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O que é covid longa?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 21 de Março de 2022 às 11h50

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altanaka/envato
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A covid longa — também conhecida como síndrome pós-covid — é uma condição que afeta pessoas que foram infectadas pelo coronavírus SARS-CoV-2. As sequelas da doença costumam causar complicações duradouras e, às vezes, permanentes nos indivíduos. Acompanhamento médico é fundamental para o diagnóstico e melhora do quadro.

Para entender quais são os sintomas e as complicações da covid longa, o Canaltech conversou com o médico Alexandre Naime Barbosa, professor de infectologia na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

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Adiantamos que, de forma geral, os sintomas da covid longa afetam, principalmente, pessoas que tiveram casos graves da infecção pelo coronavírus. Afinal, o quadro é parte das sequelas e complicações da infecção.

Definição da OMS

"A condição pós-covid ocorre em indivíduos com histórico de infecção por SARS CoV-2 provável ou confirmada, geralmente 3 meses após o início da covid-19 sintomática, e que duram pelo menos 2 meses", define a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Os sintomas da covid longa podem surgir após um episódio grave de infecção pela covid-19 ou podem persistir desde o início da doença. Além disso, "os sintomas também podem flutuar ou recair ao longo do tempo", explica a Organização.

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Sintomas da covid longa

Para resumir, a covid longa representa as sequelas duradouras (a longo prazo) ou permanentes de um caso inicial da covid-19. Em exemplos extremos, a síndrome pode ser comparada com a paralisia das pernas, causada por uma necrose na região, após um caso de meningite. Em ambas as condições, o paciente está curado, mas as consequências da doença ainda o acompanham.

“As principais sequelas pós-covid são as relacionadas ao pulmão, principalmente naqueles pacientes que tiveram covid pulmonar e precisaram ser internados. Mais intensamente, [costuma ocorrer] nos pacientes que foram intubados na UTI. Esses pacientes podem apresentar uma diminuição da capacidade respiratória", conta Barbosa. Em alguns casos, a complicação pode ser permanente.

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Apesar de ser o tipo de sequela mais comum, o vírus da covid pode afetar os sistemas cardiovascular e o nervoso. “Temos sequelas cardíacas e neurológicas decorrentes do estado de coágulo-inflamação que esses indivíduos apresentam [com a doença original]", acrescenta o médico.

Além de elevar os marcadores inflamatórios — como as citocinas —, a inflamação da covid também deixa o sangue mais apto a se coagular. "É muito comum, principalmente, em casos de covid grave, que haja fenômenos tromboembólicos. É a formação de trombos no sangue", comenta Barbosa.

Neste ponto, diferentes tipos de complicações podem afetar o indivíduo na covid longa, como a trombose venosa profunda (que acontece nas pernas). Caso o trombo vá para o coração, o paciente pode ter um infarto do miocárdio. Agora, se chega ao cérebro, pode ocorrer um AVC (derrame cerebral). “Se eu tenho um infarto, um derrame, vou ter uma sequela a longo prazo”, sintetiza.

Além disso, a disautonomia pode ser uma dessas complicações. "Muitos indivíduos apresentam ataque cardíaco ou aumento da pressão arterial, justamente pelo estado inflamatório que pode permanecer alterado por alguns meses após a covid", explica o infectologista.

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Questão da Ômicron

Atualmente, a variante que predomina no Brasil é a Ômicron (BA.1), mas ainda não é possível identificar qual o seu real impacto nos casos da covid longa. Isso porque somente são considerados sintomas e sequelas da síndrome aquelas condições que perduram de 3 a 6 meses. Vale lembrar que, no país, os primeiros casos da Ômicron foram diagnosticados no final do mês de novembro.

Outra questão é que a Ômicron encontra, hoje, um hospedeiro diferente daquele que existia em 2020. "O ser humano é um hospedeiro que, na sua grande parte, está vacinado”, lembra Barbosa. Nessas condições, a gravidade da infecção e o nível de inflamação tendem a ser menores, o que pode reduzir o número de sequelas.

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Outros desfechos da covid

No total, a covid-19 pode apresentar três desfechos após a infecção aguda, ou seja, depois daquele período inicial— entre 7 a 14 dias — da infecção. “Independente de qual seja a manifestação clínica, depois desse período da infecção aguda, o indivíduo tem três desfechos", explica o médico.

No período inicial, os sintomas se assemelham a um resfriado comum (Síndrome Gripal) ou a um caso de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Após os 14 dias, a pessoa pode estar completamente curada, manter sintomas prolongados da covid ou desenvolver a covid longa. Esta última é a mais grave e também mais rara.

Somente covid-19

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A imensa maioria dos pacientes da covid-19 está completamente curada após 14 dias do início da infecção. "Às vezes, [a recuperação é] um pouco mais longa, de três semanas”; comenta. No entanto, não relatam nenhum outro tipo de complicação.

Sintomas prolongados da covid

Agora, alguns indivíduos podem ter sintomas prolongados da covid. “Você pode manter alguns sintomas por até 3 meses”, afirma o infectologista. Nesse ponto, diferentes complicações podem afetar os indivíduos, como problemas no trato respiratório ou no sistema nervoso. A principal causa é a inflamação provocada pelo vírus nas diferentes partes do corpo.

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Entre os mais famosos, está a névoa cerebral. Nesses casos, o paciente pode apresentar perda de memória, dificuldade de atenção e de concentração ou ainda dislalia. Esta é marcada pela dificuldade em falar as palavras corretamente, sendo um exemplo a troca de sílabas.

Além disso, alguns pacientes mantêm a fadiga crônica, ou seja, relatam estar muito cansados e com dificuldade em retomar a rotina de antes da covid. Em relação ao trato respiratório, o indivíduo também pode permanecer com uma tosse ou ainda apresentar dificuldade para recuperar a capacidade respiratória plena.

Nem tudo é pós-covid

Apesar das sérias consequências da covid longa ou dos sintomas prolongados, “é importante diferenciar que nem tudo que acontece, após a covid, é por conta da covid", lembra Barbosa. A confusão até pode ser comum por conta das preocupações relacionadas ao vírus, mas é preciso diferenciá-las.

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Em episódio anedótico, o médico conta que um paciente chegou ao consultório com suspeita de covid longa. Em janeiro, testou positivo para o vírus e, mesmo após a "cura", relatava cansaço, falta de ânimo e de apetite, além de uma tosse constante. Após uma tomografia, descobriu-se ser um caso de tuberculose. A doença não tinha nenhuma relação com o coronavírus.

“O indivíduo já pode ter muitas coisas, mas a covid acaba elevando o nível de autopercepção [sobre o funcionamento do corpo]. A quantidade de diagnóstico de doenças crônicas que a gente faz porque a pessoa procurou um médico por causa da covid é também um fator importante", conta. Por exemplo, foram feitos diagnósticos de hipertensão arterial, diabetes e HIV.

Vale lembrar que, em caso de permanência de sintomas, é necessário buscar acompanhamento e orientações médicas. No pós-covid, a abordagem é multidisciplinar e pode envolver diferentes especialidades, dependendo das sequelas, como neurologia, pneumologia e cardiologia.

Fonte: OMS