Amodiaquina | Conheça a "prima" da cloroquina, já em testes contra COVID-19
Por Natalie Rosa |
Os testes com a hidroxicloroquina provocaram polêmica no mundo inteiro, não muito tempo depois do início da pandemia. Com isso, muitas pessoas acabaram fazendo o seu uso por conta própria e algumas autoridades defenderam o medicamento mesmo sem comprovação científica de sua eficácia contra a COVID-19. Agora, uma "prima" da cloroquina, a amodiaquina, deve ser apresentada como um novo possível tratamento contra a doença.
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Pesquisadores começaram a fazer experimentos com a amodiaquina em hamsters, trazendo respostas positivas, ao menos inicialmente. Os cientistas contam que trataram os animais com a amodiaquina por quatro dias, para depois compará-los com os roedores que não foram tratados com nenhum outro medicamento.
Então, os que receberam amodiaquina ficaram com 70% menos material genético do novo coronavírus em seus pulmões do que aqueles que não foram tratados. Já em um segundo estudo, hamsters saudáveis foram medicados com a amodiaquina e colocados em um gaiola com hamsters doentes, com o resultado mostrando que 90% deles carregavam menos material viral nos pulmões.
O estudo foi publicado na última quarta-feira (19) na plataforma científica bioRxiv, mas ainda não passou por revisão. Os pesquisadores deixam claro que os resultados obtidos nos testes com hamsters ainda estão bem distantes de como pode ser com os humanos.
O que é a amodiaquina?
A amodiaquina foi sintetizada em meados da década de 1940, quando cientistas estavam criando versões artificiais do composto antimalárico quinina, que pode ser encontrada na árvore cinchona. O medicamento conta com uma estrutura molecular bastante semelhante à cloroquina e hidroxicloroquina, que foram criadas na mesma época. Nos anos 1970, a amodiaquina foi testada em macacos-coruja antes de ser usada em humanos, e acabou sendo um tratamento alternativo para cepas resistentes à cloroquina. Assim como a hidroxicloroquina, a amodiaquina foi promissora contra o vírus original da SARS e contra o vírus relacionado à Síndrome Respiratória do Oriente Médio.
Esses medicamentos, no entanto, possuem uma diferença grande, segundo o microbiologista e um dos autores do estudo, Benjamin tenOever, da escola de medicina Icahn School, de Nova York. O especialista define a amodiaquina como a "mais suja" entre esses primos, pois os seus efeitos nas células se espalham ainda mais, atingindo uma variedade maior de alvos moleculares. Devido aos resultados não-satisfatórios dos testes da hidroxicloroquina, tenOever não acredita que deva existir uma empolgação com o "novo" remédio.
O especialista conta que a amodiaquina foi testada também em células humanas pulmonares, mostrando que o medicamento é capaz de reduzir os níveis de vírus inofensivos que carregam a mesma proteína espinhosa do novo coronavírus. Esse resultado, no entanto, não convence outros especialistas, uma vez que são vírus diferentes. Eles afirmaram não haver evidências suficientes sobre a eficácia do remédio para uma garantia de testes em humanos.
A fim de curiosidade, quando outros pesquisadores tentaram fazer testes com a cloroquina ou hidroxicloroquina em hamsters e células dos pulmões, os resultados foram inconclusivos. Então, para esclarecer isso, a equipe de tenOever conduziu uma comparação direta entre a amodiaquina e a hidroxicloroquina em hamsters, usando um grupo controle comum. Enquanto a amodiaquina reduziu a quantidade de material viral, a hidroxicloroquina não teve esse efeito.
Mais uma polêmica?
Segundo Sunil Parikh, pesquisador da malária na Escola de Saúde Pública de Yale, nos Estados Unidos, que faz parte de um outro grupo de estudos da amodiaquina contra a COVID-19, aponta que todos os hamsters usados no estudo de tenOever foram medicados no dia anterior à exposição ao coronavírus. Por isso, o profissional acredita que não há como saber o que aconteceria com um animal que já estivesse doente.
O estudo também intrigou o especialista em doenças infecciosas e investigador clínico Isaac Bogoch, do instituto de pesquisa do Hospital Geral de Toronto, no Canadá. "Eu acho que (o estudo) é completamente interessante. Mas se o resultado disso for pessoas estocando amodiaquina e se automedicando com isso, tendo médicos alegando que encontraram uma cura, obviamente essa é a resposta errada e nós já estivemos lá e já fizemos isso", declara Bogoch.
As polêmicas que surgiram com a hidroxicloroquina podem acontecer novamente com a amodiaquina, ou se tornarem ainda mais desastrosas — por se tratar da segunda combinação contra a malária mais comum. Para Peter Olumese, médico do Programa Global de Malária da Organização Mundial de Saúde (OMS), se a situação com a amodiaquina repetir os efeitos da popularidade da hidroxicloroquina, haverá um aumento da mortalidade pela malária.
Fonte: Wired