Antigo DNA de neandertais pode ter relação com o autismo
Por Nathan Vieira • Editado por Luciana Zaramela |
O DNA dos neandertais pode ter relação com as chances de autismo. É o que sugere um artigo publicado na revista Molecular Psychiatry. Para chegar a isso, a equipe da Loyola University New Orleans usou dados de sequenciamento do banco de dados Simons Foundation Powering Autism Research (SPARK), com foco em indivíduos com o TEA (transtorno do espectro autista) e seus irmãos não afetados.
- Neandertais se diferenciaram dos humanos há cerca de 400 mil anos
- Neandertais e humanos tiveram relações sexuais por um curto período
A ciência já identificou algumas contribuições genéticas dos Neandertais para características como função imunológica, pigmentação da pele e metabolismo, mas o papel desses genes antigos no desenvolvimento do cérebro ainda precisa ficar mais claro.
É aí que o novo estudo entra: os pesquisadores queriam preencher essa lacuna e entender se o DNA neandertal é mais prevalente em indivíduos com autismo, em comparação com os demais.
O estudo rendeu frutos: os pesquisadores descobriram que os indivíduos com autismo tinham uma prevalência maior de variantes genéticas raras derivadas do Neandertal.
São variantes raras, que ocorrem em menos de 1% da população. Mas os pesquisadores pedem atenção: isso não significa que as pessoas com autismo têm mais DNA neandertal do que as outras. É tudo mais complexo do que isso, principalmente se levarmos em conta que o genoma humano é composto por mais de 3 bilhões de pares.
"A grande maioria dos nossos genomas é bastante idêntica entre si. Mas há alguns lugares no genoma humano que são locais de variação. O DNA neandertal fornece parte dessa variação e algumas dessas variantes são comuns (1% ou mais da população tem essa variante específica) ou podem ser raras (menos de 1% tem essa variante)”, explicam os autores.
"Descobrimos que as pessoas com autismo, em média, têm mais variantes raras do Neandertal, e não que tenham mais DNA do Neandertal em geral. Isso significa que, embora nem todo o DNA Neandertal esteja necessariamente influenciando a suscetibilidade ao autismo, um subconjunto o faz", conclui o estudo.
Em contraste com as variantes raras, o estudo descobriu que as variantes comuns derivadas do Neandertal eram menos prevalentes em indivíduos com autismo.
As descobertas têm implicações significativas para a nossa compreensão do autismo e suas bases genéticas, e abre portas para compreender melhor o neurodesenvolvimento em si.
Autismo e genética
De acordo com o Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETHZ), na Suíça, e o Instituto de Biotecnologia Molecular (IMBA), existem 36 genes diretamente relacionados com o autismo.
Os institutos apontam que as alterações genéticas típicas do autismo impactam algumas células consideradas “fundadoras”, e que dão origem aos neurônios.
A descoberta atual de que variantes genéticas raras herdadas de neandertais podem estar mais presentes nas pessoas com autismo nos ajuda a compreender a complexidade da genética e a diversidade de nossa ancestralidade, e não determinam valor ou capacidade, mas sim revelam a riqueza da evolução humana.
Fonte: Molecular Psychiatry