cânceres a longo prazo.
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Publicado na revista científica Nature Biotechnology, o estudo sobre os riscos da técnica CRISPR foram liderados por cientistas da Universidade de Tel Aviv (TAU), em Israel. Vale lembrar que a invenção recebeu o Prêmio Nobel Química, em 2020, pelo seu potencial valor para a ciência no controle de inúmeras doenças, como o próprio câncer.
Entendendo o risco da técnica de edição genética CRISPR
O CRISPR é uma tecnologia inovadora para a edição do DNA, já que permite "quebrar" sequências do código genético em locais específicos. Com isso, é possível excluir genes indesejados ou inserir outros benéficos. Para levar essa espécie de "tesoura" ao organismo, é comum usar alguns vírus como vetores, após serem editados geneticamente.
No recente estudo israelense, a equipe de pesquisadores detectou a perda de material genético em um percentual significativo — de até 10% das células tratadas —, após o procedimento. Em tese, essa perda pode desestabilizar o genoma do paciente e, consequentemente, aumenta o risco de câncer para o indivíduo.
Apesar da descoberta, este risco também é apontado por outras intuições e grupos, como o Instituto Nacional do Câncer (NIH), nos EUA. Em artigo sobre a técnica, o NIH alerta para o risco de edições genéticas fora do alvo. "Os cientistas estão preocupados de que tais edições não intencionais possam ser prejudiciais e até mesmo tornar as células cancerígenas", informa, apontando a necessidade estudos complementares.
O que pode ser feito para evitar o risco de câncer?
"Nossa intenção neste estudo foi esclarecer os riscos potenciais no uso da terapêutica CRISPR. Fizemos isso mesmo sabendo das vantagens substanciais da tecnologia. Na verdade, em outros [estudos] desenvolvemos tratamentos baseados em CRISPR, incluindo uma terapia promissora para a AIDS", explicam os pesquisadores Adi Barzel e Alessio Nahmad, da TAU, em comunicado.
"Em outras palavras, avançamos essa tecnologia altamente eficaz e, ao mesmo tempo, alertando contra seus perigos potenciais Isso pode parecer uma contradição, mas, como cientistas, estamos bastante orgulhosos de nossa abordagem, porque acreditamos que essa é a própria essência da ciência: não 'escolhemos lados'. Examinamos todos os aspectos de uma questão, tanto positivos quanto negativos", acrescentam. Agora, mais estudos são necessários para validar o uso rotineiro desta tecnologia na saúde.
Fonte: Nature Biotechnology, EurekAlert! e NIH