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Ameaça global de coronavírus pode durar até 2025; entenda

Por| 17 de Abril de 2020 às 17h06

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Miguel Á. Padriñán/Pixabay
Miguel Á. Padriñán/Pixabay

Em apenas alguns meses, a COVID-19 culminou nessa pandemia que tem preocupado toda a população mundial, e ainda continua a se espalhar. Frente a notícias frequentes em torno dessa doença, muitos acabam se questionando sobre os verdadeiros parâmetros e a expectativa de solução.

O SARS-CoV-2, o vírus que causa a doença, também é notável: há cinco meses, era um organismo desconhecido pela ciência. Atualmente, é objeto de estudo em uma escala sem precedentes. Projetos de vacinas proliferam, testes de medicamentos antivirais continuam sendo lançados e novos testes de diagnóstico já começam a surgir.

De acordo com o virologista Edward Holmes, da Universidade de Sydney, na Austrália, esse vírus provavelmente pulou de um morcego para outro animal, e esse outro animal provavelmente estava em contato com um ser humano. "E se o animal tem um vírus e estamos interagindo com ele, há uma boa chance de o vírus pegar na pessoa. Então essa pessoa vai para casa e transmite para outra pessoa, e nós temos um surto", explica.

Quanto à transmissão do SARS-CoV-2, isso ocorre quando as gotas de água que contêm o vírus são expelidas por uma pessoa infectada em uma tosse ou espirro. As partículas infectadas pelo vírus são inaladas por outras pessoas e entram em contato com as células que revestem a garganta e a laringe. Essas células, por sua vez, têm um grande número de receptores em suas superfícies. "Esse vírus possui uma proteína de superfície que é preparada para bloquear esse receptor e inserir seu RNA na célula", diz o virologista Professor Jonathan Ball Universidade de Nottingham.

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Os médicos que examinam pacientes em recuperação de uma infecção por COVID-19 estão encontrando níveis razoavelmente altos de anticorpos neutralizantes no sangue. Esses anticorpos são produzidos pelo sistema imunológico e revestem um vírus invasor em pontos específicos, bloqueando sua capacidade de invadir as células.

"Está claro que respostas imunológicas estão sendo montadas contra a COVID-19 em pessoas infectadas", diz o virologista Mike Skinner, do Imperial College London. "E os anticorpos criados por essa resposta fornecerão proteção contra futuras infecções — mas devemos observar que é improvável que essa proteção seja vitalícia".

Quanto tempo vai durar?

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A maioria dos profissionais da área da saúde acredita que a imunidade contra a COVID-19 durará apenas um ano ou dois. "Isso está alinhado com outros coronavírus que infectam seres humanos. Significa que, mesmo que a maioria das pessoas acabe sendo exposta ao vírus, ainda é provável que [a COVID-19] se torne endêmica — o que significa que veríamos picos de infecção por essa doença".

O vírus estará conosco por algum tempo, em suma. Alguns pesquisadores sugeriram que poderia se tornar menos mortal. Em contrapartida, outros argumentaram que poderia sofrer mutação para se tornar mais letal.  No final, será o desenvolvimento e a implantação de uma vacina eficaz que nos libertará da ameaça da COVID-19, diz Skinner.

Vacina

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Na sexta-feira passada (10), a revista Nature informou que 78 projetos de vacinas foram lançados em todo o mundo — com outros 37 em desenvolvimento. Entre os projetos em andamento, está um programa de vacinas que está em fase de testes na Universidade de Oxford, outros dois em empresas de biotecnologia dos EUA e mais três em grupos científicos chineses. Muitos outros desenvolvedores de vacinas dizem que planejam iniciar testes em humanos este ano. A Sanofi também firmou parceria com a GSK para desenvolver uma vacina.

Essa resposta notável gera esperanças de que uma vacina contra a doença possa ser desenvolvida em um tempo bastante curto. No entanto, as vacinas exigem estudos de segurança e eficácia em larga escala. Milhares de pessoas receberiam a vacina em si ou um placebo para determinar se as primeiras eram eficazes na prevenção da infecção pelo vírus que teriam encontrado naturalmente. Isso, inevitavelmente, é um processo demorado.

Como resultado, alguns cientistas propuseram uma maneira de acelerar o processo — expondo deliberadamente voluntários ao vírus para determinar a eficácia de uma vacina. "Essa abordagem não apresenta riscos, mas tem o potencial de agilizar os testes de vacinas candidatas por muitos meses", diz Nir Eyal, professor de bioética da Rutgers University.

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A importância dos testes

Em meio a tudo isso, o que as pessoas mais querem saber é até quando essa situação permanece, e quanto tempo vai levar para que tudo se normalize. De acordo com Domingos Alves, da Universidade de São Paulo, “muito provavelmente o coronavírus causará ondas nos próximos dois anos. A questão será nossa capacidade de testar o maior número de pessoas, saber quantos são os infectados, isolar os casos”.

Segundo ele, a curva do Brasil está mais íngreme que a dos Estados Unidos e estamos ainda na primeira metade da escalada, cujo pico poderá ser alcançado somente em maio, num cenário otimista e, em novembro, num pessimista.

Enquanto isso, David Wallace-Wells (especialista em como os impactos das mudanças climáticas afetam a vida humana), da New York Magazine, observa que o ideal seria identificar os infectados, testá-los e isolá-los (além de isolar seus parentes), mas que com o atual cenário de transmissão comunitária, isso não é mais possível. “Os atuais bloqueios oferecem a oportunidade de ganhar tempo para acelerar um regime abrangente de testes”.

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Mais 4 anos?

Pesquisas sugerem que o distanciamento social pode ser necessário intermitentemente até 2022. Segundo um estudo publicado na Science, embora o distanciamento social único possa suprimir casos críticos dentro da capacidade hospitalar, a infecção ressurge assim que essas medidas forem suspensas. Isso sobrecarregará os hospitais na medida em que o distanciamento social precise ser mantido intermitentemente até 2022.

Entretanto, o novo estudo de modelagem indica que a incidência total do vírus pode chegar até 2025 e dependerá crucialmente da duração da imunidade humana — sobre a qual os cientistas atualmente sabem muito pouco, quando confrontado o vírus. Os pesquisadores dizem que estudos sorológicos longitudinais são urgentemente necessários para determinar a situação da imunidade da população, se ela diminui e o quanto é que fica essa diminuição.

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Eles relatam que, em todos os cenários simulados, incluindo distanciamento social único e intermitente, as infecções surgem quando as medidas simuladas de distanciamento social são afrouxadas e a população volta a conviver. A análise indica que quando o distanciamento social é relaxado, um intenso surto pode ocorrer, sobrepondo-se à temporada de gripe e excedendo a capacidade dos hospitais.

Fonte: The Guardian, New York Magazine, O Globo, Science