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Café com cheiro de gasolina? A COVID-19 pode alterar (e muito) o seu olfato

Por| 06 de Novembro de 2020 às 15h15

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Pixabay/ Pexels
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Em casos da COVID-19, um dos possíveis sintomas é perda da capacidade de sentir cheiros, mais conhecida como anosmia. No entanto, infecções pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) podem afetar o olfato de diferentes formas, independente do estágio da doença. Por exemplo, alguns pacientes podem sentir cheiro de gasolina, enquanto tomam um café recém-feito. Outros tipos de confusões olfativas já foram observadas nessas pessoas. 

Essa confusão e distorção entre os cheiros é conhecida como parosmia, ou seja, a pessoa sente um cheiro bom, como o aroma do café, mas o cérebro pode interpretá-lo como algo ruim ou vice versa. Além dessa alteração no olfato, é possível associar casos da COVID-19 com a hiposmia (quando há apenas redução da capacidade olfativa) e a fantosmia (quando se sente cheiros que não existem). Na maioria dos casos, são todas alterações temporárias.

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Parosmia e a confusão do olfato

Depois de enfrentar sintomas da COVID-19, como febre e fadiga, e se recuperar da infecção, a infectologista Jennifer Spicer, da Emory University, nos Estados Unidos, comenta que percebeu distorções em seu olfato, enquanto tomava um vinho tinto. “Tinha gosto de gasolina”, explica Spicer. Em seguida, ela verificou a garrafa e não encontrou nada de errado, mas o gosto de gasolina persistia na bebida. Além do vinho, Spicer conta que os aromas, anteriormente, prazerosos, como de alho e cebola refogados, são intoleráveis agora. Segundo seu relato, a carne também tem cheiro de podre, por exemplo.

Para muitos pacientes da COVID-19 que enfrentam a parosmia, comer alimentos comuns e ingerir alguns líquidos podem ser atividades desagradáveis e até repulsivas. Isso porque o olfato está intimamente ligado com o paladar e a primeira informação sensorial (o cheiro) acaba por influenciar as outras percepções de uma refeição, como é o caso da infectologista.

Por que a COVID-19 afeta o olfato?

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Embora médicos e pesquisadores ainda não tenham conseguido definir a proporção de casos da parosmia em pacientes da COVID-19, Justin Turner, médico da Universidade de Vanderbilt, aposta que seja "provavelmente um número significativo" de pacientes que enfrentem essas distorções entre os cheiros. Inclusive, esse sintoma é mais frequentemente observado em pessoas que estão se recuperando da COVID-19 e começando a recuperar o olfato —  caso tenham tido também anosmia —, explica Turner. 

“De muitas maneiras, ter uma parosmia no cenário da COVID-19 ou qualquer outra infecção respiratória viral que causa perda de cheiro, é, na verdade, uma coisa boa, porque sugere que você está fazendo novas conexões e que você está obtendo uma regeneração desse tecido olfatório e voltando ao normal”, comenta Turner. Em outras palavras, o agente infeccioso modificou algumas células ligadas ao olfato e, agora, o organismo está normalizando essas atividades.

“Uma especulação seria que, à medida que os neurônios receptores olfativos se recuperam, crescem novamente e se reconectam ao cérebro, eles não fazem isso perfeitamente”, acredita Danielle Reed, diretora do Monell Chemical Senses Center. Nesse processo, o cérebro ainda não entende que “um limão cheire a limão, ... Os neurônios vagam um pouco e não se conectam adequadamente. E assim o cérebro fica confuso sobre como interpretar essa informação”, pondera Reed.

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Mesmo que seja uma situação preocupante, especialistas explicam que pessoas com parosmia não devem entrar em pânico. Embora o processo de regeneração das células olfativas seja "altamente variável", segundo Turner, o fenômeno geralmente desaparece quando as pessoas recuperam a função olfativa. Nesses casos, é importante ter paciência.

Vale a pena fazer fisioterapia de cheiros?

Para acelerar a recuperação do olfato, há alguns exercícios e atividades que podem auxiliar nesse processo, como a fisioterapia de cheiros. Nesse caso, a ideia é estimular o nervo olfatório e as conexões cerebrais com aromas específicos. Para isso, a pessoa deve inalar diferentes cheiros, como café, vinagre e cravo, por cerca de 10 segundos com intervalo de 15 segundos entre cada inalação.

Mesmo que a pessoa ainda não sinta nenhum cheiro nos primeiros dias, essa prática pode trazer benefícios, segundo especialistas. Isso porque um nervo danificado tem uma boa chance de se reparar e o treinamento é uma das maneiras de acelerar esse processo.

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Pode parecer que esse sintoma da COVID-19 seja raro, mas, mesmo incomum, gripes e resfriados também podem afetar o nervo olfatório. Além disso, doenças nasais, como sinusites e rinites crônicas, podem alterar a percepção de cheiros. Até mesmo um trauma recente, como uma batida na cabeça ou no nariz, por exemplo, pode causar perda temporária do olfato.

Fonte: The Washington Post