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COVID-19 | Imunidade de rebanho é pouco provável no BR, apontam cientistas

Por| 09 de Outubro de 2020 às 07h00

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Laura Dewilde/Unsplash
Laura Dewilde/Unsplash

Na pandemia da COVID-19, muito se tem discutido sobre a imunidade de rebanho contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2). A ideia é que, a partir de uma determinada porcentagem de pessoas contaminadas pelo vírus, mesmo quem ainda não teve a doença teria menos chances de se contaminar. Com mais de cinco milhões de casos no país, um grupo de pesquisadores aponta que essa situação ainda não é realidade para os estados brasileiros.

Em nota técnica, pesquisadores de diferentes institutos e universidades nacionais observam que a imunidade de rebanho é uma possibilidade distante dos brasileiros, através de análises de dados sobre a epidemia no país. Entre o grupo, estão integrantes da  Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidade de Brasília (UNB).

O país ainda está distante dessa imunidade contra a COVID-19, porque a taxa considerada mínima para o alcance desse tipo de imunização, segundo o grupo de pesquisadores, é de 60% de contaminados pelo coronavírus na população local. Por outro lado, vale destacar que há outras pesquisas que apontam para taxas de contaminação muito menores.

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Casos da COVID-19 nos estados

A partir do levantamento feito pelo grupo, hoje, os estados que apresentam as maiores estimativas do percentual de infectados pelo coronavírus, incluindo os casos assintomáticos, são: Roraima (27%); Rio de Janeiro (23%); e Distrito Federal (20%). Médias consideradas menores do que as necessárias para a imunidade de rebanho.

Com mais de um milhão de casos da COVID-19, o estado de São Paulo possui índice estimado de 15%. Agora, os estados de Santa Catarina e Paraná apresentam as estimativas mais baixas (7%), seguidos por Minas Gerais e Rio Grande do Sul (8%); e Mato Grosso do Sul (9%). "Nossas estimativas apontam para o fato que em todas as unidades da federação estamos ainda muito longe do que seria uma imunidade de rebanho", defendem os pesquisadores na nota técnica.

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Pesquisa sobre infecções por coronavírus

"Para realizar os cálculos, utilizamos um modelo que consiste em separar toda a população em seis categorias: proporção de indivíduos suscetíveis, ou seja, não imunizados e ainda não infectados; proporção de indivíduos expostos, que são infectados, mas ainda não contagioso; proporção de indivíduos sintomáticos, que são aqueles infectados, contagiosos e com sintomas; proporção de indivíduos infectados e não relatados, usualmente infectados leves e assintomáticos; proporção de indivíduos hospitalizados; além da proporção de indivíduos recuperados da Covid-19 e imunizados", explica Fulvio Alexandre Scorza, professor do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e um dos pesquisadores envolvidos na nota técnica.

Para Scorza, "os dados mostram que em todas as unidades da federação existe ainda uma enorme distância do que seria uma imunidade de rebanho. Acreditar nisso traz importante risco, já que acarretaria muitos custos de vidas, em cuidados hospitalares, não apenas de curto prazo, mas possivelmente por anos, dadas as inúmeras sequelas da COVID-19, além de maior queda da atividade econômica, provocada por um quadro de desalento decorrente de uma epidemia fora de qualquer controle".

Mais óbitos por COVID-19

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Uma outra questão levantada pelo grupo de especialistas é que os números de óbitos, provavelmente, são maiores que os registrados. Para ser mais preciso, o levantamento indica que a quantidade real de mortes por COVID-19 deve ser, no mínimo, 30% superior aos valores atuais. 

"Os fatores que explicam essa diferença já são conhecidos. Além do atraso na notificação da morte por COVID-19 pela demora nos resultados de testes, há a demora na testagem após o óbito, resultando em falso-negativo, e também a não realização do teste, sem contar a morte sendo registrada como devida a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por causa desconhecida", detalha Scorza.

"É fundamental que [as autoridades] baseiem suas decisões na melhor evidência científica disponível, para que pesem alternativas e debatam as consequências de diferentes cursos de ação. Nesse sentido, devem buscar como exemplo a realização de extensas campanhas públicas de informação da população sobre os cuidados essenciais, a implementação de ampla política de testagem, além de conduzir com muita cautela o processo de flexibilização, incluindo a abertura de escolas, antes do real controle da pandemia, sob risco de consequências graves para sua população", conclui o pesquisador.