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Câncer de garganta é impactado pela vida sexual e por falta de vacinas

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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twenty20photos/envato
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Quando pensamos em câncer, nem sempre é possível chegar até a causa exata da doença. Muitas vezes, o foco está nos fatores de risco. No entanto, a história é outra quando se analisa o câncer de orofaringe, também conhecido como câncer de garganta. Este é mercado por tumores que se desenvolvem, literalmente, no fundo da garganta, perto das amígdalas. Neste ponto, praticar sexo oral desprotegido pode responder o porquê de algumas pessoas adoecerem.

Para o Instituto Nacional de Câncer (INCA), existem três principais causas para o câncer de garganta: tabagismo, consumo excessivo de álcool e infecções pelo vírus do papiloma humano (HPV) na região. Cabe destacar que a forma mais comum de infecção pelo HPV é através de relações sexuais — e considerando a região da garganta, a relação ocorre durante o sexo oral.

Pouco aplicada e gratuita apenas para grupos específicos de pessoas no Brasil, a vacina tetravalente contra o HPV seria uma ferramenta eficaz para a redução de casos da infecção e, consequentemente, desses tumores na garganta. O benefício seria um efeito secundário à proteção contra o câncer do colo do útero.

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Relação entre HPV e câncer de garganta

Publicado na revista científica New England Journal of Medicine (NEJM), um pequeno estudo sobre a associação entre casos de HPV, atividade sexual e câncer de garganta foi liderado por pesquisadores do Hospital Johns Hopkins, nos Estados Unidos.

No total, o grupo analisou dados de saúde e a frequência de parceiros sexuais de 300 voluntários, incluindo mulheres e homens. Segundo o estudo, pessoas com seis ou mais parceiros de sexo oral na vida têm 8,5 vezes mais chances de desenvolver este tipo de tumor do que aqueles que não praticam. Conisderando o sexo vaginal, o risco é 2,5 vezes maior para aqueles que tiveram seis ou mais parceiros.

O que liga a maioria dos casos, descartando o tabagismo e o uso de álcool, é a infecção por um tipo específico do HPV, o HPV-16. “A presença de uma infecção oral por HPV-16 foi fortemente associada ao câncer de orofaringe”, afirmam os autores.

Todo sexo oral causa HPV e termina em câncer de garganta?

Aqui, é preciso pontuar que a discussão foca nos riscos. Em outras palavras, fazer sexo oral desprotegido, contrair HPV e ter câncer de garganta não é uma sequência lógica universal, e diferentes fatores podem atuar para redução de riscos, como as vacinas. Outro ponto: em algumas pessoas, por causas ainda desconhecidas, o vírus pode ser controlado pelo organismo, antes que seja associado à formação de um câncer.

"A ideia predominante é que a maioria de nós contrai infecções por HPV e é capaz de eliminá-las completamente. No entanto, um pequeno número de pessoas não consegue se livrar da infecção — talvez, devido a um defeito em um aspecto específico do sistema imunológico”, explica Hisham Mehanna, professor da Universidade de Birmingham, na Austrália, em artigo para o site The Conversation.

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“Nesses pacientes, o vírus é capaz de se replicar continuamente e, com o tempo, se integra em posições aleatórias ao DNA do hospedeiro, algumas das quais podem fazer com que as células hospedeiras se tornem cancerígenas”, acrescenta Mehanna.

Baixa cobertura da vacina contra o HPV no Brasil

Pensando na prevenção do câncer de colo de útero e de outros tipos de tumores — pênis, vagina, vulva, ânus, boca e garganta —, vacinas contra o HPV são aplicadas gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) para públicos específicos. São os casos de adolescentes de 9 a 14 anos e pessoas imunossuprimidas de até 45 anos, como os indivíduos que convivem com o HIV.

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A cobertura de vacinação ideal é de 90%, segundo o Ministério da Saúde. No entanto, a taxa atual é bastante inferior. Considerando a aplicação da primeira dose em meninas durante o ano de 2022, 77,3% delas foram imunizadas. Entre os meninos, a porcentagem é ainda menor, chegando a 58,2%. Dessa forma, a estratégia coletiva de prevenção contra os cânceres, incluindo o de garganta, perde eficácia e possibilita possíveis aumentos de casos.

A baixa adesão à imunização contra o HPV, composta por duas doses, não é exclusividade do Brasil. Diante do atual cenário, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a recomendar, no final do ano passado, o uso de apenas uma dose da fórmula protetora.

Fonte: INCA, NEJMAgência Brasil e The Conversation