Publicidade

Cientistas usam edição genética para desenvolver vacina contra a COVID-19 no BR

Por  | 

Compartilhe:
Retha Ferguson/Pexels
Retha Ferguson/Pexels

Em busca de uma vacina contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2), pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) trabalham em uma imunizante que mescla o uso de vírus atenuados (sem capacidade de reprodução) e edição genética, através do sistema CRISPR. É a primeira pesquisa do tipo no Brasil contra a COVID-19.

"Precisamos de várias estratégias porque, em primeiro lugar, há muito a se descobrir sobre a imunidade contra o SARS-CoV-2. Não se sabe, por exemplo, por quanto tempo dura a proteção dada por anticorpos e há incógnitas sobre a resposta celular, que se acredita ser essencial para proteger uma pessoa da COVID-19 É necessário um leque de opções de vacinas potentes e seguras, pois enfrentamos um vírus que ainda não é bem conhecido", explica Amílcar Tanuri, professor da UFRJ e chefe do Laboratório de Virologia Molecular.

Canaltech
O Canaltech está no WhatsApp!Entre no canal e acompanhe notícias e dicas de tecnologia
Continua após a publicidade

Como funciona a vacina contra a COVID?

O projeto dessa vacina contra a COVID-19 carrega, em sua composição, o novo coronavírus atenuado, ou seja, sem capacidade de promover uma infecção. No desenvolvimento das vacinas, essa estratégia é uma estratégia bastante usada. São os casos das vacinas contra pólio por via oral, caxumba, varíola, coqueluche e febre amarela, por exemplo.

Nesses casos, mesmo que o vírus esteja atenuado, ele mantém o seu potencial necessário para proporcionar uma resposta imune eficaz no organismo do paciente e auxilia na produção de anticorpos contra o agente infeccioso. "A vacina atenuada tem o vírus todo e, por isso, estimula a resposta mais completa e, possivelmente, mais robusta e prolongada", aponta Tanuri.

Para a segurança adicional nesse processo de atenuação do coronavírus, os pesquisadores do Rio de Janeiro trabalham com a edição genética do vírus, removendo genes responsáveis por proteínas — especificamente, os Orfs — que auxiliam no processo de infecção das células humanas. Essa remoção é feita através do sistema CRISPR, que age como uma tesoura no material genético do agente infeccioso.

Segundo os cientistas, o coronavírus não consegue desencadear a COVID-19 sem os genes Orf3 e Orf8, que estão sendo removidos do código genético viral. Além dessas remoções, será feita uma adição genética ao coronavírus, a de um gene do vírus do herpes. Isso fará com que um antiviral conhecido, o aciclovir, seja capaz de eliminar esse vírus. Em outras palavras, caso ocorra qualquer efeito indesejado da vacina, um remédio já conhecido poderá resolver a infecção.

Outros coronavírus

Fato curioso para o desenvolvimento dessa nova plataforma de vacina é que os insights vieram do universo médico veterinário e do estudo de outros coronavírus que infectam animais, como cães, gatos e galinhas. Se o SARS-CoV-2 é novo, esses outros vírus são conhecidos pela ciência há décadas e, por isso, possuem uma vasta literatura.

No mundo animal, existem pelo menos cinco importantes doenças causadas por coronavírus: bronquite infeciosa de galinhas (IBV); gastroenterite contagiosa de porcos (TGEV); coronavirose canina (CCV); coronavirose bovina (BCV); e peritonite infeciosa felina (FIPV).

Continua após a publicidade

Tanto em animais quanto em humanos, não é uma tarefa fácil desenvolver imunizantes contra o coronavírus. Até agora, a única vacina veterinária que se mostrou eficiente é feita com vírus atenuados e promove a proteção apenas de galinhas. Por outro lado, existem tratamentos eficazes para a maioria dessas doenças.

"O SARS-CoV-2 não irá embora e precisamos de estratégias. Além disso, essa mesma plataforma poderá ser empregada no desenvolvimento de vacinas contra outros patógenos emergentes. A pandemia de coronavírus mostrou ao mundo que precisamos estar preparados", completa o pesquisador.

Fonte: O Globo