Dispositivo rastreia anticorpos da covid em cinco minutos
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Independente dos avanços no controle da covid-19 na maioria dos países, a doença ainda é um desafio para a saúde pública global e a vigilância epidemiológica deve ser mantida, como orienta a Organização Mundial da Saúde (OMS). Neste cenário, pesquisadores brasileiros desenvolvem um novo dispositivo que consegue detectar anticorpos contra o coronavírus SARS-CoV-2 em 5 minutos, de forma precisa e barata.
A vantagem do dispositivo é que a tecnologia rastreia tanto os anticorpos produzidos após uma infecção pelo coronavírus quanto aqueles induzidos pelas vacinas da covid. Nos testes, a equipe de cientistas conseguiu identificar, com sucesso, as proteínas do sistema imunológico de pessoas que receberam duas doses da CoronaVac e também daqueles que contraíram o vírus.
Publicado na revista ACS Biomaterials Science and Engineering, o estudo foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do ABC (Ufabc) e do Instituto do Coração (InCor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Fmusp), com apoio da Fapesp.
Alternativa para medir anticorpos da covid na população
Pensando no pós-vacinação e em formas de manter a taxa de imunidade elevada contra a covid-19, o dispositivo pode ser, no futuro, uma alternativa para acompanhar os níveis de anticorpos da população, ajudando a definir qual é a melhor periodicidade para que novas doses do imunizante sejam distribuídas.
Vale lembrar que, durante as fases mais agudas da covid em São Paulo, testes sorológicos eram feitos na população, através da iniciativas como o SoroEpi MSP. No entanto, o número de amostras era limitado a menos de mil. Com novas tecnologias, será possível escalonar os testes.
Como funciona o novo dispositivo que pode detectar anticorpos da covid?
Para criar a tecnologia de diagnóstico dos anticorpos da covid-19, os pesquisadores utilizaram um material bastante usado na área de metalurgia, o óxido de zinco. Além disso, ele foi combinado, de forma inédita, com o FTO, um tipo de vidro condutor de elétrons.
“Através dessa combinação inusitada e acrescentando uma biomolécula, a proteína viral Spike, foi possível desenvolver uma superfície com capacidade de detecção de anticorpos contra o vírus SARS-CoV-2", explica Wendel Alves, professor da Ufabc e um dos autores do artigo, em comunicado.
"O eletrodo criado detectou anticorpos contra o novo coronavírus em amostras de soro em cerca de cinco minutos, com índice de sensibilidade de 88,7% e especificidade de 100%", acrescenta o cientista. Este número de acertos é maior que o do teste convencional ELISA (ensaio de imunoabsorção enzimática), considerado padrão-ouro na área de testes de anticorpos, segundo a equipe.
Agora, o próximo passo dos pesquisadores é adaptar a plataforma para torná-la portátil. A ideia é permitir a conexão de dispositivos móveis e, com isso, facilitar a detecção de anticorpos contra a covid e outras doenças infecciosas em locais com menos acesso.
Fonte: ACS Biomaterials Science and Engineering e Agência Fapesp