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Casos leves de covid podem testar positivo por longo tempo

Por| Editado por Luciana Zaramela | 02 de Fevereiro de 2022 às 12h30

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Gustavo Fring/Pexels
Gustavo Fring/Pexels

Equipe de pesquisadores brasileiros e franceses descobriu que 8% dos pacientes da covid-19, com a forma leve da doença, podem apresentar quadros de infecção prolongada pelo coronavírus SARS-CoV-2. Em outras palavras, o vírus continua a ser detectado no organismo, mesmo após o fim dos sintomas.

Publicado na revista científica Frontiers in Medicine, o estudo foi liderado por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Pasteur, na França. Com apoio da Fapesp, a pesquisa é parte da Plataforma Científica Pasteur-USP (SPPU, na sigla em inglês).

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"Fatores genéticos associados aos vírus SARS-CoV-2 ou específicos para certas linhagens virais certamente podem influenciar a disseminação viral. Outros fatores ligados ao hospedeiro, como idade, associação de outras comorbidades, estado nutricional e exposição prévia a diferentes patógenos, podem interferir nesse comportamento diferencial do SARS-CoV-2 durante o processo infeccioso", explicam os autores do estudo sobre as descobertas.

Entenda o estudo

Parte de um projeto de monitoramento do SARS-CoV-2 na região metropolitana de São Paulo, o estudo analisou amostras de pacientes que foram coletadas entre março e novembro de 2020. No total, foram selecionados 38 voluntários positivos para a covid-19, mas com sintomas leves.

“Nós coletamos amostras desses pacientes a cada semana para testagem" até que os resultados fossem negativos, explica Marielton dos Passos Cunha, pós-doutorando na SPPU e primeiro autor do artigo, em comunicado. Além de casos em que a infecção durou mais do que o tempo esperado, alguns pacientes tiveram quadros ainda mais demorados.

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Durante a pesquisa, "três pacientes foram classificados como atípicos, pois se mantiveram positivos por mais tempo”, conta Cunha. Por exemplo, um dos pacientes convive com o HIV controlado e testou positivo por 232 dias. Enquanto isso, os outros dois voluntários testaram positivo durante 71 e 81 dias. No entanto, todos os indivíduos estiveram assintomáticos na maior parte do tempo.

E o período de isolamento?

Os casos prolongados da covid-19 levantam discussões sobre o período ideal de isolamento para casos positivos da doença. No Brasil, pessoas sem sintomas e nem febre podem sair do isolamento após 7 dias do início do quadro. Nessas circunstâncias, um segundo teste não é necessário, segundo o Ministério da Saúde.

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No entanto, as novas evidências apontam para outra direção, pelo menos nesses indivíduos que têm infecção prolongada. Por isso, é sempre importante a realização de testes para confirmar se o vírus foi, de fato, eliminado, destaca a pesquisadora Cunha.

Por enquanto, não está estabelecida a capacidade desses indivíduos com infecções prolongadas em transmitir o vírus para outras pessoas saudáveis. Por isso, é necessário investigar ainda o impacto epidemiológico desse fenômeno.

Infecções prolongadas

Também não se sabe por que apenas alguns pacientes desenvolvem infecções prolongadas da covid-19, sendo que esse processo tem pouco a ver com a gravidade da doença. Por exemplo, alguns estudos observaram esses quadros em pacientes com imunossupressão, só que este não é o caso do novo estudo.

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“Nossa pesquisa trata de pacientes saudáveis, com defesa natural contra o vírus. Alguns fatores do hospedeiro podem estar ligados a essa positividade prolongada, como estado nutricional, condição imunológica e idade”, afirma Cunha.

Uma das hipóteses é de que a infecção prolongada esteja associada ao próprio vírus, já que ele pode desenvolver mecanismos diferentes para sobreviver e se perpetuar. “O vírus pode modular alguns genes do hospedeiro para ajudar a sua replicação, por exemplo, e assim evadir de respostas ligadas ao sistema imune. Então, as mutações virais acumuladas ao longo da infecção podem estar relacionadas a essa positividade prolongada”, completa a pesquisadora.

Vale informar que testar positivo por tempo prolongado é diferente de apresentar covid longa. Essa última é caracterizada por sequelas causadas pelo coronavírus mesmo após ele ter sido eliminado do organismo, como dores de cabeça, névoa mental, fadiga crônica e dores nas articulações.

Fonte: SPPU e Frontiers in Medicine