Coronavírus pode deixar algumas pessoas sem olfato para sempre
Por Nathan Vieira |
Dentre os sintomas da COVID-19, perda de olfato é um dos mais conhecidos. No entanto, ao contrário do que se pensava, ele pode não ser passageiro. Acontece que, nesta terça-feira (4), foi divulgado um estudo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-USP) que aponta justamente que essa perda pode ser permanente.
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Dentre os pacientes que fizeram parte dessa pesquisa, cerca de 80% tiveram perda parcial ou total do olfato e 76% disseram perderam o paladar. Dois meses e meio após a conversa com esses pacientes, os pesquisadores conseguiram contatar 140 deles de novo, e mais de 95% contaram que a capacidade de sentir cheiros voltou total ou parcialmente, mas quase 5% dessas pessoas afirmaram que o sintoma permaneceu.
Cientistas de instituições norte-americanas têm investigado a causa da anosmia. Conforme um artigo publicado na revista científica Science Advances, os pesquisadores descobriram que os neurônios sensoriais olfativos não expressam o gene (ACE2) que codifica a proteína spike do novo coronavírus, que é a chave para a infecção da COVID-19 em células humanas. Ou seja, esses neurônios, diferentemente do que os cientistas acreditavam, são mais resistentes ao vírus, porque não se conectam, de forma tão direta, a eles.
Na prática, é como se a "chave" que o coronavírus usa para "abrir" as células não conseguisse entrar nesse tipo específico de "fechadura", por incompatibilidades genéticas. Pelo menos foi isso que os pesquisadores norte-americanos descobriram com o sequenciamento genômico de células de camundongos e primatas, além de células da mucosa olfativa humana.
A perda de olfato pode ser permanente?
Como ainda não há provas de que o novo coronavírus cause lesão nos neurônios olfatórios, os médicos dizem que, mesmo com chances pequenas, um dano permanente no olfato pode ocorrer quando uma infecção nas células de suporte é muito agressiva. Com isso em mente, os especialistas recomendam procurar ajuda médica o quanto antes.
Vale ressaltar a existência de terapias específicas para acelerar a recuperação dos pacientes e reverter os danos. Outros estudos sobre os efeitos da COVID-19 no olfato estão em andamento em centros de pesquisa pelo país, usando outras técnicas para medir a anosmia e não se baseiam apenas nos relatos dos pacientes.
Fonte: Folha de S. Paulo