Covid longa: ressonância revela quais órgãos são mais afetados
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
A eliminação do coronavírus SARS-CoV-2 do organismo representa a cura da doença para a maioria dos indivíduos. No entanto, alguns pacientes continuam a apresentar sintomas relacionados à covid-19 por meses, como dor no peito, cansaço e dificuldade para respirar, o que é classificado como covid longa. Eis que, pela primeira vez, cientistas britânicos analisam os impactos dessas sequelas nos órgãos, através de exames de ressonância magnética.
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Com apoio do National Institute for Health and Care Research (NIHR), a recente pesquisa analisou as condições médicas de pacientes hospitalizados em decorrência da covid-19. Passados cinco meses da internação, esses 259 voluntários realizaram exames de ressonância, doaram amostras de sangue e responderam questionários. Em seguida, as suas possíveis alterações foram comparadas com a de 52 pessoas que não contraíram a infecção.
Quais órgãos são mais afetados pela covid longa?
Na revista científica The Lancet Respiratory Medicine, os cientistas compartilharam algumas descobertas, no mínimo, interessantes sobre as sequelas da covid-19. Por exemplo, em um terço dos pacientes internados pela covid-19, era possível identificar danos e anomalias em mais de um órgão do corpo após cinco meses.
Na pequena amostra, os cientistas também conseguiram identificar quais são os três órgãos mais afetados pela covid longa:
- Pulmão — os pacientes internados tinham um risco 14 vezes maior de apresentar anormalidades nesse órgão do que o grupo controle;
- Cérebro — o risco de alterações era três vezes maior;
- Rins — o risco foi duas vezes maior.
Na contramão desses achados, o coração e o fígado foram relacionados a um baixo risco de danos duradouros após a infecção pela covid-19 e a internação hospitalar. O porquê disso ainda precisa ser melhor investigado em estudos posteriores.
Quem corre mais risco de ter covid longa?
“A idade do indivíduo, a gravidade da infecção aguda por covid-19 e as comorbidades [prévias] foram fatores significativos para determinar quem teve lesão nos órgãos durante o [período de] acompanhamento”, afirma Betty Raman, da Universidade de Oxford, em nota.
"Nossas descobertas também destacam a necessidade de serviços de acompanhamento multidisciplinar, de longo prazo, focados na saúde pulmonar e extrapulmonar (rins, cérebro e saúde mental), especialmente para aqueles hospitalizados em decorrência da covid-19”, completa Raman.
Efeito da vacina na covid longa
Entre as limitações do estudo, está o fato dos pacientes terem contraído a covid-19 entre os anos de 2020 a 2021. Nesse período, a maioria das pessoas não tinha recebido sequer a primeira dose da vacina, o que limita a abrangência dos achados para os indivíduos imunizados e com as doses de reforço em dia. Outros estudos já demonstraram que a imunização é um importante fator de proteção contra a covid longa.
Fonte: The Lancet Respiratory Medicine e NIHR