Publicidade
Economize: canal oficial do CT Ofertas no WhatsApp Entrar

Afinal, existe um "gene gay" no DNA humano? Veja o que diz a ciência

Por| Editado por Luciana Zaramela | 24 de Agosto de 2021 às 20h40

Link copiado!

Peggy und Marco Lachmann-Anke/Pixabay
Peggy und Marco Lachmann-Anke/Pixabay

As primeiras sequências do genoma humano somente foram publicadas em fevereiro de 2001, ou seja, este ainda é um campo novo para a ciência e muitas descobertas são necessárias. Inclusive, um dos desafios é não limitar o estudo genético apenas às populações brancas, o que acontece na maioria das vezes. Nesse cenário, pesquisadores ainda estão longe de compreender as sutilezas da relação entre os genes, mas é possível adiantar que, até hoje, não foi encontrado nada como um "gene gay" no DNA humano.

Não é porque não foi possível encontrar essas evidências que pesquisas não buscam explicações científicas para o comportamento da sexualidade. No entanto, ligar um comportamento complexo à genética é extremamente difícil e a tecnologia atual parece estar longe dessa realidade. Recentemente, duas pesquisas reacenderam o debate sobre a questão.

Continua após a publicidade

No caso da homossexualidade, a principal ideia é que ela envolva tanto aspectos hereditários (os genes) quanto comportamentais. Por exemplo, uma pesquisa da Universidade de Boston, feita na década de 1990, sugeriu que gêmeos idênticos são mais propensos a compartilhar uma mesma orientação sexual do que gêmeos bivitelinos (fraternos) ou irmãos adotivos. Isso parece indicar que há existência de fatores genéticos na questão.

Pesquisa sobre a genética da homossexualidade

Para alguns biólogos, a genética da homossexualidade pode ser um paradoxo. Isso porque, em tese, pessoas que se atraem por outras pessoas do mesmo sexo, provavelmente, não terão filhos biológicos. Dessa forma, genes que predispõem as pessoas à homossexualidade, raramente, seriam transmitidos às gerações futuras. No entanto, estudos feitos tanto em humanos quanto em animais já demonstraram que a homossexualidade é um fato.

Publicado por pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália, um novo estudo identificou alguns padrões genéticos que podem estar associados ao comportamento homossexual. No entanto, esses mesmos padrões, quando observados em outros grupos, podem auxiliar as pessoas a encontrarem parceiros de sexo diferente e, consequentemente, a se reproduzirem.

Continua após a publicidade

Segundo os autores do artigo publicado na revista Nature Human Behavior, essa descoberta pode ajudar a explicar o porquê dos genes que predispõem as pessoas a terem relações com pessoas do mesmo sexo poderem continuar a ser transmitidos. No entanto, está análise está longe do consenso científico.

Entendendo o estudo 

A pesquisa foi liderada pelo geneticista evolucionário Brendan Zietsch, da Universidade de Queensland. No levantamento, foram usados dados genéticos de um extenso estudo do governo britânico sobre genética, o UK Biobank, e dados de uma empresa norte-americana de testes genéticos, a 23andMe. Por isso, todos os participantes moravam nos EUA ou no Reino Unido e eram descendentes de europeus, em algum nível.

Outro fator limitante do estudo é que esses participantes foram perguntados apenas se já tinham feito sexo com outras pessoas do mesmo sexo e o número de parceiros sexuais. A partir dessa pergunta, 477.522 pessoas disseram ter feito sexo pelo menos uma vez com alguém do mesmo sexo e outras 358.426 pessoas que disseram que só fizeram sexo com pessoas do sexo oposto. Em nenhum momento, os participantes foram perguntados sobre a sua orientação sexual — gay, lésbica ou bissexual. No levantamento, também não foram consideradas pessoas transsexuais ou intersexuais.

Continua após a publicidade

A partir de pesquisas anteriores e da nova análise, os cientistas australianos observaram que pessoas que tiveram pelo menos um parceiro do mesmo sexo tendem a compartilhar padrões com pequenas diferenças genéticas espalhadas por todo o genoma. Entretanto, nenhuma dessas variações parecia afetar o comportamento sexual por si só, apoiando pesquisas anteriores que não encontraram nenhum sinal do "gene gay".

Em seguida, Zietsch procurou testar se esses padrões genéticos poderiam fornecer uma vantagem evolutiva. De acordo com a equipe, aqueles que mantiveram apenas relações com pessoas do sexo oposto e que tiveram vários parceiros tendiam a compartilhar alguns dos marcadores com o grupo de pessoas que tiveram apenas parceiros do mesmo sexo. "Simulações de computador sugerem que essa vantagem de acasalamento para alelos associados com SSB [pessoas que fazem sexo com outras pessoas do mesmo sexo] poderia ajudar a explicar como ela foi mantida evolutivamente", afirmam os autores.

De forma bastante subjetiva, os pesquisadores também descobriram que pessoas que tiveram encontros com outras do mesmo sexo compartilharam marcadores genéticos similares com pessoas que se descreveram como dispostas a correr riscos e abertas para novas experiências.

Continua após a publicidade

Até onde a genética pode explicar a homossexualidade?

Anterior ao estudo australiano e publicado em 2019 na revista Science, outra pesquisa científica compartilhou dos mesmos bancos de dados (UK Biobank e 23andMe). Neste estudo, os autores concluíram que "o comportamento sexual do mesmo sexo é influenciado não por um ou alguns genes, mas por muitos. A sobreposição com influências genéticas em outras características fornece insights sobre a biologia subjacente do comportamento sexual do mesmo sexo, e a análise de diferentes aspectos da preferência sexual ressalta sua complexidade".

A partir dessa investigação, pesquisadores de diferentes institutos de ciências do globo verificaram, a partir da base genética, cinco pontos no genoma humano ligados ao comportamento sexual com parceiros do mesmo sexo. No entanto, esses participantes também não foram questionados especificamente sobre sexualidade e os cientistas pontuam que nenhum dos marcadores é confiável o suficiente para prever a orientação sexual de alguém. Além disso, "não existe um 'gene gay'”, destacou a principal autora do estudo e pesquisadora do MIT, Andrea Ganna.

Segundo a análise, foi possível estimar que até 25% do comportamento sexual pode ser explicado pela genética. O restante pode ser influenciado tanto por fatores ambientais quanto culturais. Dessa forma, é possível concluir provisoriamente que, como outras características comportamentais, o comportamento não heterossexual é poligênico.

Continua após a publicidade

Para acessar o estudo australiano, clique aqui. Já para conferir o estudo que defende a não existência de um "gene gay", clique aqui.

Fonte: Nature (1) e (2)