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Ter barba aumenta as chances de pegar COVID-19?

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Shttefan/Unsplash
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Desde que passou a ser uma preocupação a nível mundial, a COVID-19 tem se mostrado como um verdadeiro enigma para a medicina, que se desdobra dia após dia para desvendar o quanto possível dessa doença. Em meio a isso, uma das perguntas que se faz é: ter barba aumenta as chances de se infectar?

Antes de focar na COVID-19 em si, é preciso entender a relação entre a barba e os vírus e bactérias. Um estudo publicado em 2018 na revista científica European Radiology apontou que a barba é capaz de abrigar uma carga significativamente maior de micróbios e mais cepas patogênicas humanas do que os pelos de cães, por exemplo.

Na época, a equipe de pesquisadores coletou amostras bacterianas de 30 cães e compararam com as amostras de 18 homens barbudos. As amostras das barbas contemplavam mais micróbios do que as amostras dos pelos caninos.

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"Logo, podemos inferir que a barba facilita a presença de microrganismos", observa ao Canaltech Ana Elisa Almeida, professora de infectologia do Jaleko, plataforma de streaming com conteúdos voltados aos estudantes de medicina.

Dra. Alice Jaruche, dermatologista, completa: "A barba pode sim aumentar o risco de doenças fúngicas e bacterianas, já que os pelos dificultam a higienização local e torna-se um local propício a proliferação pela umidade e temperatura local".

Barba e COVID-19

Mas em relação à COVID 19, a infectologista afirma que, apesar da maior necessidade de estudos sobre o tema e de não ter orientações específicas, é possível inferir que pessoas com barba podem ter maior hábito de colocar a mão no rosto, facilitando a transmissão, assim como podem ter dificuldade de higienização da área.

"Porém, vale frisar aqui, que a preocupação principal não deve ser com a barba em si, mas sim com a sua adequada higienização, com garantia de ajuste da máscara ao rosto, assim como a realização de medidas básicas de precaução contra a COVID-19, tais como higienização das mãos e distanciamento social. Não queremos reforçar a pogonofobia [medo de barba]", afirma a especialista.

Enquanto isso, Dra. Alice Jaruche reforça que os estudos mostram que a barba pode sim atrair mais bactérias do que um rosto liso, e que não existem estudos com relação ao acúmulo de vírus na barba, mas é provável que o uso da barba aumente o risco de transmissão de COVID-19 por alguns fatores:

"A barba fica próxima aos orifícios, boca, olhos e nariz e o hábito de manipulá-la é frequente. A barba pode atrapalhar na oclusão da máscara, diminuindo a eficácia da mesma e pode sim ser um local onde os vírus se depositam", declara Alice.

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Outra questão em relação à barba e COVID-19 é dificultar o ajuste da máscara ao rosto. O CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças, órgão de saúde dos EUA) recomenda que as pessoas com barba façam uma ou mais das seguintes recomendações: raspar a barba, aparar a barba rente ao rosto, usar um ajustador de máscara, usar uma máscara descartável por baixo de uma máscara de pano que tenha várias camadas de tecido.

"A máscara de pano deve empurrar as bordas da máscara interna confortavelmente contra o rosto e a barba, facilitando o ajuste. O CDC relata que máscaras para pessoas com barba estão sendo avaliadas e informações serão liberadas quando as máscaras estiverem disponíveis", aponta a infectologista. O órgão de saúde inclusive compartilhou uma foto com vários estilos de barba, apontando quais são recomendados e quais não são:

De qualquer forma, Ana Elisa ressalta que, até o momento, não existe um estudo que correlacione diretamente a presença da barba com maior transmissibilidade da COVID- 19. "Contudo, o que já é certo e o CDC reforça é que garantir a vedação do respirador e da máscara é uma parte vital das práticas de proteção respiratória. Logo, seguir as recomendações em relação à barba para garantir a vedação da máscara é fundamental", afirma a especialista.

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"As barbas podem dificultar o ajuste da máscara ao rosto. E isso pode facilitar a transmissão, uma vez que se o ajuste não estiver adequado, gotículas respiratórias contendo o vírus podem entrar e sair pelas bordas da máscara. Para ajudar a evitar o vazamento de ar, as máscaras devem se ajustar confortavelmente ao rosto", alerta.

Dra. Alice, por sua vez, explica que os profissionais de saúde tem a orientação de usar proteger os cabelos com toucas e remover a barba para aumentar a segurança. "A população em geral deve higienizar mais vezes a barba, com agua e sabão, não usar álcool na região, pelo risco de pegar fogo e de inalação excessiva do álcool. Se o tipo da barba prejudicar a oclusão da máscara, ela deve ser aparada", declara.

"No ato de beijar alguém, encostar em algum objeto, a barba pode ser um local mais propício de transmissão nesse sentido", reflete a dermatologista.

Outros estudos

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O Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (em inglês: National Health Service - NHS) fez uma pesquisa com os profissionais de saúde que tinham barba, para entender os desafios em relação aos equipamentos de proteção individual (EPI) e os testes de ajuste da máscara, para garantir que uma vedação segura seja formada para fornecer proteção adequada.

Logisticamente, segundo esse estudo, é difícil realizar testes de ajuste em todo o corpo clínico em um curto período de tempo e a urgência do teste em uma pandemia torna isso problemático. Muitos indivíduos não conseguiram passar no teste devido à presença de pelos faciais. 

"Muitos médicos foram solicitados a remover a barba durante a pandemia de COVID-19. A barba pode ser mantida como um estilo para algumas pessoas. No entanto, para muitas, é um aspecto sagrado da prática religiosa", observou o estudo.

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Em outubro de 2020, pesquisadores do Reino Unido realizaram um estudo — publicado no Journal of Hospital Infection — pensando em quem precisa manter a barba por motivos religiosos ou algo assim. Basicamente, o grupo criou uma vedação extra para garantir a eficácia da máscara. Os cientistas apontaram que a técnica foi eficiente em 30 dos 32 homens que participaram do estudo.

O material, que constitui um tecido elástico para cobrir os pelos, cobre a barba desde o queixo, bochechas e fecha com um nó sobre a cabeça. A técnica foi batizada de Singh Thattha, sendo que a segunda palavra se refere ao material utilizado. A ideia surgiu, primeiramente, de um cirurgião de transplantes de Manchester, que primeiro usou uma mistura de poliéster com algodão para reforçar a máscara. Assim, foi feita uma adaptação, com tecidos plásticos usados em práticas esportivas, como elásticos de Ioga.

No entanto, os próprios autores reconheceram, na época, que o método foi testado em uma pequena quantidade de pessoas. Ainda assim, garantem que os resultados foram encorajadores. 

"Máscaras faciais com filtro de ajuste apertado são equipamentos de proteção respiratória essenciais durante procedimentos de geração de aerossol no ambiente da COVID-19 e exigem um teste de ajuste para avaliar a competência de vedação da máscara facial. Os pelos faciais são considerados um impedimento para se obter uma vedação competente", diz o estudo.

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"Desenvolvemos a cobertura para barba sob a máscara, que obteve uma taxa de aprovação de 92,6% pelo teste de ajuste qualitativo e 100% pelo quantitativo em indivíduos com barba cheia. Para indivíduos para os quais não é possível fazer a barba, a técnica de Singh Thattha pode oferecer uma solução eficaz para usar máscaras respiratórias com segurança", conclui.

 

Fonte: Com informações de European Radiology, PubMed, MedXriv, CDC