Como um mosquito pica? E por que coça?
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Após ser picado por uma mosquito, é normal que a região fique avermelhada, coce e, às vezes, com um calombo. A reação é considerada normal e dificilmente provocará algum problema de saúde para o indivíduo, além da irritação. Por outro lado, alguns insetos podem estar infectados e, nestes casos, transmitir graves doenças, como dengue e zika.
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No entanto, não é todo mosquito que transmite doenças e, na maioria das vezes, o único inconveniente será a reação alérgica passageira, provocada pela picada de um mosquito fêmea. Sim, apenas as fêmeas picam seres humanos e outros animais, já que o sangue é um importante componente do processo de reprodução. Para ser mais preciso, ele é responsável por amadurecer os ovos.
Aqui, cabe ressaltar que o sangue não é considerado principal alimento dos mosquitos. Para sobreviver, tanto os machos quanto as fêmeas se alimentam do néctar e da seiva de plantas, que são literalmente bebidos.
Quais espécies de mosquito picam?
Diferentes tipos de mosquitos podem picar humanos — e usar o sangue como uma etapa do processo reprodutivo. Entre os exemplos mais comuns, estão as espécies dentro dos seguintes gêneros:
- Aedes: o principal exemplo é o mosquito da dengue, conhecido oficialmente como Aedes aegypti;
- Culex: o gênero é ilustrado pelo pernilongo doméstico, o Culex quinquefaciatus;
- Anopheles: é principalmente representado pelo mosquito prego, transmissor da bactéria Plasmodium Vivax (malária);
- Haemagogus: o gênero tem como membro o Haemagogus janthinomys, o mosquito que transmite a febre amarela.
Apesar da maioria dos mosquitos precisaram de sangue na procriação, existe uma famosa exceção: os espécimes do gênero Toxorhynchites, conhecidos pelas fêmeas que não se alimentam de sangue, mas apenas do néctar e da seiva. Este é o caso do mosquito elefante
Como é a picada do mosquito?
Se alguns mosquitos conseguem transmitir agentes infecciosos para os humanos, isso se deve à eficácia do sistema que permite a picada. Diferente do que se pensou por muitos anos, a "boca" (aparelho bucal) do mosquito, conhecida como probóscide, não é uma pequena "lança", mas uma estrutura composta por pelo menos seis "agulhas", divididas em pares.
Cada dupla desempenha um papel na hora de sugar o sangue. A seguir, entenda a função de cada uma das "agulhas" dos mosquitos:
- O primeiro par (2 agulhas) atua como um serrote, cortando a pele;
- Outro par perfura a pele;
- O terceiro par é responsável por sugar o sangue e liberar substâncias que impeçam a coagulação.
Veja como as "agulhas" funcionam em conjunto
Em 2012, pela primeira vez uma equipe de cientistas filmou o que acontece quando a probóscide de um mosquito penetra na pele de um rato. Publicado na revista científica PLos ONE, o experimento foi registrado por pesquisadores do Instituto Pasteur, na França.
Nas imagens, é possível observar um mosquito Anopheles gambiae — um potencial transmissor da malária — buscar pela veia de um roedor, que estava anestesiado, no laboratório. Antes de seguir com a explicação, recomendamos que dê play no vídeo acima, produzido pelos próprios cientistas franceses.
Nos primeiros segundos, é possível observar o aparelho bucal do mosquito buscando as veias do animal e, sim, ele é bastante flexível, podendo envergar. Em outras palavras, o sistema não é rígido e isso garante que o inseto possa "caçar" a melhor fonte de sangue, sem ter que se reposicionar.
Após identificar o alvo, o sistema começa a sugar o sangue do hospedeiro. Em alguns casos, o vaso sanguíneo pode entrar em colapso e se romper, o que provoca pequenos hematomas na região. Durante todo esse processo, substâncias da saliva do inseto liberam anticoagulantes, garantindo a absorção necessária de sangue.
Curiosamente, os autores do estudo descobriram que "mosquitos jovens se alimentaram mais rapidamente do que mosquitos mais velhos". Ainda não se sabe o porquê disso.
Por que a picada coça?
A coceira é parte da reação alérgica do organismo contra a picada do inseto. "Quando um mosquito secreta saliva na corrente sanguínea, o corpo registra a saliva como um alérgeno. O sistema imunológico, então, envia a histamina química para a área onde o mosquito o picou, removendo o alérgeno do corpo. A histamina é o que faz com que as picadas de mosquito cocem e inchem", explica o site da Cleveland Clinic.
Para além da parte chata, a histamina consegue elevar a circulação de sangue no local da picada e, com isso, aumenta a concentração de células protetoras no local. Este processo do sistema imunológico ajuda a filtrar alguns patógenos antes que eles consigam invadir as células saudáveis, mas nem todos.
Isso porque, mais do que puramente saliva, o mosquito injeta alguns anticoagulantes e anestésicos para que o processo de absorção de sangue não seja interrompido. A ideia é chamar a menor atenção possível, embora nem todas as espécies sejam eficientes neste aspecto. Por exemplo, o pernilongo doméstico é bastante barulhento e, às vezes, o hospedeiro consegue identificá-lo antes mesmo da picada.
Por que as reações de algumas pessoas é mais intensa que de outras?
"Muitas vezes, as picadas de mosquito não causam nenhum dano duradouro. Causam leve incômodo e irritação por um curto período. No entanto, os mosquitos são perigosos, porque espalham doenças que podem ser fatais", lembra a Cleveland Clinic.
Apesar disso, alguns indivíduos podem desenvolver reações mais fortes, como apresentar inchaço, dor e vermelhidão. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, as reações mais graves ocorrem em três principais grupos de indivíduos:
- Crianças;
- Adultos picados por uma espécie de mosquito a que não foram expostos anteriormente;
- Pessoas com distúrbios do sistema imunológico (imunossuprimidos).
Pessoas picadas não devem coçar com as unhas o local, já que podem contaminar a região com bactérias, por exemplo. Nestes casos, a reação local pode ser ainda mais intensa. Em caso de dúvidas ou de sintomas graves (urticária, garganta inchada, desmaio e chiado no peito), o recomendado é busca ajuda médica imediatamente.
Fonte: Cleveland Clinic, PLos ONE, G1, National Geographic, Fiocruz e CDC