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COVID-19 | Imunidade de rebanho pode ser alcançada com até 20%, diz estudo

Por| 27 de Julho de 2020 às 15h00

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Pixabay
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Assim que a pandemia começou, a estimativa dos especialistas era que a imunidade de rebanho (porcentagem da população que, uma vez imunizada, impediria o surto de se alastrar) fosse atingida quando cerca de 60% da população estivesse imune, mas, na última sexta-feira (24), foi publicado um estudo que estima que a imunidade de rebanho pode ser alcançada em uma determinada região se de 10% a 20% da população for infectada.  

Durante entrevista à Agência FAPESP, a co-autora do estudo, a biomatemática portuguesa Gabriela Gomes, atualmente da University of Strathclyde, no Reino Unido, explica que o estudo mostra que não é preciso sacrificar a população deixando-a circular livremente para que a imunidade coletiva se desenvolva, e sugere que também não há necessidade de manter as pessoas em casa durante muitos e muitos meses, até que se aprove uma vacina.

A co-autora cita um modelo matemático desenvolvido em colaboração com cientistas do Brasil, Portugal e Reino Unido. Entre os coautores do artigo estão também o professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) Marcelo Urbano Ferreira e seu aluno de doutorado Rodrigo Corder. O modelo leva em conta o fato de que o risco de contrair uma determinada doença varia de pessoa para pessoa.

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Gabriela Gomes explica que os fatores que influenciam o risco de um indivíduo contrair a COVID-19, por exemplo, podem ser divididos em ordem biológica (como a genética, a nutrição e a imunidade) e fatores comportamentais (nível de contato com outras pessoas). Ela diz que os modelos que estimaram o limiar de imunidade ao SARS-CoV-2 variando entre 50% e 70% consideram que o risco de infecção é o mesmo para todos os indivíduos.

A versão mais recente do trabalho se baseia no número de novos casos diários da Bélgica, Inglaterra, Espanha e Portugal, e os autores apontam que, embora o coeficiente de variação seja diferente em cada país, de forma geral, o limiar de imunidade coletiva tende a ficar sempre entre 10% e 20%.

Rodrigo Corder afirma que, em locais onde o limiar de imunidade coletiva já foi alcançado, a tendência é que o número de novos casos continue a cair mesmo se a economia for reaberta, mas caso as medidas de distanciamento sejam relaxadas antes de a imunidade coletiva ser alcançada, os casos provavelmente voltarão a subir e os gestores devem estar atentos.

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Segundo os autores, o fato de o limiar de imunidade coletiva ser menor que o inicialmente previsto não diminui a importância das medidas de saúde pública para conter a disseminação do vírus e reduzir o número de mortes. Marcelo Urbano Ferreira pretende testar em um estudo de campo no Acre a diferença entre o número real de infectados e o número de casos diagnosticados e o tempo de duração da imunidade contra o SARS-CoV-2.

“No trabalho, consideramos que em torno de 10% dos casos reais são detectados pelos serviços de saúde e que a imunidade contra o vírus dura ao menos por um ano. Vamos ver se isso se confirma em uma população que acompanhamos já há alguns anos na cidade de Mâncio Lima”, conta o pesquisador.

É cedo para cogitar imunidade de rebanho?

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Por outro lado, na primeira quinzena de julho, cientistas afirmaram que é cedo demais para saber se essa imunidade de rebanho já se encontra em ação. Segundo esses especialistas, ainda não é possível saber se alcançamos imunidade coletiva em algumas cidades, mas os cientistas estão cada vez mais convictos que ela será alcançada com percentual da população menor dos que os 60%, porque em nenhum lugar do mundo a prevalência de anticorpos passou de 30%, e ainda assim o número de infectados e mortos diminuiu.

Fonte: medRxiv via Agência FAPESP