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"Desafio Humano": estudo infecta pessoas com covid e investiga o que acontece

Por| Editado por Luciana Zaramela | 04 de Abril de 2022 às 17h05

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Chalabala/Envato Elements
Chalabala/Envato Elements

No Reino Unido, 36 pessoas foram infectadas, de forma proposital, com o coronavírus SARS-CoV-2 e foram acompanhadas 24 horas por dia, durante duas semanas, por um grupo de pesquisadores. A ideia era entender como o vírus avançava pelo corpo. Este é o primeiro estudo do tipo "desafio humano" já feito para a covid-19, segundo a equipe de cientistas britânicos responsável pela pesquisa.

Publicado na revista científica Nature Medicine, o estudo sobre os desdobramentos da covid-19 foi liderado por pesquisadores do Imperial College de Londres. Os testes foram realizados em março de 2021, quando a variante Ômicron (BA.1) e a subvariante BA.2 ainda não eram dominantes.

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Segundo os autores, foram quatro principais descobertas sobre o comportamento do coronavírus no organismo humano e as suas implicações no combate à doença foram feitas no experimento:

  • Para contaminar pessoas saudáveis, uma minúscula gota de 10 mícrons (10 milionésimos de metro), eliminada a partir da tosse ou do espirro, pode adoecer alguém;
  • Em apenas dois dias da infecção, o paciente já começa a eliminar o vírus da covid-19 e, eventualmente, pode infectar outras pessoas;
  • As pessoas eliminam o coronavírus antes dos primeiros sintomas;
  • Amostras coletadas na boca são mais sensíveis e melhores que as do nariz nos primeiros dias para se detectar a infecção.

É arriscado fazer um desafio humano?

Vale explicar que o "desafio humano" é um tipo de estudo controverso e, dependendo da forma como é conduzido, pode levantar importantes questões éticas. Isso porque uma pessoa saudável é contaminada e a infecção da covid-19, dependendo de uma série de fatores, pode ser mortal. É impossível presumir que o risco do voluntário é zero.

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Por outro lado, é um modelo de pesquisa valioso, principalmente, para doenças que são pouco conhecidas. Outro critério é que está doença deve ter começo, meio e fim, ou seja, não deve gerar, na maioria das vezes, prejuízos permanentes ao indivíduo. Por fim, a pessoa deve ter plena consciência dos riscos e estar em boas condições de saúde.

A vantagem é que a equipe de médicos e pesquisadores pode acompanhar todo o ciclo da doença. "Realmente, não há outro tipo de estudo em que você possa fazer isso, porque normalmente os pacientes só chamam a sua atenção se tiverem desenvolvido sintomas e, portanto, você perde todos os dias anteriores em que a infecção está se formando", explica Christopher Chiu, um dos autores do estudo, para a CNN.

Entenda o experimento

No experimento, 36 voluntários, com idades entre 18 e 30 anos, foram infectados pelo coronavírus. Segundo a equipe, nenhum dos participantes apresentava qualquer fator de risco para a covid-19. Todos foram expostos ao vírus pelo nariz. Após a infecção, as pessoas foram internadas em um hospital por 14 dias.

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Apesar de todos serem expostos ao vírus da covid-19, apenas 18 voluntários foram infectados. Entre os 18, dois foram assintomáticos. Os pacientes relataram apenas sintomas leves, como congestão nasal, espirro e dores de garganta. Ninguém evoluiu para formas graves da doença, o que pode ser justificado pela baixa quantidade de vírus a que foram expostos.

Entre os infectados, a maioria (83%) relatou a perda do olfato (anosmia) ou alterações no sentido em algum grau. Passados seis meses do término do estudo, um único voluntário não recuperou a capacidade de sentir os cheiros, mas a equipe informa que a habilidade está em processo de recuperação. Quanto ao tempo em que permanecem infecciosos, a equipe calcula que o coronavírus é liberado entre 6 a 12 dias do início da infecção.

Além disso, a equipe concluiu que é melhor coletar amostras da saliva que do nariz, já que tendem a apontar a presença do vírus de forma mais precoce. Em média, 40 horas após o início da infecção. No caso do nariz, o tempo médio é de 58 horas. Recentemente, uma pesquisa da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, divulgou descoberta semelhante sobre a maior precisão do teste de saliva.

Agora, a equipe quer entender o porquê de alguns indivíduos entrarem em contato com o vírus, mas não serem infectados. "Estudos futuros identificarão os fatores imunológicos associados à proteção naqueles participantes que não desenvolveram infecção ou sintomas e definirão o efeito da imunidade prévia e da variação viral no resultado clínico", explicam os autores.

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Fonte: Nature Medicine e CNN