Cloroquina estocada no Brasil é repassada a estados e municípios
Por Nathan Vieira | 27 de Novembro de 2020 às 20h00
Lembra da cloroquina? Normalmente usada para o tratamento de doenças autoimunes e malária, ficou popular em meio à pandemia de COVID-19, ainda que não haja comprovação científica de eficácia do remédio no combate à doença. Na última quinta-feira (26), o Ministério da Saúde distribuiu toda a cloroquina disponível aos estados e prefeituras.
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A pasta adquiriu e distribuiu todos os 5,8 milhões de comprimidos de cloroquina obtidos. Em julho, o estoque era de 4 milhões de comprimidos. De acordo com o próprio Ministério da Saúde, isso aconteceu por causa dos pedidos feitos por prefeituras e governos estaduais. "O Ministério da Saúde adquire apenas a cloroquina e não possui estoque, uma vez que o medicamento foi distribuído de acordo com pedidos e planejamento prévio dos estados", declarou ao UOL.
Enquanto isso, 6,8 milhões de exames do tipo RT-PCR estão estocados em um armazém do governo em Guarulhos (SP), e os produtos vencem em dezembro e janeiro. O Ministério afirmou que os testes não foram enviados porque não houve pedidos por parte de prefeituras e estados.
Voltando a falar da cloroquina, o medicamento do governo foi produzido por laboratórios da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e do Exército. Nas Forças Armadas, os gastos foram de R$ 1,5 milhão até o mês de junho. O gasto na Fiocruz foi de R$ 207 mil, segundo o Ministério da Saúde. De acordo com um levantamento, entre março e julho, a maior parte foi usada para combater o coronavírus. Foram 5 milhões destinados para COVID-19 e 1,3 milhão para malária.
O governo federal também recebeu 3 milhões de comprimidos de hidroxicloroquina, que é utilizada para tratamento de doenças como artrite reumatoide, lúpus e dermatomiosite. Os remédios foram doados pelo governo dos EUA e pelo laboratório Novartis-Sandoz.
Segundo as Secretarias de Saúde de 15 estados consultados pelo UOL, os estoques da cloroquina destinada ao combate da COVID-19 somam 280 mil comprimidos. Já o Exército possui outros 400 mil em estoque — o que totaliza 680 mil unidades do produto, pelo menos. Nos estados consultados e nas Forças Armadas, o lote de medicamentos que vence mais rapidamente vai até março de 2021.
Cloroquina e COVID-19
No último dia 20, uma pesquisa foi realizada por Marco Pinheiro, reumatologista da Universidade Federal de São Paulo, contando com a participação de quase 400 estudantes de medicina e quase 10 mil voluntários espalhados por 97 cidades brasileiras para descobrir se pacientes com doenças reumatológicas que se tratavam com a cloroquina há mais de cinco anos estariam mais imunes contra o SARS-CoV-2 ou se teriam sintomas mais leves. Com a coleta de dados, a equipe concluiu que a cloroquina não protegeu nem evitou formas graves, que exigem intubação.
No começo da pandemia, a cloroquina e a hidroxicloroquina foram consideradas grandes apostas para o enfrentamento da COVID-19, mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) suspendeu, pela segunda vez, estudos clínicos que avaliavam o potencial do medicamento hidroxicloroquina para o tratamento de pacientes diagnosticados com a COVID-19, sob o argumento de que a substância não era capaz de reduzir a mortalidade em pacientes internados com a doença.
Já nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), agência norte-americana equivalente à Anvisa no país, também revogou a autorização do uso tanto da cloroquina quanto da hidroxicloroquina, mesmo em caráter emergencial, para pacientes da COVID-19. A revogação também foi feita em junho.
Fonte: UOL