Como a cerveja sem álcool afeta o organismo
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela | •
Há um crescente interesse por cervejas com baixo teor alcoólico ou sem álcool devido aos potenciais benefícios para a saúde em comparação com as tradicionais bebidas alcoólicas. Quando se analisa o impacto do organismo, a versão livre de álcool pode ser classificada como mais saudável (ou menos nociva), mas diferentes aspectos devem ser considerados.
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As cervejas tendem a ser feitas a partir de quatro ingredientes básicos: cevada (ou outros cereais, como centeio e trigo), lúpulo, água e fermento. Dependendo da forma como são produzidas, elas podem ter alguns benefícios, assim como estudos sugerem sobre o consumo do vinho. No entanto, essa questão está longe de ser consenso, com novas pesquisas indicando que não há limite seguro para o consumo de álcool em relação ao câncer, por exemplo.
Se a cerveja for zero álcool, o fator que aumenta o risco de cânceres é removido e o produto se torna, de certa forma, mais saudável. Não consumir álcool também implica em não elevar o risco para diferentes doenças, doenças cardíacas e doenças hepáticas, além de não desencadear distúrbios do sono.
Independente da versão, com alto, baixo ou nenhum teor alcoólico, a pessoa ainda precisará se atentar para as quantidade de calorias que ingere e dos açúcares presentes na cerveja. Isso desequilibra a balança da saúde.
Potenciais benefícios do lúpulo
Para entender os potenciais benefícios da cerveja sem álcool, pesquisadores da Universidade de Aston, no Reino Unido, publicaram um estudo em que revisaram diferentes dados já obtidos em relação a essas bebidas, na revista Beverages.
Segundo os autores, um dos maiores benefícios associados ao consumo da bebida (com ou sem álcool) está na presença lúpulo, a planta que dá o sabor amargo para a cerveja e é usada na medicina tradicional em algumas culturas.
“Os efeitos potencialmente benéficos do lúpulo têm sido amplamente associados aos polifenóis, com dados in vitro sugerindo efeitos antioxidantes e na redução da diferenciação de adipócitos e no aumento da produção de óxido nítrico”, afirmam os autores.
Além disso, "o lúpulo é uma fonte de oligoelementos [microelementos] como zinco e manganês, que são necessários para uma série de vias enzimáticas no corpo”, acrescentam os pesquisadores britânicos.
Entretanto, a tradução desses benefícios para o consumidor é algo muito variável e depende da forma como a cerveja é produzida. Nesse cenário, "uma cerveja com lúpulo ou fermentada lentamente com uma levedura probiótica, com baixo teor de álcool, pode ser muito diferente em termos de seus benefícios à saúde de uma lager com alto teor de álcool”, pontuam. Apesar disso, os autores não quantificam em números esses benefícios, justificando a necessidade de mais pesquisas.
Entenda a presença de polifenóis
Aqui, vale destacar o impacto dos polifenóis do lúpulo ou da cevada, ou seja, dos compostos naturais e anti-inflamatórios presentes nas cervejas, com capacidade de reduzir o estresse oxidativo no corpo. Eles também chegam ao intestino e ao cólon, onde ajudam a nutrir uma microbiota intestinal saudável, com diferentes benefícios.
Neste ponto, “há evidências emergentes de que o consumo de cerveja, bem como de vinho, pode ter efeitos benéficos no microbioma gastrointestinal, aumentando os níveis de Lactobacillus sp. e Bifidobacterium sp.”, destacam os autores.
Apesar disso, a nutricionista Kerry Torrens lembra que dietas equilibradas já são uma boa fonte de polifenóis. "[Somos] tão bons em absorver ácido ferúlico — um tipo de polifenol — de grãos de cevada na cerveja quanto somos [bons] com tomates", afirma para a BBC. Então, esta não é a única fonte viável e, talvez, nem a melhor.
Cerveja sem álcool como isotônico?
"Apesar do claro desafio de que a cerveja é frequentemente considerada uma fonte de calorias vazias e álcool prejudicial, ela também pode conter uma variedade de compostos potencialmente benéficos à saúde”, reforçam os autores britânicos. “Se a cerveja for além de ser uma fonte de álcool, ela pode ser um produto de saúde potencialmente interessante, sendo isotônico”, sugerem.
Realmente, as cervejas zero álcool podem ser consideradas um tipo de isotônico, ou seja, bebidas que ajudam a repor a água, os sais minerais e os carboidratos perdidos com o suor. Novamente, outros produtos no mercado cumprem essa função e não são exclusivos.
É inegável que existem benefícios no consumo de cervejas sem álcool em comparação com a versão tradicional, mas os estudos nesta área ainda estão em desenvolvimento para compreender melhor como todos os processos ocorrem. Então, se for consumir, o ideal é também ter moderação mesmo na versão zero álcool.
Fonte: BBC