Complicações do câncer podem aumentar na pandemia e desafiar saúde pública
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
O mundo enfrenta há mais de um ano a pandemia do coronavírus SARS-CoV-2 e mais de 155 milhões de pessoas já tiveram um diagnóstico confirmado para a COVID-19, segundo a plataforma da Universidade Johns Hopkins. Neste cenário, é importante observar como está o disgnóstico e o tratamento de outras doenças, como os diferentes tipos de tumores. Dados dos Estados Unidos apontam para a queda na identificação de novos cânceres, o que pode ser um desafio para a saúde pública.
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Como reflexo da COVID-19, há um número significativo de diagnósticos de câncer que não foram feitos e nem tratados por uma série de fatores, como: pacientes que adiaram os exames anuais de rotina; pessoas que não procuraram um médico, mesmo com dor, por inúmeras questões; e clínicas e hospitais que suspenderam atendimentos, biópsias e tratamentos nos momentos mais críticos da pandemia.
Segundo levantamento feito pela ProPublica, os exames preventivos de câncer despencaram em até 94% durante os primeiros quatro meses do ano passado nos EUA. Apenas no Hospital Mount Sinai, em Nova Iorque, o número de mamografias caiu em 96% durante o mesmo período. A partir de julho de 2020, o número de exames começou a ser retomado, mas ainda em porcentagem inferior ao pré-pandemia.
Atrasos no diagnóstico do câncer podem ser mortais
Vale ressaltar que, naquele período e ainda agora, as pessoas não pararam de ter câncer, mas os diagnósticos é que foram parados. Nesse cenário, o Instituto Nacional do Câncer (NIH) prevê quase 10 mil mortes em excesso — um número de mortes superior ao que era tido como padrão — na próxima década em decorrência do câncer de mama e do colorretal devido aos atrasos relacionados à COVID-19. Isso porque o diagnóstico precoce pode ser decisivo no controle da doença.
Pode demorar mais um ou dois anos antes que o número de mortes por câncer comece a aumentar, em partes, porque o tratamento pode prolongar a vida do paciente por anos após o diagnóstico — mesmo quando a descoberta for tardia, dependendo do tumor —, explicou o Dr. Norman Sharpless, diretor do NIH. Quanto mais tempo a pandemia levar, Sharpless entende que “mais significativo será seu impacto [negativo] nos tratamentos de câncer”
Câncer, pandemia da COVID-19 e o Brasil
No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) alerta para a necessidade de se cumprir todos os protocolos contra a COVID-19, mas reforça também a importância de continuar o tratamento de tumores e se manter atento aos sinais do corpo, como o aparecimento de um nódulo mamário em mulheres com mais de 50 anos.
Em nota técnica divulgada neste ano, o Inca explica que "as ações de rastreamento durante a pandemia demandam análise criteriosa dos riscos e benefícios envolvidos, considerando o cenário epidemiológico (incidência e mortalidade por COVID-19) e a disponibilidade de leitos". Nestes casos, é preciso equacionar o risco de protelar o rastreamento de câncer, o risco de contaminação pelo coronavírus e a situação epidemiológica do local.
Para isso, o Inca desenhou três potenciais cenários da COVID-19 e quais atividades devem ser privilegiadas. Por exemplo, na propagação da epidemia controlada, umas das orientações é que ocorra o "rastreamento restrito a mulheres da população-alvo que nunca foram rastreadas ou não foram rastreadas para câncer de mama e colo do útero por mais de dois ou mais de três anos, respectivamente".
Para conferir a nota técnica completa do Inca, clique aqui.
Fonte: Com informações: ProPublica