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Como um único caminhão se tornou um aliado na luta contra a COVID-19 no Brasil

Por| 15 de Dezembro de 2020 às 10h00

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Fernando Favoretto/ Mercedes-Benz do Brasil
Fernando Favoretto/ Mercedes-Benz do Brasil

Desde o início da pandemia da COVID-19, um dos maiores desafios é o rápido diagnóstico de infecções causadas pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). Com testes caros e, às vezes, insuficientes para a demanda, foi necessário adotar técnicas alternativas para identificar casos suspeitos. Nesse cenário, a Mercedes-Benz do Brasil transformou um caminhão em uma sala de exames móvel que pode percorrer a cidade de São Paulo, aliviando a demanda dos postos de saúde.

Estacionada na garagem de um hospital da periferia de São Paulo, a Unidade Móvel de Tomografia da Mercedes auxilia médicos no diagnóstico de casos da COVID-19, através de exames de imagem do pulmão dos pacientes suspeitos. Para conferir a iniciativa inédita, o Canaltech visitou as instalações que já estão em operação e atendem cerca de mil pessoas por mês.

Puxada por um caminhão da marca, o Novo Actros, a sala de exames móvel tem 18,5 metros de comprimento e 2,60 metros de largura. Além disso, a carroceria — desenvolvida especialmente para o projeto contra a COVID-19 — é extensível, avançando mais 2,25 metros de largura, e tem anexada uma rampa de acesso. Lá dentro, há um corredor de entrada que nos leva para duas salas multiuso, o ambiente do tomógrafo e uma cabine para os profissionais de saúde realizarem os exames, em segurança.

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Do lado de fora, há uma “sala de espera”, em um espaço aberto, para receber os pacientes que serão atendidos na carreta da tomografia. Nesse aspecto, o mais interessante é a mobilidade do projeto que opera em um estacionamento e, por isso, é utilizado de acordo com as necessidades da secretaria de saúde da capital. Com a chegada da segunda onda da COVID-19, inclusive, o projeto pode ser realocado.

Como funciona a carreta da COVID-19?

Pode até parecer estranho instalar em um caminhão um tomógrafo — que realiza exames de imagem de forma não invasiva — para a identificação de casos da COVID-19, mas não é. Sem testes do tipo RT-PCR que buscam amostras do coronavírus no sistema respiratório do paciente, os médicos verificam a situação do pulmão, ou seja, se há uma infecção e que, possivelmente, pode ser causada pelo coronavírus. Esse procedimento, então, é feito através de uma tomografia computadorizada de tórax.

De acordo com a CIES Global, organização sem fins lucrativos e responsável pelos equipamentos da carreta, esse exame de imagem pode ser útil contra a COVID-19: “Na detecção de pneumonia em pacientes considerados altamente suspeitos (mas ainda sem confirmação laboratorial); na avaliação da magnitude da pneumonia; para acompanhamento da evolução do quadro respiratório (pneumonia) em pacientes com confirmação laboratorial da doença”.

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Com os exames de imagem, os médicos conseguem medir o grau da infecção pulmonar e saber se a lesão no órgão corresponde a uma pneumonia causada por bactéria ou por vírus. Dessa forma, já é possível descartar algumas suspeitas da COVID-19. Em outras palavras, o laudo do exame pode ser determinante para a escolha do tratamento do paciente e sua internação no hospital.

Em estudos feitos com pacientes com comprovação laboratorial para a COVID-19, as imagens de tomografia demonstraram características de lesões pulmonares bastante específicas para a COVID-19. Os responsáveis pelos exames buscam por sinais típicos da infecção, como o aspecto de vidro fosco. Nesses casos, o pulmão fica com um aspecto branco jateado e, segundo especialistas, é uma característica muito forte dos pacientes contaminados com o coronavírus e pouco comum em outras doenças. Além da iniciativa com parceria da Mercedes, outros projetos brasileiros adotaram essa estratégia, como o RadVid19, do Hospital das Clínicas, e o Segunda Opinião Gratuita, do Grupo Fleury.

Normalmente, os resultados dos exames de rotina seriam entregues em até cinco dias. No entanto, a infecção por coronavírus demanda emergência e, nos casos de suspeita — vale ressaltar que os exames só são realizados em pacientes com sintomas da COVID-19 —, “o resultado pode ser entregue na mesma hora”, explica a assessoria da CIES Global.

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Caso a suspeita se comprove e se verifique os sinais da infecção no pulmão do paciente, a orientação é de que haja o retorno com urgência para o médico que solicitou o exame. Isso porque ele que deverá dar continuidade ao tratamento do caso da COVID-19. Além disso, outras medidas devem ser realizadas para a confirmação do diagnóstico, como exames do tipo RT-PCR.

Desafios da carreta contra a COVID-19

“O maior desafio foi coordenar diversos players que estavam envolvidos nesse projeto e fazer com que ele aterrissasse", explica o vice-presidente de vendas e marketing de caminhões e ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, Roberto Leoncini. Isso porque é comum que surjam várias e ideias e projetos para iniciativas, mas a maioria delas, dificilmente, se concretiza — o que não aconteceu com o tomógrafo móvel para o diagnóstico da COVID-19.

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De acordo com Leoncini, “do zero à carreta, foram 60 e 70 dias”, mas esse tempo tão ágil não significa que tenha sido uma inciativa simples, já que tudo precisou ser coordenado de forma virtual, inclusive a identificação dos parceiros. Além da CIES Global, o projeto contou com o apoio da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK São Paulo) e do BMZ (Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha). Também participaram da inciativa a Siemens Healthineers e a Fleximedical e, principalmente, a Secretária de Saúde do Estado de São Paulo.

No entanto, todo esse esforço foi recompensado e, segundo Leocini, "esse projeto se mostrou viável" e poderá continuar a operar mesmo após o controle da COVID-19. “Penso que essa pode ser a primeira [iniciativa voltada para a saúde] de várias. Passada à COVID-19 — e a gente torce todo dia para que isso aconteça — a necessidade de tomografias ainda vai existir. Talvez, consigamos fazer o projeto crescer e se tornar algo maior, com [ajuda de] investidores", aposta o vice-presidente.

Além do tomógrafo móvel, por exemplo, "estávamos tentando desenvolver um respirador de baixo custo [outro equipamento fundamental para o tratamento de casos graves da COVID-19] com o Instituto Mauá de Tecnologia. Tivemos três, quatro protótipos, mas não chegaram à fase de aprovação", explica Leoncini. Ainda sobre essa iniciativa, a equipe da Mercedes chegou a testar a eficácia em alguns hospitais, com autorização da Anvisa, mas o produto não chegou a ser concluído.

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Independente dos resultados e das iniciativas já promovidas, a empresa segue de olho nos problemas causados pela pandemia da COVID-19 e interessada na busca de soluções que auxiliem a população brasileira, como o tomógrafo. Inclusive, não há prazo para o encerramento das operações do tomógrafo móvel junto ao sistema de saúde da cidade de São Paulo.