Mito ou verdade: quem tem muita barba tem muita testosterona?
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
A barba costuma despertar a atenção — inclusive, pode ser um atrativo sexual — e muitos homens cultivam por anos este visual, considerado como "másculo". A barba também é vista como um potencial marcador de alta concentração do hormônio testosterona e carrega sinais de dominância e autoconfiança nos homens. No entanto, essa relação não é necessariamente verdadeira.
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Publicado na revista científica Archives of Sexual Behavior, um novo estudo não encontrou nenhuma relação entre a quantidade de pelos faciais e a autopercepção de dominância em homens e seus níveis de testosterona. A pesquisa foi liderada por membros do Instituto de Psicologia da Universidade de Wrocław, na Polônia.
Entenda a pesquisa
No estudo, os pesquisadores poloneses coletaram dados de 97 homens jovens e fisicamente ativos. Como muitos fatores podem influenciar os níveis de testosterona, os pesquisadores usaram diferentes técnicas para controlar as amostras no estudo. Por exemplo, a medição dos níveis de testosterona dos participantes só era feita entre 7h e 11h, já que os níveis do hormônio tendem a diminuir naturalmente ao longo do dia.
Além disso, os participantes foram orientados a não fumar, beber álcool ou fazer exercícios 24 horas antes do estudo, e também receberam recomendações para que evitassem comer ou escovar os dentes duas horas antes do teste — isto porque os níveis de testosterona foram medidos através de amostras de saliva.
Etapas do estudo sobre masculinidade
Na primeira etapa do estudo, os voluntários responderem algumas perguntas relacionadas à idade, peso, altura e detalhes sobre as suas barbas. Em seguida, os pesquisadores validaram as medidas das barbas, através de paquímetros digitais.
Numa outra etapa, a primeira amostra de saliva do voluntário foi coletada. Depois, os participantes realizaram uma atividade física — no caso, andar de bicicleta — e, após 12 minutos, uma segunda amostra de saliva foi coletada.
Neste intervalo de alguns minutos, os homens responderam a um novo questionário sobre sua autopercepção de dominância (questões psicológicas). Nele, os entrevistados tiveram que avaliar se concordavam com algumas afirmações, como "sou eu quem influencio os outros, e não ao contrário".
Afinal, a barba tem importância?
De fato, o estudo não identificou nenhuma evidência de que as barbas sejam indicadores confiáveis de um sinal de dominância do indivíduo ou de níveis elevados de testosterona. No entanto, não foi possível estabelecer nenhuma relação negativa. É como se a barba fosse indiferente a esses padrões e funcionasse meramente como adereço.
Por um lado, julgava-se a barba como um símbolo de masculinidade — o que demonstrou ser uma "mentira" biológica. Por outro lado, algumas interpretações enxergavam a barba como uma característica "enganadora". Seria como se a barba fosse usada para mascarar o fato de que aquele indivíduo tinha uma baixa concentração de testosterona e alto nível de insegurança.
Para ilustrar essa desconfiança, um exemplo de "sinalização desonesta" — quando algo apenas parece ser — é o caranguejo-violinista (Uca pugnax) macho. Quando perde a sua garra, ele consegue criar uma ainda maior que a anterior. No entanto, a nova garra é mais fraca em termos de força. Independente disso, a estética confunde predadores e pode ser uma aliada na reprodução.
A teoria dos autores é que a presença (ou ausência) dos pelos faciais masculinos funcione apenas como uma estratégia estética, baseada na cultura. Afinal, elas podem ser facilmente removidas. Dessa forma, a comparação precisaria ser feita entre homens que nunca desenvolveram barbas e aquelas que a têm, o que não ocorreu neste estudo.
"Os resultados mostraram que o comprimento da barba (medido diretamente e autorrelatado) não estava relacionado aos níveis de testosterona ou dominância", afirmam os autores. “Nós encorajamos fortemente outros estudiosos a replicar nossas descobertas com amostras maiores, para que futuras meta-análises possam elucidar as associações entre barbas, níveis de testosterona e dominância”, concluem os pesquisadores.
Para acessar o estudo completo, publicado na revista científica Archives of Sexual Behavior, clique aqui.
Fonte: ScienceAlert