Casos leves de covid-19 podem provocar alterações no cérebro
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
No Brasil, cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) descobriram que até mesmo quadros leves da covid-19 podem provocar alterações neurológicas em alguns pacientes, reduzindo o tamanho de algumas regiões do cérebro e mudando a comunicação cerebral após três meses da doença. Além disso, indivíduos com covid longa relatam quadros de ansiedade e depressão.
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“Ainda há muito a aprender sobre a covid longa, que inclui uma ampla gama de problemas de saúde, incluindo ansiedade e depressão, meses após a infecção”, pontua Clarissa Yasuda, uma das autoras do estudo e pesquisadora da Unicamp, em comunicado. Neste contexto, “nossas descobertas são preocupantes, pois mesmo em pessoas com casos leves da covid-19 apresentam mudanças em seus cérebros meses depois [da infecção]", acrescenta.
A descoberta do grupo de cientistas brasileiros se une a outras evidências emergentes sobre o impacto da covid longa no organismo humano. Recentemente, um estudo britânico relacionou a síndrome da pós-covid com danos duradouros a diferentes órgãos, incluindo o fígado e o coração.
Como a covid longa modifica o cérebro e pode causar ansiedade e depressão?
O estudo sobre os impactos da covid longa no cérebro envolveu 254 pessoas infectadas pelo vírus da covid-19 pelo menos três meses antes do início do estudo. Todos os participantes desenvolveram sintomas leves ou tiveram a doença de forma assintomática. A idade média dos indivíduos é de 41 anos.
Do total de voluntários, 102 pessoas relataram sentir sintomas característicos de ansiedade e depressão. Aqui, é importante observar que estes indivíduos não obtiveram um laudo psiquiátrico desses transtornos. Enquanto isso, as outras 152 pessoas não apresentaram nenhum dos dois sintomas, como características da covid longa.
Varreduras cerebrais nos pacientes com covid longa
Após responder os questionários sobre a saúde mental, os participantes passaram por uma varredura cerebral, com o objetivo de detectar possíveis alterações na massa cinzenta do cérebro. Segundo os autores, 148 dos 152 pacientes que relataram ansiedade e depressão tiveram encolhimento na área límbica do cérebro, que desempenha um papel na memória e no processamento emocional. No grupo sem estes sintomas, nenhuma alteração foi captada.
Em seguida, foram analisadas a função cerebral e as possíveis mudanças na conectividade – em outras palavras, na forma como diferentes áreas do cérebro se comunicam. Entre as pessoas com sintomas de ansiedade e depressão, foram detectadas inúmeras alterações de conectividade. Este número foi significativamente reduzido nas pessoas assintomáticas.
“A magnitude dessas mudanças sugere que elas podem desenvolver problemas de memória e [redução] nas habilidades de pensamento, por isso precisamos explorar tratamentos holísticos, mesmo para pessoas levemente afetadas pela covid-19”, orienta a cientistas Yasuda.
Vale observar que, até o momento, o estudo completo ainda não foi publicado em nenhuma revista científica. O trabalho, que contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), será apresentado, pela primeira vez, na 75ª Reunião Anual da Academia, prevista para o mês de abril.
Fonte: AAN